“Projetos estruturantes são aqueles que vão mudar a realidade econômica, social e cultural de Itabira”, diz Maciel Paiva
Carlos Cruz
Em junho deste ano, a Prefeitura de Itabira espera assinar uma série de parcerias com a Vale, possivelmente em uma solenidade de abertura da celebração dos 80 anos de sua criação, por Getúlio Vargas, em 1942, para explorar em larga escala o minério de ferro das minas locais.
Por meio de novas parcerias público-privadas, a expectativa é dar início imediato a uma série de obras consideradas estruturantes, que viriam alavancar um novo patamar urbanístico e de desenvolvimento no município.
Com esses projetos implantados, espera-se estabelecer as condições mínimas para que a economia local se diversifique antes que ocorra a exaustão das jazidas remanescentes de minério de ferro, o que deve ocorrer até metade da próxima década.
Essa diversificação, segundo Maciel Paiva, que coordena pela Prefeitura de Itabira o grupo de secretários e assessores que negocia com a mineradora, deve ocorrer na indústria, na agropecuária, educação, saúde, turismo.
Para isso é preciso que ocorram melhorias nos espaços de cultura e do meio ambiente, como também no ambiente de negócios, relaciona o coordeandor das negociações, que já foi gerente de grandes empreendimentos da Vale no país e no exterior.
Curto prazo
“Projetos estruturantes são aqueles que vão alavancar outras formas de desenvolvimento já no curto prazo, que devem ser iniciados e mesmo concluídos nesta administração nas áreas econômica, saúde, educação, cultura, mobilidade urbana, turismo”, explica o coordenador das negociações com a Vale.
“Já identificamos quais são esses projetos e as ações de curto, médio e longo prazo. A Vale sabe que é preciso desde já implantar projetos de curto prazo para demonstrar que está mesmo comprometida com esse processo de transformação da estrutura econômica, social e cultural de Itabira. Só assim a sociedade itabirana vai acreditar e engajar nesse processo de mudanças.”
Para isso, diz Maciel, será preciso também definir um projeto de governança municipal que se mantenha após o fim da atual administração, para que seja de todo o município e não de um grupo político.
Outro desafio é melhorar a organização da sociedade civil, para que tenha participação ativa nesse processo, a exemplo do que ocorreu no fim do século passado com as negociações das condicionantes da Licença de Operação Corretiva (LOC) do Distrito Ferrífero de Itabira.
“Vamos precisar de instituições mais organizadas e preparadas para participar de toda essa discussão. Só assim a população, por suas organizações, terá participação efetiva nesses projetos”, propõe Marco Antônio Lage como desafio para as entidades associativas e grupos de interesses comuns existentes em Itabira.
Já como contribuilção a essa proposta de mudanças, a Vale colocou à disposição da administração municipal a consultoria internacional da Arcadis, empresa líder mundial “no fornecimento de soluções sustentáveis de design, engenharia e consultoria para ativos naturais e construídos”.
Infraestrutura
Na relação dos projetos estruturantes que estão sendo negociados com a Vale consta, por exemplo, a duplicação da MG 129/434, que liga Itabira à BR-381/262.
“Itabira tem um acesso deficiente, um gargalo que dificulta a atração de novas indústrias. Para começar a viabilizar a duplicação, a prefeitura financiou o projeto executivo, que já está sendo elaborado pelo DER”, conta Maciel.
A expectativa é estabelecer uma parceria público-privada entre a Vale, governo de Minas e Prefeitura para licitar, já no início de 2023, a sua duplicação. Isso a exemplo do que aconteceu no início da década de 1960, quando a Vale destinou recursos para a melhoria da rodovia e pavimentação.
“Já apresentamos o projeto (conceitual) ao governador Zema e ao presidente da Vale. É uma bela estratégia para o desenvolvimento de Itabira, eles concordaram”, disse o prefeito, que acredita no potencial que representa colocar Itabira entre as cidades conurbadas da grande BH.
Marco Antônio espera que, independentemente do próximo governador eleito neste ano, mantenha-se o compromisso de duplicar a rodovia estadual, por se tratar de uma demanda macrorregional das cidades do nordeste minério que passam por aqui.
Distrito e mobilidade
Outro projeto estruturante, e para o qual se espera também a participação da Vale é o de um novo distrito industrial. “Para cobrir a perda com os royalties de minério, vamos precisar de pelo menos 32 empresas de porte médio, além da expansão dos cursos da Unifei, inclusive com a aprovação da faculdade de Medicina”, é outra aposta que o prefeito faz nessa série de parcerias público-privada com a mineradora Vale.
Para a instalação do novo distrito industrial, tem-se a opção da fazenda Palestina, já doada pela mineradora ao município. “Mas pode ser que seja instalado em outra localidade, isso vai depender do Plano de Mobilidade Urbana e da revisão do Plano Diretor”, afirma o coordenador das negociações com a Vale.
Marco Antônio Lage esclarece que no projeto de mobilidade urbana não consta o projeto de metrô. “Essa foi uma proposta provocativa que fiz em campanha para levantar a discussão e dizer que Itabira não precisa mais de avenidas”, avalia.
“O modelo atual de transporte coletivo em Itabira é arcaico, é do tempo de Fábio Pires”, diz o prefeito, referindo-se ao empresário que criou a Transporte Cisne, no final da década de 1960, e que até hoje detém o monopólio do transporte urbano em Itabira, hoje pertencente à holding do Grupo GA.
“Vamos reestruturar o transporte coletivo com o que há de mais moderno no país, com transporte-tronco, tarifa subsidiada. Hoje o ônibus saí da Pedreira e vai parar na Chapada, isso não faz sentido. Vamos acabar com essa quantidade de ônibus passando pela Acrísio e com o congestionamento”, promete Maciel Paiva.
“Teremos linhas interligadas, remodelando o transporte coletivo com planejamento para uma cidade de 200 mil habitantes, diminuindo o fluxo de veículos na cidade. As pessoas saem de carro por não ter um transporte coletivo eficiente”, acredita o prefeito.
Novas expectativas
São com esses projetos de curto e médio, e mais os de longo prazo que devem ser detalhados em junho, que o prefeito de Itabira espera mudar as expectativas atuais e futuras para o município.
“Eu acredito na negociação com a Vale e é o que estamos fazendo. À judicialização só iremos recorrer se esse entendimento falhar”, refirma o prefeito como parte de sua estratégia para obter recursos adicionais, e historicamente devidos pela mineradora, para o desenvolvimento diversificado do município.
“A negociação conduz os interesses da cidade para aquilo que queremos. Já com a judicialização, aplica-se a lei, simplesmente. Podemos ir muito além do que a lei manda fazer. Por isso apostamos no entendimento com a Vale”, complementa José Maciel Duarte Paiva, em entrevista concedida com exclusividade a este portal de notícias.