Reforma no Memorial Drummond por pouco põe fim ao espelho d’água do projeto original de Niemeyer
O Memorial Carlos Drummond de Andrade está sendo reformado, o que inclui a sua pintura interna e externa, troca da rede elétrica, além da reforma do telhado. Trata-se de uma demanda antiga, necessária para se manter a sua integridade e evitar possíveis sinistros, como também a infiltração de água da chuva, o que tem causado danos, como já se observa com mofo em vários pontos.
O custo dessas intervenções não foi especificado. Mas está incluído na reforma do Parque Natural Municipal do Intelecto, orçada em R$ 579,1 mil. A execução dessa intervenção está a cargo da construtora Hura – e teve início em junho com previsão de término em dezembro próximo.
Só que alguém teve a “brilhante” ideia, justo no início da Semana Drummondiana, de jogar terra no espelho d’água, que há algum tempo foi desativado, para se fazer um jardim.
Quem teve essa ideia com certeza não sabe que qualquer intervenção que altere o projeto original do arquiteto Oscar Niemeyer, que é tombado pelo patrimônio histórico e arquitetônico, tem que ser autorizado pelo Conselho Consultivo Municipal do Patrimônio Histórico e Artístico de Itabira (Comphai). Mas isso não ocorreu.
Todo o entorno do Memorial é também tombado, inclusive o Pico do Amor, que, da mesma forma, não pode sofrer intervenção sem autorização dos conselheiros do Comphai. Pois, conforme foi apurado pela reportagem, querem plantar palmeiras no local, o que pode descaracterizar o paisagismo característico de campo rupestre ferruginoso.
A reforma do Memorial está sendo executada pela empreiteira sob a supervisão, acompanhamento e fiscalização da Secretaria Municipal de Obras, mas o projeto é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
A denúncia dessa intervenção indevida foi feita na rede social pelo engenheiro Altamir Barros, idealizador do Memorial. Foi ele quem articulou com o próprio Niemeyer a elaboração do projeto arquitetônico.
Após a denúncia, os órgãos responsáveis pelo Memorial determinaram que fosse suspensa a intervenção no espelho d’água. “Já detectamos que houve um erro, mandando interromper essa intervenção, pois o Memorial não pode ser descaracterizado. Não se mexe em uma obra de arte”, disse à reportagem a superintendente da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), Martha Mousinho.
Segundo ela, o espelho d’água será restaurado, inclusive com a canalização para que a água possa circular, sem que fique parada, o que pode acarretar a proliferação de mosquitos – e de doenças, como a dengue.
“A construção desse espelho foi malfeita, parece que a toque-de-caixa no final do século passado. Antes, a água era levada até o local por meio de mangueira. Isso será corrigido”, assegura a superintendente.
Trombadas
Como tem ocorrido em vários setores da Prefeitura, uma área muitas vezes não se comunica com a outra.
O Memorial é de responsabilidade da FCCDA, mas o parque é da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Martha assegura que não foi ouvida e não aprova a ideia de se fazer um jardim no local.
A secretária de Meio Ambiente, Priscila Braga Martins da Costa, foi procurada pela reportagem, mas estava em reunião com representantes da empresa Vale e do Ministério Público – e não pôde atender. Até o fechamento desta reportagem ela não retornou à ligação deste site.
Já o secretário municipal de Obras, Ronaldo Lott, também assegura que o espelho d’água não será substituído por um jardim. “Será revitalizado”, disse ele, confirmando o que foi dito pela superintendente da FCCDA.
“Os trabalhos incluem a revitalização do espelho e a construção de tubulação para a entrada e saída de água, evitando a proliferação de doenças e permitindo a contínua troca de água”, explica o secretário, em nota encaminhada à redação deste site.
Porém, a justificativa que ele apresentou para a disposição de terra no local, onde deveria existir uma lamina d’água, não convence. “Como os trabalhos podem demorar alguns dias, a Secretaria de Obras optou por tampar provisoriamente o espelho, em função das atividades que acontecerão no local nos próximos dias. Na primeira semana de novembro os trabalhos serão retomados.”
Estrutura
Lott disse ainda que essa reforma não é estrutural, como se cogitou de fazer em abril do ano passado, quando esteve em Itabira o arquiteto Jair Valera que, desde 1976, integra e coordena o escritório de Oscar Niemeyer, no Rio (RJ). Leia aqui.
O projeto do Memorial foi um presente do arquiteto a Itabira, uma homenagem que Niemeyer fez ao amigo Drummond, seu ex-correligionário, por pouco tempo por parte do poeta itabirano, no Partido Comunista Brasileiro (PCB), na década de 1940.
O monumento foi inaugurado em 31 de outubro de 1998 pelo ex-prefeito Jackson Tavares (1997/2000), com recursos repassados pela empresa Vale, logo após a sua privatização.
A projetada e engavetada reforma estrutural visava corrigir algumas distorções em relação ao projeto original, além da edificação de um auditório – e estava avaliada em R$ 400 mil. “Não vamos mais fazer essa reforma com essa amplitude por falta de recursos”, informa Ronaldo Lott.
Em Itabira só dá certo a CVRD/Vale…. No mais, é tudo uma vergonha..,., Viva o Rio de Janeiro……
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Tô besta!
E isso de espelho d´água aqui em Itabira dá preguiça, pois quem diz cuidar dos tais retirando a água desconhecem o uso contínuo de água sanitária contra os insetos, incluindo os pernilongos.
Ali nunca houve palmeiras, pois esta é exótica e deveriam mais é retirar toda a praga do eucalipto plantado pela mineradora e substituídos por plantas da Mata Atlântica e do Cerrado, considerando que aqui é zona de transição ambiental.