Um fábula de Monteiro Lobato para suavizar os danos da pandemia
Primeiramente, a todis, todas e todos, como vocês estão?
Use máscara, lave as mãos…
Para todas as crianças da audiência da Vila de Utopia. Em especial, pra terceira geração lage da Silveira: Maria Laura, Pedro, Nina, Miguel, Joana (in memoriam), Antonio, Hugo, David, Nicolas e finalmente o George, que está na estrada…
A fábula do Lobato é para as crianças, os dimenor, os dimaior, as marmanjas, os grandões. É uma escrita suave, harmoniosa e curta que contribui pro descanso da cabeça. (Cristina Silveira)
A formiga boa
Monteiro Lobato
Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé de um formigueiro. Só parava quando cansadinha; e seu divertimento então era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.
Mas o bom tempo passou e vieram as chuvas. Os animais todos, arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas.
A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.
Manquitolando com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro. Bateu – tic, tic, tic.
Apareceu uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de paina.
– Que quer? – perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.
– Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu vivo no relento.
A formiga olhou-a do alto a baixa.
– E que fez durante o bom tempo que não construiu uma casa? A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois dum acesso de tosse:
– Ah!… exclamou a formiga recordando-se. Era você então quem cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?
Isso mesmo, era eu…
– Pois entre amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraia e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: que felicidade termos como vizinha tão bela cantora! Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.
A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de Sol.
Belo texto, inverso do que sempre ouvimos que a cigarra era a tola na história, não trabalhava e a formiga que trabalhava todo o tempo não deveria dividir nada coma cigarra. O que nos resta é mesmo a solidariedade desde sempre e agora mais ainda.
Obrigada Cris por nos proporcionar um alento neste momento nebuloso.