“Pode chegar, vem pra cá, mas cuidado com o cachorro.” Vida no campo em Itabira é aprazível, mas há “pedras” que ainda não tiraram do caminho
Valério Adélio*
Há alguns anos estamos estruturando um local para receber os amigos e quem sabe abrir para o turismo. Para isso, procurei seguir a máxima que Elke Maravilha nos ensinou: “o importante nessa vida é conviver, criança!”
Venho a meu tempo construindo um retiro na base da Agrofloresta, Permacultura e Fitocidas, o que, no seu conjunto, podemos resumir em agroecologia, ou parte dela, conforme tem propagandeado esse site como contraponto ao desgastado agronegócio, designação geralmente associada ao uso intensivo de agrotóxicos, pesticidas, desmatamento.
Mas como diria sô Domingos (morador do Maná), “vamos ao que interessa.”
Morar na zona rural não é fácil, embora seja bonito e gostoso. Nossa vida no campo é saudável, mas é também penosa pela ausência de muitos itens básicos que deveriam ser supridos pelo Estado e que invariavelmente não cumpre com as suas obrigações.
Mas, contudo, a vida no campo tem lá seus dias “inesquecíveis”, como diria Inez Santos, ex prefeita de Bom Jesus do Amparo, política que está no seu nono mandato de vereadora na vizinha cidade.
É assim que no rancho beira-chão que dispomos no distrito de Senhora do Carmo passamos os finais de semana, volta e meia dando informações sobre onde fica a cachoeira dos Marques e outros bucólicos atrativos dessa região maravilhosa em que vivemos.
Digo isso por uma razão bem simples e que é também uma reivindicação necessária e urgente quando se fala em incrementar o turismo em nossa região: falta sinalização.
E não é que essa deficiência me trouxe um presente: a falta de sinalização levou até o nosso sítio alguns jovens perdidos que aceitaram conviver com a gente por alguns instantes. E para a grata surpresa me presentearam com algumas postagens no Instagram que achei interessante veja algumas delas:
“Acredito que nada nessa vida acontece por acaso. E eu posso dizer que vivi momentos inesquecíveis, indescritíveis, abençoados e sem explicações neste dia. Foi uma mistura de sentimentos, de alegria, desespero, emoção, tensão, livramentos, permissão, alívio, paz, sabedoria, conhecimento, refrigério, decisões, risos e no final o cuidado de Deus.”
“Foram tantas conversas com Deus no caminhar dessas trilhas que me sinto privilegiada pela oportunidade de estar em Serra Dos Alves.”
“O mundo gira sempre no sentido certo, na hora certa, nada está atrasado ou adiantado, tudo acontece do jeitinho que tem que ser.”
“Que fim de semana maravilhoso. Só tenho agradecer a Deus e a vocês, meus amigos, por essa aventura deliciosa, surreal que vivemos nesses dias.”
“Agradeço ao Valério e sua esposa Stael que em meio as nossas trilhas perdidas fomos pararem sua casa e que abriu a porta dela pra gente sem nem ao menos nos conhecer. Em pouco tempo de conversa foram tantos aprendizados que só quem viveu sabe o que estou falando. Em palavras não consigo expressar tamanha gratidão a todos e a tudo que foi vivido.”
Só tenho a agradecer a Deus e a todos vocês que fizeram parte desse fim de semana. O que vai ficar na fotografia são os laços invisíveis que havia.” (Taty Tavares).
“Nunca imaginei ficar perdida e ao mesmo tempo ser encontrada e me encontrar.”
“No fim de semana em que fui proibida de caminhar, me deparei com um Quilombo (local escondido e protegido), onde fui bem cuidada e recebi tratamento com lama medicinal, aprendi como lidar e ter contato com a natureza.”
“Resumo: indescritível e se contar tudo que foi vivido ninguém acredita.”
“Deus, espiritualidade, energia, emoção, cultura e muita proteção!” (Jessica Lima)
Confesso que eu me emocionei com todo esse retorno do André Luiz, Jessica Lima, Lídia Alves, Taty Tavares, meus ilustres visitantes perdidos.
Entretanto, o que eles aqui no Quilombo viveram não foi nem dez por cento do que vivo diariamente quando posso estar na zona rural. Mas mesmo pelo pouco que receberam, saíram satisfeitos com a recepção.
Contudo, até mesmo refletindo com esse acontecimento, tenho tido algumas preocupações com relação à nossa região. Leio aqui mesmo neste site Vila de Utopia, que elas não são só minhas.
Comungo com o que li da escrita do também morador dessa região, na Serra dos Alves, o Carlos Henrique Moura Andrade, presidente do Instituto Bromélia, publicada neste site.
Pois, é. Como se observa, muito há que ser feito para o turismo se desenvolver e tornar-se sustentável não somente no marketing oficial, mas de fato e de direito, para turistas e, sobretudo, para os moradores.
Falta sinalização, falta manutenção das estradas, falta telefonia, falta coleta de lixo e, principalmente, atenção aos que tentam fazer diferente e dotar a região de boas condições de hospitalidade.
Cantinho da Serra
Há poucos dias fiquei sabendo que o restaurante Cantinho da Serra, meu vizinho, fechou as portas por denúncias de que estaria irregular por não estar legalizado junto à prefeitura.
Um lugar aprazível, limpo, que serve o que se planta sem agrotóxicos venenosos, mas que teve de fechar por não ter seguido os trâmites burocráticos para o seu funcionamento.
Cansados de lutar sozinhos, os donos fecharam esse promissor restaurante, que foi, inclusive, elogiado pelo prefeito Marco Antônio Lage, que lá esteve depois da eleição. E postou em sua rede social:
“Aproveitei o sábado para percorrer a zona rural de Itabira, entre Ipoema e Senhora do Carmo, e ver de perto as condições de estradas e como anda a prestação de serviços públicos. Nessas andanças, parada obrigatória no restaurante Cantinho da Serra, na região do Maná, para uma conversa com a extraordinária Zilma.”
“Conversamos sobre medidas que podem ser adotadas para melhorar a vida de quem mora no campo, entre elas a reativação do Conselho de Produção Rural Sustentável, fundamental para o desenvolvimento de quem depende da terra para se desenvolver.”
A partir dessa visita, os proprietários Zilma e Zé Roberto passaram a sonhar que poderiam contar com assistências diversas.
E o que vemos agora é o fechamento de um restaurante singular no meio da natureza, um lugar para o turista se deliciar com a autêntica comida mineira, preparada com carinho, com verduras colhidas ali mesmo, com a frescura do orvalho, servida em um restaurante ao pé da serra, daí o nome Cantinho da Serra.
A sua localização é estratégica, entre os distritos de Ipoema e Senhora do Carmo, bem no meio do mato, longe da balbúrdia da “civilização” e perto do paraíso: cânion dos Marques e algumas das mais bonitas cachoeiras da região, entre os parques Nacional Serra do Cipó, Municipal Alto do Rio Tanque e Estadual Mata Do Limoeiro.
Mas o restaurante foi fechado pela burocracia municipal que nem Kafka explica, perdendo o casal empreendedor o complemento da renda familiar, assim como perde o turista e mesmo os moradores vizinhos.
Perdemos todos um lugar aprazível, aconchegante para se matar a fome depois de uma longa caminhada pelo Mato Dentro.
Apoio necessário
Pelo que já observo, o casal vai continuar investindo na agroecologia que praticam com louvor, como pôde observar quem frequentou o seu restaurante, que deixa saudade. Mas esperamos possa ser reaberto, pois é inadmissível tamanha insensibilidade da burocrática e kafkiana fiscalização.
E aqui, nesse espaço da Vila de Utopia, faço um apelo ao prefeito Marco Antônio Lage: cobre de sua assessoria, das secretarias de Desenvolvimento Econômico e Turismo, de Agricultura, Meio Ambiente, da administração distrital que revejam essa posição de determinar o fechamento do restaurante.
Que orientem o casal sobre o que devem fazer para reabrir o seu restaurante, assim como apresentem outras soluções e incentivos para que outros empreendimentos dessa natureza possam se desenvolver, respeitando o que precisa ser feito, mas sem o entraves burocráticos que em nada acrescentam à qualidade dos serviços prestados aos turistas e moradores vizinhos.
Invista, senhor prefeito, pra valer na nossa zona rural, privilegiando a agroecologia, que os resultados serão multiplicados.
Cobre também da Itaurb, que parou de coletar lixo na zona rural. Sei que a Prefeitura tem investido na melhoria das estradas rurais, mas é preciso olhar também para as vicinais, que são muitas e precisam também de reparos urgentes.
São decisões simples que mudam a realidade. Basta ter vontade política, a mesma que o senhor manifesta pelas redes sociais, mas que precisa urgentemente ser colocada em prática no sentido de multiplicar as boas iniciativas, e não fechar como vimos acontecer com o restaurante Cantinho da Serra.
Aqui, em se plantando tudo dá. Mas se não puderem ajudar, que não atrapalhem quem procura fazer o melhor para o seu crescimento pessoal e desenvolvimento do turismo em nossa região.
Desenvolvimento que somente será sustentável se resultar em melhoria das condições de vida de quem vive em nossa zona rural.
Cantinho da Serra me corrigi
Diferentemente do que foi divulgado em postagem anterior neste site, o pessoal do restaurante Cantinho da Serra, mais especificamente o filho da Zilma, me procurou para fazer uma correção.
Segundo ele, apesar da fiscalização necessária, mas que não precisa ser tão rígida e burocrática, o restaurante foi fechado por questões pessoais. “Não foi por determinação da Prefeitura”, ele me corrige.
Mas agora, cumprida as exigências e já sem as questões pessoais, o restaurante foi reaberto com todo o requinte reconhecido pelo esmero da cozinha, com alimentos colhidos na horta agroecológica que a família cultiva sem uso de agrotóxico. A produção é também vendida no distrito de Ipoema.
*Valério Adélio R. dos Santos é pequeno produtor rural e jornalista (MT: 18115/MG)
Vc que usa a estrada de Ipoema para o Carmo, e seu carro enche de poeira e nas próximas chuvas vai ficar sem transitar. Vc que mora no distrito do Carmo e Ipoema que está com esgoto na porta de sua casa, usa água de cisterna, ruas de difícil acesso. Lembre-se estes vereadores votaram contra vc, lembre-se deles nas próximas eleições: Neidson, Rose Félix, Reinado Lacerda, Robertinho, Heraldo, Tãozinho Leite, Rodrigo Diguere, Sidney do Salão, Luciano Sobrinho e o Júlio Contador. Eles trairam os itabiranos.
Eu tô cansado da cidade, eu quero ir pro mato
Tem de tudo lá: porco, galinha, pato
Tem carroça, tem cachorro, tem carro de boi
Correguinho sempre tem(Karnak). Cantinho da Serra, já!
Tem carrapato, carrapicho, tem cobra, tem vespa e muita abelha cachorro é pior tem vagabudos que ficam querendo acabar com seu sossego
Restaurante maravilhoso!!!
Pessoas amorosas e comida fantástica.
Ôooooo saudade!