Série: um poeta & um teórico na caixa de fósforos.

Marcelo e Ná em Inhotim, 26 de dezembro de 2017 (Foto: Fani Dolabela)

Regi Guerra

Capítulo 7
Uma camisa chamada SAUDADE
(ou Saudade hoje é tema para milhões)

Hoje e em todos os dias a saudade do Marcelo bate nas portas, janelas do meu coração e em todos os poros da pele.

Sei que a saudade foi tema cotidiano da sua poesia. Tanto ele falou da saudade nos sonetos, baladas, versos livres, haicais e outras formas, que a poeta Luciana Tonelli o chamou de o “mais lusitano dos poetas da vanguarda brasileira”.

Ele até achou uma camisa com a palavra saudade em um camelô de Lisboa.  Estava esperando por ele….

Marcelo Dolabela em São Paulo. no Instituto Tomie Ohtake, em 16 de setembro de 2016 (Foto: Reprodução)

Saio da minha saudade, lembro das saudades dos outros… De todos que se foram na pandemia.

Dos 5 milhões, 117 mil e 790 mortos pela Covid no mundo até hoje.

Da falta que o Aldir Blanc faz e todos os 611.384 mortos pela Covid no Brasil.

Dos 55.941 mineiros mortos pela Covid.

Dos 6.973 belo-horizontinos mortos.

Da saudade da artista amiga Cássia Muzzi e dos 367 itabiranos mortos.

Dos 36 mortos de Santa Maria de Itabira, onde perdi minha prima Suzel, meu primo Julu, meu amigo Guimbinha, o Luís, amigo da minha amiga Marina, e nossa artista plástica Ivonete Duarte Assis.

Dos 44 mortos de Lajinha, terra do Marcelo com a morte de um dos seus primos.

Deixo os haicais do Marcelo a todos que sofrem essa dor da morte de um querido. O consolo da poesia que expressa o que vai na nossa alma, o que aperta nosso coração.

E a minha saudade se torna coletiva, estende a todos um abraço virtual com a amplitude da poesia.

*

24 horas de saudade

fazem uma metrópole

desta minúscula cidade

*

tambor do carnaval

venha tum-tum-tum

na minha saudade.

*

céu tão distante

a saudade não

esqueceu seu nome

 

 

 

 

 

 

 

Posts Similares

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *