Presidente e diretor-técnico do Saae divergem sobre racionamento de água na estiagem
O presidente do Saae, Leonardo Lopes, disse na reunião do grupo Água, realizada nesta quinta-feira (6), no auditório da autarquia, que Itabira já está convivendo com racionamento de água, conforme foi comunicado à Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais (Arsae-MG), Prefeitura e Câmara.
“Na ETA (estação de tratamento de água) Gatos trabalhamos com 90 litros por segundo (l/S) e estamos operando com cerca de 48 l/S. Já acionamos os geradores a diesel como medida emergencial para bombear água de outros cursos e suprir essa defasagem”, disse ele, contestando a informação do diretor-técnico da autarquia, Jorge Borges, para quem, se houver racionamento neste ano, será por curto período.
Segundo informa o diretor técnico, na terça-feira (4) a vazão da ETA Gatos estava em 65 l/s. Uma queda, portanto, de 25 l/s – e não de 48 l/s como foi informado pelo presidente do Saae na reunião de hoje.
Ainda de acordo com Leonardo Lopes, a produção de água em Itabira, que tem capacidade nominal de 400 l/s, já teria caído para 280 l/s. “As chuvas deste ano estão abaixo da média histórica”, disse ele, ao justificar a decisão de a autarquia dar início ao racionamento.
Essa informação do presidente do Saae, no entanto, mais uma vez não bate com os dados apresentados pelo diretor-técnico. Segundo Borges, embora seja necessário que a população faça uso racional e economize água, nem de longe a estiagem de agora se compara com a dos anos anteriores.
“A situação não é crítica como foi no ano passado”, reafirma o diretor. “Nos anos anteriores, tivemos de ligar os geradores no mês de maio tanto nos Gatos como na Pureza. Neste ano, só agora em setembro estamos buscando reforço para ETA Gatos”, disse.
Segundo ele, para o reforço do sistema Pureza ainda não foi preciso o emprego das bombas para captar novos recursos. “O sistema está com boa vazão”, assegura o diretor.
“No próximo mês devemos operar com os geradores também na ETA Pureza”, adianta o presidente do Saae.
Estiagem amena
Para o diretor do Saae, a estiagem mais amena neste ano ocorre em decorrência das chuvas que caíram até maio, retornando em agosto. “A estiagem será por um período curto. Em outubro já devemos ter as chuvas de volta”, prevê Jorge Borges.
Além disso, ele salienta que, nos anos anteriores, o reforço obtido com as bombas não conseguia suprir a capacidade nominal de todo o sistema, que é de 400 l/s.
“Para este ano, além de a estiagem ocorrer por um período mais curto, o uso das bombas será só para suprir uma pequena queda na vazão, principalmente do sistema Gatos. Pureza se mantém ainda com boa vazão”, acrescenta.
De qualquer forma, a necessidade de a população fazer uso racional e economizar água é imprescindível durante todo o ano.
“Se for preciso, o Saae irá fazer as manobras necessárias para que não falte água, inclusive nos bairros localizados nos pontos mais altos da cidade”, adianta o presidente da autarquia
Criando dificuldades para vender facilidades
Ao mesmo tempo em que é decretado o estado de racionamento de água, a Prefeitura publicou nesta quinta-feira, no diário oficial, edital abrindo consulta pública destinada a recolher contribuições e informações para realizar uma parceria público privada (PPP) destinada a captar e tratar água do Rio Tanque.
A consulta terá início nesta sexta-feira (7) e será encerrada em 17 de outubro – e as contribuições e dúvidas devem ser encaminhadas para o e-mail consultapublica01@saae.com.br.
A captação no rio Tanque é apontada como solução definitiva para o abastecimento em Itabira – e também para instalar novas indústrias que demandam grande volume de água no processo produtivo.
Mas essa necessidade é questionada. Ocorre que, com a ampliação da ETA Gatos, Itabira passa a contar com uma produção nominal de 500 l/s.
De acordo com dados apresentados pelo próprio presidente do Saae, essa vazão é suficiente para abastecer uma população de até 170 mil habitantes. Pela estimativa do IBGE, em 2018, a população de Itabira é de cerca de 120 mil habitantes.
Com o racionamento de água, a suspeita é de que se procura criar um clima de insegurança com uma possível crise hídrica. Isso para depois vender facilidade, que se concretizaria com a captação de água do rio Tanque.
Essa necessidade é questionada também quando se anuncia o esgotamento das minas da Vale na cidade em dez anos. Além disso, conforme foi anunciado por hidrogeólogos da mineradora, os aquíferos Cauê e Piracicaba, alcançados pela mineração pelo rebaixamento das minas, ficarão disponíveis com água em profusão para abastecer a cidade após a exaustão.
Se com o reforço da ETA Gastos supre a demanda de curto prazo, qual é a urgência de se buscar água do rio Tanque? O custo estimado dessa captação, segundo o presidente do Saae, é de cerca de R$ 60 milhões, sendo que antes se falava em até R$ 90 milhões.
Além disso, há dúvida sobre a viabilidade ambiental dessa captação. Isso por configurar uma transposição de água da bacia do rio Tanque para o Piracicaba, o que a legislação restringe.
Aquíferos
O mais importante talvez seja assegurar para o consumo dos moradores de Itabira o acesso a essa água de classe especial contida nos aquíferos à jusante da serra do Esmeril. “O acesso à água desses aquíferos será o maior legado que a mineração deixará para Itabira”, afirmou um dos hidrogeólogos da Vale ao explicar que o rebaixamento das minas não iria prejudicar esses mananciais.
Esse é um tema que deve entrar em pauta com a instituição do grupo de estudos que irá discutir e apontar as alternativas de sustentabilidade para o município após a mineração,
Se ainda no futuro não for viável a disponibilidade dos aquíferos pela demanda da mineração, que Vale arque com o custo da captação da água do rio Tanque, se a legislação permitir.
Sem isso, a população é que irá pagar a conta, caso seja aprovado o projeto da parceria público-privada. Esse é um tema que a população de Itabira deve estar atenta.
Afinal, trata-se de assegurar o abastecimento futuro da população e criar condições de atrair novas indústrias para assegurar o desenvolvimento sustentável de Itabira.
Diante dessas contradições de informações e fico com a opinião do Borges, é um técnico experiente é muito responsável e está no SAAE há mais de 20 anos, para mim muito mais confiável. Enquanto discutem essa questão da água em Itabira, deveriam está cuidando da preservação do Parque Municipal do Alto do Rio Tanque, na Serra dos Alves. Quem quer água tem que cuidar.
O mais importante deve ser racionalizar o uso da água. reduzir a demanda e não aumentar a oferta.
Talvez seja interessante avaliar quem ganharia com essa PPP, já que aparentemente estaria sendo “adiantado” um processo que precisa ser melhor avaliado e implicará em gastos de muitos milhões de reais, pelo Poder Público Municipal e pela população, com uma obra que pode nem ser realmente necessária, sem contar os futuros custos com a manutenção do “Sistema de Abastecimento do Rio Tanque”…
Além disso, ainda temos outras alternativas de captação mais próximas e mais baratas, como no Ribeirão São José e outros cursos d’água na mesma região.