Primeiro caso de morte por febre amarela assusta Itabira. Dengue também preocupa
Paciente residia na zona rural e se recusou a tomar a vacina. Morreu no sábado (27) depois de ser internado no HNSD com febre e dores no corpo
A Secretaria Municipal de Saúde confirmou ontem (31/01), em entrevista coletiva à tarde, o primeiro caso de morte por febre amarela de pessoa residente no município. Antes teriam ocorridos três casos de óbito, mas de moradores vindos para tratar em Itabira, residentes em Barão de Cocai e Santa Bárbara, que compõem a microrregional da Gerência Regional de Saúde, com 25 municípios.
A morte por febre amarela é de um trabalhador rural de 42 anos, que não teve o seu nome revelado, nem a sua residência. Foi informado, porém, que vivia na região do bairro Pedreira do Instituto. Embora a região tenha tido cobertura vacinal em todas as residências da região onde residia, ele foi um dos poucos que recusou a tomar a vacina. Segundo relato, a vítima da febre amarela dizia ter proteção suficiente e não precisava ser vacinado.
Foi internado no Pronto-Socorro Municipal no dia 22 de janeiro com febre e dores no corpo, retro-orbital (acima dos olhos) e febre. Segundo foi relatado, os sintomas começaram a se manifestar no dia 19. Como na localidade onde trabalhava existe carrapato, suspeitou-se que podia ser febre maculosa. Porém, o tratamento seguiu o protocolo comum às arboviroses (dengue, chikungunya. zica), transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. O tratamento dessas doenças são comuns aos pacientes acometidos também pelas febres amarela e maculosa.
O seu quadro, porém, foi agravado com insuficiências renal e respiratória, falecendo no sábado (27). A confirmação de o óbito ter sido consequência da febre amarela só ocorreu nessa quarta-feira, às 16h, após exames laboratoriais.
A superintendente de Vigilância em Saúde, Thereza Horta, informou que não há outros casos suspeitos de febre amarela no município. Segundo ela, Itabira conta com cerca de 95 mil moradores vacinados, com cobertura de mais de 85% da população.
Imunidade necessária
“Quem ainda não se vacinou, deve procurar um posto de saúde para ser imunizado. Na dúvida se vacinou ou não, o recomendado é que vacine”, diz Thereza Horta. As vacinas estão disponíveis na Policlínica e nos PSFs do Barreiro, Clóvis Alvim, Gabiroba I e II, João XXIII, Centro, Vila Santa Rosa, Pedreira I e II, Eldorado, Praia I, Pará, Senhora do Carmo e Ipoema.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda apenas uma dose da vacina, que é válida para toda vida. Após vacinado, a imunidade é de 98%. Porém, a vacina só começa a surtir efeito após dez dias. Por isso é importante o uso permanente de repelentes para quem se dirigir à zona rural.
A ocorrência de febre amarela tem sido predominante em homens, em torno de 95% dos casos. E a menor adesão à campanha de vacinação se encontra na faixa etária entre 15 a 59 anos. A doença tem evolução rápida e letalidade alta. Pode levar à morte em uma semana se a pessoa não for tratada rapidamente. Segundo estatísticas, entre 20% e 25% das pessoas que contraem a doença podem morrer.
Por isso é importante que se busque tratamento urgente assim que apareçam os primeiros sintomas (febre, dores no corpo e de cabeça, principalmente na região retro-orbital (acima dos olhos). “Desde que não tenha alguma outra infecção, como a urinária, por exemplo, o paciente deve procurar um posto de saúde. E dependendo da gravidade, deve ir direto para o Pronto-Socorro”, recomenda Thereza Horta.
Febre amarela urbana
Segundo ela, desde 1942 não há registro no país de casos de febre amarela urbana. Os casos que têm ocorrido no país, principalmente em Minas Gerais, são de febre amarela silvestre, que é transmitida pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes, que são encontrados em meio a florestas. “É importante imunizar não só os moradores da zona rural, mas também da cidade para que o vírus não migre para os centros urbanos”, alerta a superintendente de Vigilância em Saúde.
É que uma pessoa infectada sendo picada pelo Aedes aegypti, esse mosquito pode passar também a transmitir a doença. “A única forma de impedir que isso ocorra é vacinando todo mundo na cidade”, prescreve Thereza Horta.
Macacos
Foram encontrados dois macacos mortos em Itabira, um na região do bairro Barro Branco e o outro na portaria da mina Conceição, da Vale. Os corpos desses animais foram encaminhados para exames na Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte. Os resultados devem sair em 30 dias.
Segundo informou a superintendente de Vigilância em Saúde, a Polícia Militar Ambiental fez vistorias nas áreas da Vale – e também no Parque Natural Municipal do Intelecto e na zona rural. Nenhum outro símio foi encontrado morto no município.
“O macaco é vítima da doença assim como o homem”, afirma Thereza Horta.
“Se há rumores de epizootias (doenças que acometem animais, como é o caso da febre amarela), o macaco acaba sendo a nossa sentinela. A sua morte é como um sinal de alerta”, explica,
A morte súbita de macacos pode indicar, após exames laboratoriais, que o vírus está presente na área onde vivem. “Os macacos são os principais hospedeiros do vírus da febre amarela silvestre, mas o homem ao entrar em contato com a natureza, pode também ser infectado, caso não tenha sido vacinado.”
Proliferação de focos do Aedes aegypti é o que mais preocupa
Embora não se tenham ainda neste ano casos confirmados de dengue, chikungunya ou zica, é preocupante a proliferação de focos do mosquito Aedes aegypti por toda a cidade. O último Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa), realizado entre 8 e 12 de janeiro, registra em Itabira uma infestação de 6,7% (leia mais aqui).
Trata-se de uma situação de alto risco, segundo parâmetro do Ministério de Saúde. São consideradas condições satisfatórias abaixo de 1%, já acendendo o sinal de alerta quando os índices se situam entre 1% e 3,9%. Índice superior a 4% é considerado risco de surto, como é o caso de Itabira.
O clube Valério, no bairro Campestre, foi o local onde foi encontrado mais focos com larvas do mosquito, registrando índice de infestação de 50,00%. Segundo informa a Prefeitura, os focos existentes no clube já foram eliminados.
Mas falta ainda fazer a limpeza completa, o que deve ocorrer em duas etapas agora em fevereiro – a primeira com a retirada de resíduos que possam represar água e, em seguida, fazendo a capina do mato nas áreas internas do clube.
“Diferentemente da febre amarela, em que a única coisa que a pessoa tem a fazer é se vacinar, no caso dessas outras arboviroses é possível impedir a proliferação do mosquito vetor, desde que os moradores tomem os cuidados ambientais necessários”, considera Thereza Horta. De um total de 1.932 domicílios visitados para a realização do índice LIRAa, em 130 foram encontrados focos. A maior incidência foi em residências, com registro de 90% dos casos.
Entre os cuidados imprescindíveis para eliminar os focos do mosquito estão a cobertura por completo das caixas d’água e piscinas, assim como a retirada de vasilhames que acumulam água nos quintais e de quaisquer reservatórios com água, seja limpa ou suja.