Romeu Zema e a relativização da ditadura militar: ignorância, negacionismo ou estratégia política? Ou tudo junto?

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Rede Social

Valdecir Diniz Oliveira*

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), afirmou que a existência da ditadura militar no Brasil (1964-1985) é uma “questão de interpretação”.

A declaração não apenas ignora a história, mas também desrespeita as vítimas do regime autoritário que governou o país por 21 anos.

Como se sabe, o golpe militar de 1º de abril de ‘964 depôs o presidente democraticamente eleito João Goulart, instaurando um regime que suprimiu liberdades civis, censurou a imprensa e perseguiu opositores políticos.

Durante esse período, milhares de brasileiros foram presos, torturados e assassinados. Segundo a Comissão Nacional da Verdade, 191 pessoas foram mortas e outras 210 desapareceram sob tutela do regime.

Além disso, 6.000 denúncias de tortura foram registradas pela Justiça Militar, com estimativas apontando para 20.000 casos. Todos, crimes sem castigos.

Os métodos de tortura incluíam choques elétricos, afogamentos simulados, espancamentos e estupros. Mulheres grávidas eram submetidas a sessões brutais de violência, e muitos opositores foram executados sem julgamento.

Esses números não são “interpretações”, mas sim fatos documentados por historiadores, jornalistas e sobreviventes.

Zema e o negacionismo histórico

Ao ser questionado sobre a ditadura, Zema respondeu: “Acho que tudo é questão de interpretação. Eu prefiro não responder, porque acho que há interpretações distintas. E houve terroristas naquela época? Houve também. Então fica aí. Acho que os historiadores é que têm de debater isso. Eu preciso me preocupar, hoje, com Minas Gerais”.

A tentativa de equiparar opositores políticos a “terroristas” é uma estratégia comum entre aqueles que buscam minimizar os crimes do regime militar, como é o caso de Zema.

No entanto, a resistência à ditadura foi composta por estudantes, jornalistas, sindicalistas e políticos, muitos dos quais foram brutalmente perseguidos apenas por defender a democracia.

Indulto a Bolsonaro e o revisionismo histórico

Além de relativizar a ditadura, Zema também prometeu indultar Jair Bolsonaro, caso seja eleito presidente em 2026. O ex-presidente ainda nem foi condenado por tentativa de golpe de Estado, mas Zema já sinaliza que, em seu governo, crimes políticos poderiam ser perdoados sem julgamento adequado.

Essa postura não apenas desrespeita a memória das vítimas da ditadura, mas também reforça uma estratégia política de aproximação com o eleitorado bolsonarista.

O governador que se consolidar como um dos principais nomes da direita reacionária e conservadora, mesmo que isso signifique distorcer a história e minimizar crimes cometidos pelo Estado durante a vigência da ditadura militar.

A responsabilidade de um líder

Um governador não precisa ser historiador para reconhecer os fatos. A história do Brasil está documentada, e negar a existência da ditadura militar é um insulto àqueles que sofreram suas consequências.

A democracia exige compromisso com a verdade, e relativizar um regime autoritário não é uma postura de estadista, mas sim de oportunista.

Zema pode preferir “não responder” sobre a ditadura, mas os fatos permanecem. A história não é uma questão de interpretação—é uma questão de memória, justiça e respeito.

*Valdecir Diniz Oliveira é cientista político, jornalista e historiador

 

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