Povo Guarani sofre mais um ataque de jagunços e PMs em Amambai, Mato Grosso do Sul
Após retomada de Guapoy, em Amambai (MS), indígenas são atacados por policiais e fazendeiros
Rafael Jasovich*
Após indígenas dos povos Guarani Kaiowá retomarem, novamente, parte do território de Guapoy, no município de Amambai (MS), policiais militares e fazendeiros invadiram a área, na manhã desa sexta-feira (24), no intuito de expulsar, através do uso da força, os indígenas – mesmo não havendo ordem judicial. A retomada foi realizada na tarde de quinta feira (23/6).
Na noite dessa quinta-feira (23), o clima já era de tensão e a ação da polícia e fazendeiros se premeditava. Diante das informações dos feridos, do contingente populacional local e do histórico de violência na região, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) teme que a situação evolua rapidamente para um novo episódio de massacre contra os Guarani Kaiowá, como o ocorrido em 2016, em Caarapó (MS).
A reserva de Amambai é a segunda maior do estado de Mato Grosso do Sul em termos populacionais, com quase 10 mil indígenas.
Para os Guarani Kaiowá, Guapoy é parte de um território tradicional que lhes foi roubado – quando houve a subtração de parte da reserva de Amambai. Os indígenas clamam atenção, exigem proteção às suas vidas e seus direitos.
O Ministério Público Federal confirmou, na tarde de sexta-feira (24/6), que a Polícia Federal irá se deslocar até Guapoy.
Além de seguir acompanhando o caso, o Cimi pede, com urgência, o envolvimento de órgãos federais, bem como do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), a fim de controlar a situação e investigar os episódios.
Em filmagens realizadas pelos próprios Guarani e Kaiowá é possível ver uma centena de homens armados, queimando motos e demais posses dos indígenas.
A maioria dos indivíduos está vestida com um uniforme preto; nas filmagens, é possível ouvir gritos de: “Bugres! Bugres!”, forma pejorativa usada para se referir aos indígenas na região sul do país.
Caminhonetes circulam como moscas ao redor dos homens de preto e das enormes fogueiras usadas para incendiar tudo o que antes era o pouco que esses Guarani e Kaiowá possuíam.
É preciso cobrar do Ministério da Justiça, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal rigor na apuração dos fatos e total empenho para que a investigação não fique a cargo do “poder político local” submetido aos ruralistas.
Todo repúdio a essa “burguesia colonizada” de Mato Grosso do Sul que juntamente com os ruralistas noticiam de forma comemorativa a morte de liderança indígena. Esquecem que antes de ganhar o rótulo de “índios” e “não índios”, os povos originários são seres humanos, filhos de Itukó’oviti.
Os índios Guarani Kaiowá reafirmam que Ñande Rú Marangatú é questão de honra para os povos indígenas do MS e por isso não irão recuar.
Até o momento, três guaranis foram assassinados, crianças e mulheres foram feridas.
Rafael Jasovich é jornalista e advogado, ativista da Anistia Internacional.