Região de Itabira bate recordes de queimadas e incêndios florestais neste início da estiagem

Fotos: Carlos Cruz

Nos primeiros meses de estiagem deste ano, que teve início em março, a região de Itabira já sofre com as queimadas e incêndios florestais que deterioram a qualidade de vida das pessoas e detona com o meio ambiente.

Segundo o comandante do 6º Pelotão do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, sediado em Itabira, tenente Marlon Pinho Medeiros de Aguiar, só no mês de abril a corporação militar já registrou 15 ocorrências de incêndios florestais.

Isso fora as queimadas em lotes vagos e no meio rural com a arcaica técnica da coivara, que consiste na queima do mato seco para preparar o terreno para plantio, empobrecendo o solo com a morte dos micro-organismos que nele vivem e o tornam mais fértil.

“O ano está bem atípico e se continuarmos nesse ritmo vamos bater todos os recordes de ocorrências”, lamentou o tenente Medeiros, que fez o alerta na sessão dessa terça-feira (3), na Câmara Municipal de Itabira, a convite do vereador Luciano “Sobrinho” Gonçalves dos Reis (MDB).

Se essa projeção se concretizar com um novo recorde, pode-se esperar pelo pior. Pelas projeções do Corpo de Bombeiros, persistindo a tendência já verificada para este ano, o temor é que o número de ocorrências possa superar o que foi regisrado nos anos anteriores, caso nada seja feito para coibir as queimadas e os incêndios florestais.

O tenente Medeiros alertou para o aumento dos incêndios florestais e queimadas em Itabira, a maioria criminosa

Ocorrências

Comparativamente, o mês de abril com 15 ocorrências já bate o recorde dos últimos anos. “Em 2018, para o mesmo período, tivemos cinco ocorrências. Em 2019 foram apenas três. Em 2020 foram quatro e tivemos apenas dois registros no mês de abril do ano passado”, informou o comandante do Corpo de Bombeiros de Itabira.

Antes o recorde foi em 2019 com o registro de 154 incêndios florestais. Em 2018, o registro foi de 115 ocorrências só no município de Itabira. Isso deu uma média de três atendimentos por dia por uma corporação que sofre com a redução de efetivos. “Para cada três ocorrência, uma ficou sem combate por falta de efetivos suficientes”, contou o tenente Medeiros.

“Em 2020 tivemos uma redução para 101”, informou Medeiros, que atribui a queda no número de ocorrências  à pandemia, com os incendiários ficando mais em casa. “Essa é uma prova de que esses incêndios não são provocados (pela brasa) pelo cigarro, raios, ou outras ações naturais. É ação antrópica, provocada pelo ser humano.”

Como neste ano a corporação já constatou a tendência de crescimento das ocorrências no município, o que se tem, além do tempo mais seco, é também a falta de uma ampla campanha de esclarecimentos e conscientização, assim como de investigações para punir os culpados, já que a grande maioria das queimadas e incêndios florestais é provocada ou originada pela ação humana. Isso constitui crime, mas sem castigo, pois não há investigações para punir os culpados.

Corpo de Bombeiro combate fogo na beira da estrada, provocado por entulhos com borrachas

Danos ao meio ambiente e à saúde humana

Além de agravar e prejudicar o solo e devastar o meio ambiente, as fuligens e fumaças dos incêndios florestais e queimadas agravam as doenças respiratórias da população, que em Itabira sofre também com o aumento da poeira vinda das minas da Vale.

“São substâncias tóxicas”, afirma a professora Ana Carolina Vasques Freitas, da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), campus de Itabira, graduada em Física pela Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) e pós-doutora em Ciência da Atmosfera.

“Já temos o problema da poeira neste período do ano. Fica em suspensão juntamente com as partículas das queimadas, o que agrava a saúde da população com doenças respiratórias que podem ocasionar mais pressão sobre sistema de saúde da cidade”, constata a professora universitária.

“É preciso também que a população se conscientize para mudar a cultura de se fazer queimadas para limpeza de lotes ou para o preparo do roçado, uma técnica arcaica ainda comum na agricultura.”

Infertilidade

Incêndios florestais e queimadas empobrecem o solo, matando os micro-organismos, tornando a terra infértil

Conforme explica a professora da Unifei, as queimadas tornam o solo fica mais infértil, diferentemente do que imagina o senso comum. “As queimadas empobrecem o solo, acabam com a fertilidade ao matar os micro-organismos que fazem a decomposição da matéria orgânica, a reciclagem de nutrientes. Elimina potássio, fósforo, nitrogênio. E o agricultor vai ter que investir em adubo para fazer a correção do solo, muitas vezes sem o sucesso desejado”, acentua.

Além disso, as queimadas reduzem a umidade do solo e acabam por retirar a sua proteção, que são as raízes que seguram a terra. “É o queprovoca erosão e o assoreamento dos cursos d’água, que são também atingidos pelas cinzas das queimadas.”

O impacto ambiental é ainda maior quando o agricultor utiliza fertilizantes para corrigir o solo empobrecido pelas queimadas. É quando os resíduos seguem também para os cursos d’água.  “Existem estudos mostrando que as cinzas das queimadas interferem na fotossíntese da planta ao depositar as fuligens nas folhas”, acrescenta a professora Ana Carolina.

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