Poeira da Vale e queimadas continuam poluindo o ar de Itabira neste início de dezembro

Fotos: Carlos Cruz

Se até recentemente o flagelo do pó preto carregado de partículas de minério em suspensão na atmosfera de Itabira tinha no mês de agosto o seu maior desgosto com a estiagem e ventos fortes, isso já não é mais um recorte válido.

É que esta segunda-feira (4), um vento forte que parecia anunciar chuva, entre 15h30 e que não havia chegado até o fechamento desta reportagem às 16h40, carregou o ar de Itabira com a poeira vinda das minas da Vale, numa clara demonstração de que as novas medidas de controle, anunciadas na reunião do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema) em 15 de setembro, não estão surtindo efeito.

A poeira da Vale, e mais a fumaça de queimadas poluiram o ar de Itabira na tarde desta segunda-feira

É uma clara demonstração de que as medidas de controle da poeira adotadas pela Vale não são suficientes para diminuir a poluição do ar em Itabira, que sempre vai existir pelo menos enquanto a empresa não reabilitar as áreas mineradas com cobertura florestal.

Pelo que se viu de poeira levantada pelo vento soprando da serra do Esmeril em direção à cidade, fica evidente o contraste em relação a outras áreas da própria mineradora onde já está mais ou menos avançado o processo de reabilitação com revegetação.

Enquanto a poeira era levantada nas minas descobertas, no mesmo horário na mina Chacrinha nada teve de arraste eólico, provando que a única medida eficaz para conter a poluição da Vale é a revegetação

Enquanto das minas Periquito, Onça, Conceição ocorria o arraste do pó preto pelo vento forte soprando em direção à cidade, já na mina do Chacrinha, onde a vegetação encobre a encosta, não se viu a geração de poeira. É a prova que se tem de que o melhor meio de conter o pó preto é com revegetação das áreas expostas que não estão sendo mais mineradas.

Portanto, a reabilitação da serra do Esmeril precisa ser ampliada urgentemente, se é que a Vale pretende cumprir o que está disposto na deliberação mais restritiva com os parâmetros admitidos pelo Codema para a poluição do ar em Itabira, ao invés de pretender flexibilizá-los por não dar conta de conter a poeira a níveis “aceitáveis”.

Essa é a medida mais eficaz – apenas subsidiariamente é que se entra com as aspersões de vias de acesso e aplicação de polímeros em áreas com solo exposto e que ainda serão mineradas. Sem isso, torna-se uma contradição evidente a mineradora Vale pretender seguir  ou se comprometer com a ESG (Environmental, Social, and Governance) pois o social e o ambiental ficam comprometidos.

Sem a imediata revegetação, todas as outras medidas se tornam uma panaceia ineficaz e a população itabirana vai continuar sofrendo com as partículas de minério em suspensão, que sujam as residências e penetram nas vias áreas superiores, agravando doenças respiratórias, podendo chegar aos pulmões agora com as partículas mais finas provenientes dos moinhos que trituram os itabiritos duros, assim como das novas pilhas a seco de rejeitos e material estéril

Queimadas

As queimadas em lotes vagos na cidade também continuam poluindo Itabira nesta época do ano com o atraso das chuvas

Além toda a poeira, itabirano continua sofrendo também com as queimadas que estão espalhadas por toda cidade também nesta época do ano – e não mais apenas no período de estiagem, como se observa nesta segunda-feira, início de dezembro.

Faltam campanhas intensas de prevenção de queimadas por todos os meios, inclusive em outdoors espalhados pela cidade, como se via no passado, e que foram abandonadas pela atual administração municipal e também pela própria mineradora Vale, que é obrigada a cumprir, permanentemente, com a condicionante relativa à educação ambiental.

Fabricação de carvão vegetal em local próximo ao anel rodoviário e da rampa de voo livre continua sem licença ambiental e sem fiscalização, poluindo também o ar de Itabira

A prefeitura de Itabira é omissa ao não fiscalizar e punir os responsáveis por lotes vagos que são castigados pelas queimadas.

A fiscalização da qualidade do ar em Itabira é uma das atribuições da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, mas não se tem notícias de algum proprietário que tenha sido multado por colocar fogo em lote vago.

Assim como não se vê também a Polícia Ambiental Militar agindo no sentido de coibir essa prática nefasta ao meio ambiente e à saúde da população.

Sofre com isso duplamente os moradores de Itabira com a omissão e prevaricação das autoridades municipais.

É preciso agir nessas duas frentes de poluição do ar, se é mesmo verdade o que se propõe com a parceria da Vale com a Prefeitura de Itabira por meio da plataforma Itabira Sustentável, que diz buscar meios para se ter uma cidade melhor para se viver.

Que comecem a agir então desde já, Prefeitura e Vale, pois as vias respiratórias e os pulmões do itabirano não podem esperar por um futuro sustentável. Que seja aqui e agora.

 

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