Senado escancara o machismo estrutural ao atacar a ministra Marina Silva com agressões misóginas
Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima foi covardemente agredida ao participar de reunião da Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado
Foto: Lula Marques/ Agência Brasil
A face obscura e intolerável da política brasileira
Valdecir Diniz Oliveira*
A presença de mulheres na política brasileira ainda é marcada por desafios, resistência e, muitas vezes, ataques abertamente misóginos e machistas.
A recente recepção dada à ministra Marina Silva em uma reunião da Comissão de Infraestrutura, nessa terça-feira (27) no Senado, exemplifica esse problema de forma alarmante.
O episódio expõe não apenas a tentativa de silenciamento de uma das figuras mais importantes da defesa ambiental no país, mas também a persistência de práticas que visam desqualificar e menosprezar mulheres em espaços de poder.
Misoginia e hostilidade política
Ao longo de sua trajetória, Marina Silva tem enfrentado uma série de obstáculos que vão além do embate natural entre ideias opostas na política.
Como mulher, negra e oriunda de uma família humilde, sua presença no alto escalão da política brasileira incomoda setores que ainda resistem à diversidade.
A agressividade com que foi tratada durante sua participação na comissão do Senado revela como, muitas vezes, críticas políticas se transformam em ataques pessoais direcionados a deslegitimá-la como figura pública.
A misoginia no ambiente legislativo não é novidade, mas se torna mais evidente quando observamos a forma distinta como mulheres e homens são tratados.
Para muitas parlamentares e ministras, o desafio não se resume a defender políticas públicas, mas também a sobreviver a um ambiente impregnado de preconceitos históricos.
O impacto do machismo na democracia
A constante desqualificação de mulheres na política afeta diretamente a democracia brasileira. Quando o debate se transforma em ataques pessoais carregados de estereótipos de gênero, perde-se a oportunidade de um diálogo construtivo.
A violência simbólica contra lideranças femininas desencoraja novas mulheres a ingressarem na política e perpetua um cenário onde o poder continua concentrado nas mãos de uma elite masculina.
Marina Silva, com sua trajetória marcada por luta e comprometimento, merece ser respeitada como a representante legítima do Ministério do Meio Ambiente e não ser reduzida a alvos de deboche e desrespeito.
O episódio recente reforça a necessidade urgente de discutir o papel das mulheres na política e implementar mecanismos que garantam um ambiente livre de discriminação e misoginia.
Senado precisa agir
Condutas machistas precisam ser denunciadas e combatidas não apenas por mulheres, mas por toda a sociedade.
O Senado, como instituição que representa os interesses da população, não pode se omitir diante dos ataques sofridos pela ministra Marina Silva.
É imperativo que medidas sejam tomadas para responsabilizar os parlamentares que perpetuaram essa agressão misógina, enviando uma resposta clara à sociedade de que atos discriminatórios não serão tolerados.
Além disso, por ser composto majoritariamente por cidadãos já mais idosos, por força de lei, o Senado deveria ser exemplo de respeito à diversidade e de ponderação em suas palavras e ações.
A política precisa ser um espaço de debate legítimo e democrático, não um ambiente onde preconceitos históricos continuem sendo reforçados.
A resposta aos ataques sofridos por Marina Silva deve vir em forma de mobilização e reflexão sobre como queremos construir um país mais igualitário.
O respeito à diversidade de lideranças e a valorização de vozes femininas são essenciais para o avanço e consolidação da democracia.
O Brasil não pode continuar permitindo que mulheres sejam submetidas à hostilidade e ao preconceito enquanto tentam exercer seu papel na política.
O episódio envolvendo a ministra Marina Silva é mais um alerta de que, apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito para erradicar a misoginia nos espaços de poder – e na própria sociedade brasileira.
O Senado precisa assumir sua responsabilidade e dar uma resposta firme à sociedade, demonstrando que não será conivente com atitudes discriminatórias.
A democracia exige respeito, e essa luta deve ser de todos.
*Valdecir Diniz Oliveira é cientista político, jornalista e historiador
A violência política de gênero é tipificada como crime estabelecido pela Lei nº 14.192/2021, que alterou o Código Eleitoral. Os senadores envolvidos na agressão a ministra Marina Silva tem que ser responsabilizados judicialmente e pelo comitê de ética do Senado.