Sucessão na Câmara está aberta, assegura vereador, que diz não aceitar ingerências da Prefeitura
O vereador André Viana Madeira (Podemos) diz que a sucessão na Câmara Municipal está aberta e nenhum candidato pode dizer que já ganhou por ter apoio do governo municipal. Viana admite que negocia com vereadores da situação que ensaiam se rebelar contra a ingerência do governo – e que podem compor chapa com os dois vereadores oposicionistas.
Para o vereador, os dois poderes são independentes – e não cabe ao executivo meter o bedelho onde não é chamado. Mas na prática não é assim.
Quem assume abertamente que o governo deve interferir na sucessão é o vereador Paulo Soares (PRB) que teme um racha na base governista que possa fortalecer a minúscula bancada oposicionista, hoje composta pelos vereadores Weverton “Vetão” Santos Andrade (PSB) e Reginaldo das Mercês Santos (PTB).
Na sessão do dia 30 de outubro, e também em entrevista à imprensa, Soares pede taxativamente que a Prefeitura indique um candidato para que a bancada situacionista feche com ele, sem titubeio.
“Que a sucessão seja articulada pelo governo, que precisa definir quem é o seu candidato e assim impedir que ocorra uma disputa entre vereadores da base governista”, propôs.
André Viana considera que a declaração acabou por antecipar o processo sucessório, o que lamenta. É que, segundo ele, há questões mais importantes para os vereadores se debruçarem na presente conjuntura.
Para o vereador, não se trata apenas de escolher quem vai presidir a Câmara, mas de perceber no processo sucessório a oportunidade única de se discutir os meios para fortalecer o legislativo itabirano. “Podemos, democraticamente, formar uma chapa que talvez surpreenda o executivo”, admite.
A expectativa é quebrar o atual bloco hegemônico na Câmara. Viana não se preocupa se essa articulação fortalecer o minguado bloco oposicionista. “O que importa é que a Câmara saia fortalecida como poder independente”, advoga.
Pavão
São três candidaturas colocadas até agora: Allaim, Carlos Henrique Filho (Podemos) e Reinaldo Lacerda (PHS), que ensaia rebeldia para compor uma terceira via com os vereadores da oposição e “dissidentes”.
André Viana garante que não sairá candidato, mas admite que participa das negociações nos bastidores. E faz uma advertência: “Quem muito aparece e muito quer, acaba nada tendo.”
Segundo ele, a relação de harmonia do executivo com o legislativo não pode ser traduzida em servidão. “Um poder não foi feito para servir ao outro”, afirma, sem contudo admitir que o governo esteja interferindo no processo sucessório.
“Até o presente momento isso não aconteceu e tem de ser assim”, diz ele, que até admite que o prefeito Ronaldo Magalhães (PTB) tenha o seu candidato, mas sem impor aos vereadores a sua predileção.
Articulador
O presidente da Câmara, Neidson Freitas também assegura que o governo não intervém – e que está indiferente na disputa.
“Vejo a disputa (na base governista) com naturalidade”, considera. “São três nomes já colocados e todos têm condições de presidir esta Casa”, admite.
Para ele, é natural em qualquer disputa que haja conversas e posicionamentos diferentes. “A minha função é acertar as arestas para que a disputa seja a mais tranquila possível”, pondera.
Embora seja possível alterar o regimento para que se candidate à reeleição, Neidson assegura que isso não irá ocorrer. “A renovação é salutar para o legislativo. Vou continuar cumprindo a minha missão como vereador.”
Vereador dizer que não aceita ingerência da Prefeitura é só jogo de cena, diz “Garganta Profunda”
Como diz uma fonte que há mais de 20 anos acompanha em posição privilegiada a política itabirana, principalmente a relação entre os poderes executivo e legislativo, é só jogo de cena essa conversa de vereador dizer que não irá aceitar ingerência da Prefeitura no processo de sucessão na Câmara Municipal.
“Na prática, invariavelmente, o executivo dá as cartas”, assegura. Segundo recorda essa fonte, foi o que ocoreu na eleição de Neidson Freitas, quando a articulação do governo se revelou decisiva.
Os vereadores da situação negociam para formar uma única chapa, enquanto a oposição aparentemente cresce buscando votos de vereadores da base e que ameaçam abrir “dissidência”. Mas pode dar em nada, prevalecendo o interesse governista.
“No fim, invariavelmente o resultado é o desejado pelo governo, que tem a chave do cofre e a caneta que nomeia cabos eleitorais em cargos comissionados”, diz a mesma fonte.
Para ela, a tendência para a sucessão na presidência da Câmara não mudou. “O vereador Allaim deve ser o ungido, até porque foi preterido na última eleição.”
Isso teria ocorrido a partir de uma articulação política que teve participação decisiva do governo – e que foi deflagrada antes mesmo de tomar posse em janeiro do ano passado. A conferir para ver se a história irá se repetir.
Foi a partir dessa articulação bem urdida pelo governo que Neidson Freitas assume a presidência da mesa diretora do legislativo itabirano para um mandato de dois anos, que expira em 31 de dezembro.
E, como “prêmio”, no ano passado Allaim assume a liderança do governo na Câmara, função que o vereador Carlos Filho passou a ocupar desde o início do ano.