Queimadas estão por quase toda Itabira sem campanha eficaz de conscientização e com piromaníacos impunes
Fotos: Carlos Cruz
Mais uma vez, como ocorre todos os anos, o Morro Pelado – assim chamado por, até a década de 1980, contar apenas com vegetação rasteira de canga, quando depois a Vale plantou eucalipto e deixou de ser careca – no Moinho Velho, foi consumido pelo fogo desde o final da tarde dessa sexta-feira (20), sem qualquer ação de brigadistas para conter as chamas.
A fumaça e as fuligens se espalharam por toda a noite pelos bairros vizinhos. O fogo só cessou após devastar toda a vegetação rasteira, preservando em pé apenas os resilientes eucaliptos.
A população sofre com a poluição do ar, agravada pela poeira da mineração, transportada pelo vento, que já sopra com mais força e carrega partículas de minério de ferro para a cidade.
Na encosta do Pico do Amor, margeando a avenida Carlos Drummond de Andrade, no bairro Penha, a mesma equipe ambiental da Vale também realizou, no final do século passado, o plantio de eucalipto — onde, só deveria haver vegetação nativa.
No ano passado, não houve registros de queimadas significativas na área ou, se houve, foram prontamente controladas. Ainda assim, é fundamental manter os aceiros limpos e reforçar a vigilância, já que os piromaníacos continuam agindo com total impunidade.
Essa impunidade precisa acabar. Esses piromaníacos devem ser investigados e responsabilizados. Conversas com moradores dos bairros Moinho Velho, Chacrinha e também do Pará revelam que os autores das queimadas no Morro Pelado são conhecidos e atuam deliberadamente todos os anos ateando fogo em pontos diferentes, com tempo para agir, apenas pelo prazer de ver o fogo consumir a vegetação seca.
Caso a Polícia Ambiental Militar atue em parceria com os fiscais de meio ambiente e urbanismo da Prefeitura, não é difícil identificar esses irresponsáveis que, todos os anos atean figo na vegetação seca em terrenos baldios, lotes vagos e, não raro, provocam incêndios florestais de grande proporção.

Queimadas ilegais
Há ainda os proprietários, rurais e urbanos, que realizam queimadas anuais para limpar seus terrenos, prática igualmente ilegal.
Esses infratores também são facilmente localizáveis, cabendo à Prefeitura aplicar as sanções previstas em uma legislação ambiental já bastante ampla. É preciso agir com rigor para coibir esses atos irresponsáveis que afetam diretamente a saúde da população.
Campanha da Prefeitura ainda não chegou à maioria da população
A Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Defesa Animal (SMMADA), lançou recentemente uma campanha de conscientização com bom material didático e um canal de disque-denúncia ((31) 3839-2137). No entanto, até o momento, essa campanha não alcançou a maior parte da população.
Moradores do entorno do Morro Pelado relatam não ter visto essa campanha em lugar nenhum. A secretária Elaine Mendes informou que o trabalho está sendo feito nas escolas, em comunidades vizinhas às unidades de conservação e pelas redes sociais, além do site oficial da Prefeitura.
A campanha precisa ir às ruas para alcançar quem mais sofre – e também aqueles que põem fogo no mato seco. A percepção é clara: se a campanha não ocupar as ruas – e especialmente nas regiões mais afetadas pelas queimadas – ela não vai surtir efeito.
Portanto, para alcançar de fato a população que sofre as consequências respiratórias das queimadas, é preciso ampliar a visibilidade da iniciativa.
Isso passa por maior presença nas rádios locais e, principalmente, pelo uso de outdoors, busdoors e blitz educativas, que devem ser realizadas durante todo o período de estiagem nos bairros e também nos povoados dos distritos de Senhora do Carmo e Ipoema.

Por que usar outdoors e busdoors?
Os outdoors e busdoors têm um papel crucial nas campanhas de conscientização em cidades como Itabira. Sua principal vantagem é o alcance amplo e direto: são vistos por milhares de pessoas todos os dias, inclusive por aquelas que não têm acesso a redes sociais ou meios digitais.
Ao estarem posicionados em vias movimentadas e pontos estratégicos, reforçam a mensagem de forma constante e visual para um maior número de pessoas ao mesmo tempo. Essa exposição frequente aumenta as chances de o conteúdo ser assimilado pela população e estimula atitudes mais conscientes.
Além disso, os outdoors impactam todos os perfis de público – e transmitem de forma simples e eficaz mensagens curtas, urgentes e necessárias.
No caso de uma campanha contra queimadas, com o número do disque-denúncia bem visível, eles funcionam como lembrete diário de que a população pode e deve agir.
O uso de frases de impacto, combinadas com imagens fortes, tornam-se ferramentas educativas nas ruas – o que é vital em uma campanha que precisa gerar mobilização coletiva.
Disque-denúncia precisa ser amplamente divulgado

O canal de denúncias, (31) 3839-2137, precisa ser amplamente divulgado, repita-se à exaustão, especialmente por meio de outdoors e busdoors espalhados por toda a cidade.
Isso a exemplo do foi feito em campanhas em anos anteriores, bem no passado já distante. Outdoors informativos sobre os danos das queimadas, com o telefone do disque-denúncia em destaque, já foram veiculados em ações promovidas pela mineradora Vale, que tem o dever de proteger suas áreas de conservação contra queimadas e incêndios florestais.
Essa campanha, aliás, é parte de uma das condicionantes permanentes da LOC de 2000, que precisa voltar a ser executada com rigor na cidade. Incêndios prolongados, como o ocorrido na região do Pontal/Serra dos Doze, geraram perdas ambientais significativas.
Por isso, é indispensável que todas as partes envolvidas adotem medidas rápidas e eficazes.
Os impactos das queimadas e incêndios florestais

As queimadas e os incêndios florestais provocam danos irreversíveis ao meio ambiente e à saúde pública. A destruição da vegetação nativa, além de desequilibrar ecossistemas, contribui com a emissão de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono e o metano.
A fauna local também é gravemente afetada: muitos animais morrem ou são forçados a abandonar seus habitats, além de ocorrer o empobrecimento do solo com a eliminação de micro-organismos essenciais ao seu equilíbrio.
Na saúde pública, a fumaça gerada contém partículas finas e gases tóxicos que agravam doenças respiratórias e cardiovasculares – sobretudo em crianças, idosos e pessoas com comorbidades.
Essa situação é ainda mais grave quando somada à poeira do minério que já contamina o ar de Itabira, tornando-o nocivo à saúde e até irrespirável.

Legislação e penalidades para infratores
O Código Florestal (Lei Federal nº 12.651/2012) proíbe queimadas em áreas de preservação e reservas legais.
A Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998) prevê multas de até R$ 50 mil por hectare destruído, além de prisão. Um decreto presidencial recente aumentou essas penalidades: agora, em áreas de vegetação nativa, a multa pode chegar a R$ 10 mil por hectare.
A negligência na prevenção e combate também pode resultar em multas que variam de R$ 5 mil a R$ 10 milhões.
Em Itabira, a Lei Municipal nº 4.844/2015 proíbe queimadas tanto na zona urbana quanto rural.
Contudo, para que toda essa legislação seja efetiva, é fundamental reforçar a fiscalização e garantir a punição dos infratores.
Proteção ambiental com envolvimento da iniciativa privada e moradores

Além do poder público, é essencial que a iniciativa privada também cumpra sua parte. A Prefeitura já deu início à abertura de aceiros nas unidades de conservação municipais.
A Vale, por sua vez, precisa ampliar o número de brigadistas para combater rapidamente incêndios em suas áreas próximas à cidade.
A participação da mineradora e de outros setores é indispensável, assim como o envolvimento da própria população. Afinal, as queimadas não acontecem sozinhas: alguém sempre risca o fósforo.
O objetivo da campanha deve ser informar, prevenir e agir. É fundamental envolver a população — não apenas para que evite práticas de queimada, mas também para que denuncie aqueles que, ano após ano, seguem ateando fogo com total impunidade. Caso alguma punição tenha sido aplicada, ela não foi tornada pública, o que precisa mudar. A ampla divulgação das sanções é essencial para gerar efeito dissuasivo e servir como exemplo a outros possíveis infratores.
Carlos, bom dia.
Gostei muito do texto sobre queimadas. Você conseguiu colocar muito bem. Os reflexos das queimadas são grandes, não só nas áreas como para as pessoas. Somente uma divulgação intensa e punição para os piromaníacos, assim como uma educação ambiental abrangendo a população pode conter um pouco as queimadas. Espero que a Prefeitura faça isso.