Revolução dos Cravos: 25 de Abril e o regresso da liberdade suína em Portugal
Fotos: Júlio José da Silva
Veladimir Romano*
Com a Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974 foi derrubada a ditadura salazarista em Portugal, estabelecida após golpe militar de 1926, de triste lembrança. Com o fim da ditadura, os portugueses restabeleceram as liberdades democráticas, mas ainda aguardam as transformações sociais por mais igualdade e fraternidade com justiça social
Do dia em que a democracia foi recuperada do baú da ditadura onde morou 48 anos, para a sociedade portuguesa, será mais a memória do que a realidade evolutiva do país.
As reformas que se sucederam, entretanto, nada mais sendo alusões sonhadoras [e abstrata] a quem viveu ou acompanhou o distinto dia, elucidativo momento dessa liberdade no meio das muitas incertezas.
Portugueses de várias gerações saturaram feridas do confronto colonial, a avareza política contra populações nacionais e africanas, violência dos campos de concentração com sucessivos assassinatos praticados pela criminosa polícia política [PIDE] marcam legado infeliz da historiografia portuguesa.
Quem sofreu na pele, na alma, no corpo torturado carregando mazelas, aqueles ainda hoje testemunhando a glória do dia 25 de Abril, valorizam a reconquista dos direitos humanos.
Ora, nunca o pensamento verdadeiramente revolucionário conseguiu estabelecer sua única liberdade em decidir qual caminho ao passo conjugador das reformas efetivas pelo progresso.
Então, avançou uma sórdida atrapalhação, viciada em acomodação do passado, ausência de caráter, reconhecimento ideológico falsificado, literatura fraca sobre assuntos da vertente social, poder decisivo a quem não se procura impor, virando prisioneiro da covardia.
Muitos males persistem após 48 anos da “Revolução dos Cravos”, tal como testemunhamos do passado, pelo presente, adivinhando futuros… marcando tempos históricos, incertas realizações, insustentável embriaguês de assuntos, irritante e fantasiada melancolia idêntica aos dias mais tenebrosos da ditadura.
Será da incompetência, grosseira corrupção, incapacidade política, fraqueza da justiça, desleixo parlamentar onde alguns vibram contra a falsidade democrática, outros não estão nem aí, acumulando boas mordomias adquiridas pelos favorecimentos: quer dizer que o regresso dos suínos que poucos deram conta, voltaram para dominar a cena de um filme degradado.
Como nos tempos antigos, apenas alguns apanham coragem e denunciam acontecimentos, dominam falsários, alunos na ordem das dezenas de milhares sem professores, mais de um milhão sem “médico de família”, mais de dois milhões de pobres, oito crianças morrem de fome por ano em Portugal.
Tudo isso após 36 anos da entrada na União Europeia, recebendo ao longo dos anos a bonomia de 300 bilhões de euros que a maioria não descobre onde foram feitos tais investimentos.
Isso mesmo quando termos constitucionais declaram aos portugueses ter direito a “uma habitação condigna”, mas ainda pululam favelas pelo país, moradias de renda exagerada sem conforto e contratos com fraudes fiscais em grande escala.
Resumindo: Portugal ficou na cauda da Europa, não por culpa da ditadura nem do fascismo, mas por culpa de um povo nascendo numa geografia sem saber como defender seus direitos cívicos, impondo essa liberdade que não é apenas substantivo feminino cuidando de todos nós, oportunidades projetando transformações positivas tardando em chegar…
Na palavra, existe igualmente uma justiça que sendo poesia, é sonho planetário. Mas, onde ficou esse tal 25 de Abril? Na gaveta!
PS.: No dia da Liberdade, Lisboa se engalanou com sacadas saudando o 25 de Abril; aqui ainda o povo sonhava junto aos da MFA. Vários instantes que meus familiares viveram (eu estava no Canadá trabalhando com uma firma sueca)
O meu padrasto Júlio José da Silva, fora de Caxias, pegou na Yashica que eu havia dado para minha mãe na Holanda, anos antes e ele fotografou as imagens em boa ocasião correndo de um lado ao outro da cidade.
A sacada é na avenida de Roma, as outras imagens são mais acima, acho que é no jardim Alexandre Herculano/Praça de Londres.
*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.