Política de diversificação econômica fracassa e teve até empresa fantasma

Carlos Cruz*

No governo de Luiz Menezes (1989-92) foi criado o Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social de Itabira (Fundesi), além da Agência de Desenvolvimento de Itabira (ADI). À semelhança do que faz o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por um longo período o governo municipal emprestou em condições vantajosas, com juros subsidiados e longo prazo de carência para pagamento, recursos para que novas empresas se instalassem no município.

Empresários, principalmente de outras praças, esbaldaram-se com esses empréstimos, estabelecendo  por curtíssimo tempo no Distrito Industrial. Indústrias de confecção vieram para cá. Geraram poucos empregos por um curto período – poluíram o córrego da Pureza com os seus efluentes. Fecharam as portas e deram adeus para Itabira, que ficou mais uma vez no prejuízo.

Não se sabe até hoje se acertaram as dívidas com o Fundesi – o atual governo ficou de levantar a relação dos devedores inadimplentes e também a relação das empresas que fizeram acertos por meio de acordos chamados de dação (leia aqui).

Consistem em acertos entre o credor (a Prefeitura) e o tomador de empréstimo, para que as dívidas fossem recebidas por outro meio que não seja o pagamento. São acordos que ocorrem geralmente em prejuízo ao erário municipal. A Prefeitura ficou de levantar esses dados e apresentá-los até meados deste ano, assim como a relação dos inadimplentes.

No governo Li, a expectativa era gerar mais de 5 mil empregos diretos em atividades produtivas sem vínculo com a mineração. Hoje, o distrito gera cerca de 2 mil empregos diretos. Abriram até um novo distrito industrial, só agora ocupado pela Unifei. E o que ficou do Fundesi? Pouca coisa. Apenas algumas empresas ligadas ao setor metalmecânico, e que têm como principal cliente a própria Vale.

A história registra também empresa que recebeu recursos do Fundesi, importou equipamentos caríssimos, e nunca funcionou: a Tercom. Só gerou empregos para os seus acionistas na fase de implantação, que não foi concluída.

Com o grande índice de inadimplência e o fracasso da política de atração de novos empreendimentos, conclui-se que essa política de “dar” dinheiro para empresários se revelou um retumbante fracasso.

Além disso, recursos do Fundesi foram alocados em projetos de piscicultura, apicultura e produção de alimentos nas pequenas propriedades rurais. Salvo poucas exceções, quase nada também resultou dessa política de geração de renda e sustentabilidade para os pequenos produtores rurais beneficiados.

É urgente que se restabeleçam os objetivos iniciais da Cfem (leia aqui), por meio de uma legislação específica, que deve ser debatida pelos vereadores na Câmara Municipal e por toda a sociedade antes de ser sancionada pelo prefeito. Sem a correta aplicação desses recursos, Itabira corre o risco de virar cidade fantasma com o fim da mineração (saiba mais aqui).

Sem isso, só restará lastimar, em um futuro não muito distante, por mais essa derrota incomparável. “Tudo aqui é inerte, indestrutível e silencioso. A cidade parece encantada. E de fato o é. Acordará algum dia? Os itabiranos afirmam peremptoriamente que sim. Enquanto isso, cruzam os braços e deixam a vida passar. A vida passa devagar em Itabira do Mato Dentro”, já bem disse Drummond, em a Vila de Utopia (leia mais aqui). Tomara que isso mude a tempo de reverter essa histórica letargia – e marasmo.

*Carlos Cruz é jornalista, editor de Vila de Utopia

(Foto aérea de Humberto Martins)

 

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