Poeira e doenças respiratórias aumentam com tempo seco
Na sessão da Câmara dessa terça-feira (5), Dia Mundial do Meio Ambiente, o vereador Agnaldo ”Enfermeiro” Vieira Gomes (PRTB) propôs que os vereadores debatam com a área de saúde da Prefeitura e com a Vale sobre as medidas que têm sido tomadas para amenizar as doenças respiratórias que acometem boa parte da população itabirana, principalmente neste período de estiagem, quando aumenta a poeira na cidade.

“Temos que avaliar as responsabilidades por essas doenças respiratórias. E se for o caso, responsabilizar a Vale para que as pessoas acometidas com essas doenças sejam devidamente tratadas”, propôs.
Conforme lembrou o vereador, em atendimento a uma das condicionantes da Licença de Operação Corretiva (LOC), a Vale contratou um estudo epidemiológico para saber quais são os efeitos dessa poluição na saúde da população.
“Foi constatado pela equipe do doutor Paulo Saldiva que a poeira é prejudicial à saúde, notadamente provocando doenças cardiovasculares nos idosos e doenças respiratórias diversas nos moradores de todas as idades”, afirma o vereador.
O estudo epidemiológico dos impactos da poluição do ar na saúde da população itabirana, citado pelo vereador, foi realizado em 2005 pelo Laboratório de Poluição Atmosférica, da Universidade de São Paulo (USP), sob coordenação do médico patologista Paulo Saldiva.
No entanto, o resultado não foi conclusivo, tendo sido sugerido que fossem realizadas mais pesquisas para que fosse estabelecida a relação de causa e efeito. Porém, o aprofundamento desses estudos não foi realizado.
“Assim como ocorre em outras cidades, também em Itabira as doenças respiratórias aumentam no inverno e diminuem no verão. A causa não é só a poeira, mas essas doenças são agravadas ou aceleradas por ela”, disse o professor Saldiva, em reunião em julho daquele ano, na Câmara Municipal.
Monitoramento
De acordo com o professor Saldiva, para mitigar o problema, antes de tudo, é importante manter os índices de poluição bem abaixo dos parâmetros recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – e também pelas resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e da Deliberação Normativa Codema, de 2007, que estabelece parâmetros mais restritivos.

Por essa deliberação do Codema, a concentração média geométrica anual passa a ser de 60 microgramas por metro cúbico (µg/m³) de ar, sendo que antes essa média era de 80 µg/m³. Isso enquanto a concentração média de 24 horas não pode ser superior a 150 µg/m³ (antes era de 240 µg/m³), não podendo ocorrer mais de uma vez no ano.
A Vale faz o monitoramento da qualidade do ar em Itabira desde 1985. Antes, esses dados não eram divulgados – e só se tornaram públicos depois que o então promotor José Adilson Marques Bevilácqua abriu inquérito e foi instaurada uma ação civil pública.
Em março de 2002, a empresa instalou a rede automática de monitoramento da qualidade do ar. Desde então, os dados são repassados de hora em hora aos órgãos ambientais, mas só são tornados públicos nas reuniões mensais do Codema.
Nessas reuniões, os conselheiros ouvem a apresentação, mas nada questionam. É preciso que esses dados sejam divulgados em tempo real para a população e também para os estudiosos desse impacto. Entretanto, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente se nega a tomar essa medida que, segundo a Vale, seria de sua responsabilidade.
Fontes diversas

O estudo epidemiológico coordenado pelo professor Saldiva aponta também outras fontes de poluição do ar que precisam ser monitoradas e mitigadas. “A emissão de material particulado por veículos automotores é ainda desconhecida em termos de magnitude”, acrescentou o especialista em doenças respiratórias.

O vereador Rodrigo “Diquerê” Assis (Podemos) lembrou que foi aprovada pela Câmara uma lei, já sancionada, que pune quem provoca queimadas na cidade. “É uma situação que se agrava também nessa época do ano. É preciso aumentar a fiscalização da Prefeitura para coibir esse tipo de prática nociva ao meio ambiente e à saúde dos moradores”, sugere.
Vale diz que faz controle permanente
Em resposta a este site, a assessoria de imprensa da Vale diz que a função do monitoramento realizado pelas estações da rede automática é registrar as concentrações de partículas totais em suspensão e as inaláveis. Ou seja, a poeira que se encontra na atmosfera. E, com base nesses dados, avaliar continuamente se os níveis estão dentro dos parâmetros técnicos e legais estabelecidos.
Entre as medidas de controle e mitigação para diminuir a poeira, a empresa faz a umectação das vias por caminhões pipa, além de utilizar postes com aspersores para pulverizar água nas vias de acesso às minas. Aplica também polímeros em carregamento de minério em vagões, e também em taludes não revegetados, para que se forme uma película que evita a dispersão de poeira pelo vento.
Outra medida de controle é a reabilitação e revegetação de áreas mineradas. “Caso o limite (de poeira) estabelecido seja ultrapassado, a Vale pode adotar medidas como intensificação da aspersão de água das vias das minas com caminhões pipa, remarcação de desmontes de rochas e até mesmo suspensão temporária de parte das atividades da mina”, informa. “Mesmo com a instalação das novas usinas, a Vale não registrou ultrapassagem dos limites estabelecidos”, garante a mineradora.
É poeira para dar de pau!
E os donos da mineradora fazem de conta que não é com eles, afinal de contas só conhecem aqui por fotografia.
Seria bom eles passarem o inverno seco aqui, para terem a mínima noção do tanto que faz mal esse pó pesado de minério nos pulmões.