Série: um poeta & um teórico na caixa de fósforos.
Marcelo e Ná em Inhotim, 26 de dezembro de 2017 (Foto: Fani Dolabela)
Reginá Guerra
Capítulo 7
Uma camisa chamada SAUDADE
(ou Saudade hoje é tema para milhões)
Hoje e em todos os dias a saudade do Marcelo bate nas portas, janelas do meu coração e em todos os poros da pele.
Sei que a saudade foi tema cotidiano da sua poesia. Tanto ele falou da saudade nos sonetos, baladas, versos livres, haicais e outras formas, que a poeta Luciana Tonelli o chamou de o “mais lusitano dos poetas da vanguarda brasileira”.
Ele até achou uma camisa com a palavra saudade em um camelô de Lisboa. Estava esperando por ele….
Saio da minha saudade, lembro das saudades dos outros… De todos que se foram na pandemia.
Dos 5 milhões, 117 mil e 790 mortos pela Covid no mundo até hoje.
Da falta que o Aldir Blanc faz e todos os 611.384 mortos pela Covid no Brasil.
Dos 55.941 mineiros mortos pela Covid.
Dos 6.973 belo-horizontinos mortos.
Da saudade da artista amiga Cássia Muzzi e dos 367 itabiranos mortos.
Dos 36 mortos de Santa Maria de Itabira, onde perdi minha prima Suzel, meu primo Julu, meu amigo Guimbinha, o Luís, amigo da minha amiga Marina, e nossa artista plástica Ivonete Duarte Assis.
Dos 44 mortos de Lajinha, terra do Marcelo com a morte de um dos seus primos.
Deixo os haicais do Marcelo a todos que sofrem essa dor da morte de um querido. O consolo da poesia que expressa o que vai na nossa alma, o que aperta nosso coração.
E a minha saudade se torna coletiva, estende a todos um abraço virtual com a amplitude da poesia.
*
24 horas de saudade
fazem uma metrópole
desta minúscula cidade
*
tambor do carnaval
venha tum-tum-tum
na minha saudade.
*
céu tão distante
a saudade não
esqueceu seu nome
Ná, que bão ler o que está guardado na caixa de fósforo. Quem escreveu poemas é vivo pra sempre. Saudade….