Sobre filmes concorrentes ao Oscar para assistir na Netflix

Fotos: Divulgação

Daniel Cruz*

Volto a escrever sobre o Oscar, dessa vez focando nos filmes que estão na Netflix.

Lembro que estou analisando só a lista de melhor filme do Oscar. Isto é, não vou falar de “A filha perdida”, “A mão de Deus”, “Tick tick… Boom!”, “Three songs for Benazir”, nem de “A sabiá sabiazinha”, muito embora todos esses também estão no serviço de streaming da Netflix. Talvez ainda escrevo sobre esses filmes depois.

Aqui escreverei apenas sobre os dois concorrentes a melhor filme que são os já esperados, amados e odiados “Ataque dos cães” e o hypado “Não olhe pra cima”.

Para os apostadores, “Ataque dos cães” é uma boa escolha a favorito, embora eu ainda ache que vai dar “Belfast”.

Já “Não olhe pra cima” foi um sucesso de visualizações, tanto pelo elenco estrelado quanto pelas críticas fortes e até cômicas ao comportamento de líderes diante de uma tragédia.

Vamos lá?

Ataque dos cães 

Sinopse: Um fazendeiro durão trava uma guerra de ameaças contra a nova esposa do irmão e seu filho adolescente, até que antigos segredos vêm à tona.

O que eu achei: Simplesmente genial. O filme foi baseado no livro “The power of the dogs” que já teve seus direitos adquiridos para virar filme várias outras vezes e os cineastas desistiam tamanha a dificuldade de adaptar os conflitos internos e psicológicos em uma linguagem visual de cinema.

Tá, tudo bem, eu sei que é lento e não é pra todo mundo. Também sei que ele não deixa muito claro tudo que está acontecendo. Mas, pra mim, é aí que mora a genialidade.

A diretora conseguiu fazer um faroeste invertido, onde os tiros sejam olhares já que nenhuma bala é disparada e o visual do machão indestrutível é relativizado em uma sensibilidade de construção de camadas.

Aquele cara bronco, não é tão bronco assim. O que não deixa de ser tóxico, e de contaminar a única personagem feminina que sofre um forte abuso psicológico.

Talvez, seja até irônico falar nessa toxidade destrutiva e que mata por dentro, porque é justamente isso que o antraz está fazendo com o gado da região. O final do filme é forte por isso.

Agora, como não falar das atuações? Benedict Cumberbatch fez a melhor atuação do ano na minha opinião, cada camada é mostrada em expressões sutis, e até seu jeito de andar e falar estão bem caracterizados. Os coadjuvantes foram bem selecionados e entregam ótimos papéis.

Um filme desse nível tem de ser revisto apenas pela fotografia de paisagens exuberantes e trilha sonora impecáveis, lembrando aos fãs de Radiohead que a trilha sonora é obra de Johnny Greenwood guitarrista da banda.

Ah, o silêncio. Falei tanto que quase esqueci do elemento principal. O silêncio torna cada ato mais forte, e a sexualidade (tema principal?) fica ainda mais detalhada num mero nó em uma corda. É uma obra prima. Filmaço!

Não olhe para cima

Sinopse: Dois astrônomos descobrem um cometa mortal vindo em direção à Terra e partem em um tour midiático para alertar a humanidade. Só que ninguém parece dar muita bola.

O que eu achei: A sátira sobre a banalização do caos e a politização de tragédias é perfeita. O filme pode estar nos mostrando como os governos se comportaram nessa pandemia, ou como nos comportamos diante da possibilidade de extinção pelo aquecimento global e destruição ambiental.

Talvez, seja até isso que convenceu o Di Caprio a entrar nesse filme. Por sinal que elenco! Até Merryl Streep! Uma pena que a direção não soube usar a capacidade interpretativa de peças tão boas.

Apenas em uma entrevista para um programa televisivo vemos o personagem do Di Caprio realmente ser interpretado em outro nível.

O tema central do filme é importante, nos faz refletir sobre como evitamos ler sobre o que importa e como dedicamos nosso tempo em coisas inúteis para fugir da realidade triste que nos assusta.

Porém, por mais divertido que seja o filme, não tem muitas camadas e começa a ficar repetitivo. Para o meu gosto foi um filme ok, divertido, nada espetacular. A vantagem é que agrada muita gente por ser dinâmico e engraçado.

*Daniel Cruz Fonseca é advogado, mestre em Direito nas relações econômicas e sociais, e poeta, autor dos livros “Nuvens Reais” e “Alma Riscada”.

 

 

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