Pequenas notas relevantes sobre Itabira

Mina de Ferro de Itabira, MG (1976). Pintura de Djanira Santos.  “Djanira: a memória de seu povo”, Coleção do Museu Nacional de Belas Artes, Rio

A derrota incomparável começa em 1942 e recrudesce em 1997/2009 – XII –

Pesquisa: Cristina Silveira

 Páginas de Diário 

Carta de Drummond ao presidente da Câmara Municipal de Itabira

1980 – Março, 24 – Carta ao presidente da Câmara Municipal de Itabira, dizendo-lhe que não tenho condições para defender os interesses de nossa terra junto ao Governo e à Companhia Vale do Rio Doce, por haver tomado atitude contraria a ambos. Incompatibilizei-me.

A verdade é que, tendo lutado em pura perda pelas aspirações da população, não me sinto animado a recomeçar. Na ocasião em que poderíamos ter vencido – ou, pelo menos, em que se impunha um esforço coletivo para vencermos – o pessoal de lá votou em massa nos candidatos indiferentes ou contrário à causa de Itabira com relação a Vale (Juscelino e Jango), desprezando os que nos eram favoráveis – Juarez e principalmente Milton Campos. Agora é tarde, e Inés é morta.

*Trecho da crônica “Páginas de Diário”, da coluna DRUMMOND, no JB.

Márcio Sampaio

[Jornal do Brasil (RJ), 15/11/1980. Hemeroteca da BN-Rio]

A grande pergunta:

Para onde foram: o ouro de Ouro preto, os diamantes de Diamantina, o manganês do Amapá e o Pico do Cauê? (Aníbal Moura, em 4/2/2006).

O maior trem do mundo

Puxado por cinco locomotivas a óleo diesel

Engatadas geminadas desembestadas

Leva meu tempo, minha infância, minha vida

Triturada em 163 vagões de minério e destruição

O maior trem do mundo

Transporta a coisa mínima do mundo

Meu coração itabirano

Lá vai o trem maior do mundo

Vai serpenteando, vai sumindo

E um dia, eu sei não voltará

Pois nem terra nem coração existem mais

Carlos Drummond de Andrade [Jornal O Cometa itabirano, edição 69, agosto de 1984]

O Maior Trem do Mundo no Cometa, 69, agosto de 1984: uma “pequena” contribuição de Drummond, por ocasião da realização do I Encontro Nacional de Cidades Mineradoras naquela data. Ilustração: Márcio Sampaio

Salubridade

1985 – Em suas primeiras etapas, o progresso material traz consigo inconvenientes difíceis de contornar. Todos os povos hoje industrializados sabem o preço que pagaram por isso, em termos de desequilíbrio ambiental e desconforto para o homem. O próprio desenvolvimento, porém cria os meios para sanar os danos que provoca.

É incompreensível, portanto, que o aspecto de uma comunidade dedicada à mineração seja hoje o mesmo de cinquenta ou cem anos atrás. Não há porque a população de uma cidade como Itabira, no centro da região ferrífera de Minas Gerais, continue condenada a respirar um ar carregado de poeira do que o normalmente tolerado.

A Vale do Rio Doce, que explora as jazidas da área, é uma grande e moderna empresa, cujas diversificadas atividades em geral desenvolvem-se dentro de padrões aceitáveis de tratamento ecológico. Em favor da sua própria imagem, é de esperar dela que adote medidas administrativas e técnicas destinadas a restaurar a salubridade da vida em Itabira.

[Jornal do Brasil (RJ), 26/11/1985. Hemeroteca BN-Rio]

Cartas. Mineração
Abertura do I Encontro Nacional de Cidades Mineradoras, no Centro Cultural de Itabira, em 16 de agosto de 1984. Da esquerda para a direita, dom Mário, José Augusto Hulse, prefeito de Criciúma (SC), deputado Cássio Gonçalves (MG), José Celso, presidente da Câmara, José Maurício Silva, prefeito de Itabira e presidente da ABCM, deputados Jorge Ferraz (MG), Walmor de Luca (SC) e Manoel Gabriel Guerreiro (PA). Foto: Eduardo Cruz.

Cumprimentamos em nome do povo de Itabira e da diretoria da ABCM-Associação Brasileira de Cidades Mineradoras, o Jornal do Brasil pela corajosa e realista reportagem publicada em sua edição de 24/11/85, em matéria com chamada de primeira pagina, sobre as condições do meio-ambiente profundamente alteradas em decorrência da mineração da Cia Vale do Rio Doce em nossa cidade.

José Maurício Silva, presidente da Associação Brasileira das Cidades Mineradoras (ABCM) e prefeito de Itabira (MG).

[Jornal do Brasil (RJ), 10/12/1985. Hemeroteca BN-Rio]

Contribuinte. Imposto Mineral

A arrecadação do IUM – Imposto Único sobre Minerais, no primeiro semestre deste ano, atingiu Cz$ 1 bilhão 423 milhões, o que significa um acréscimo de 292,66%, em termos reais, em relação à receita desse tributo em igual período do ano passado.

O município mineiro de Itabira teve uma participação destacada na arrecadação do IUM, ou seja, 13,8% do total, inferior à arrecadação das regiões Sudeste, com 55,62%, e Norte, com 16,47%.

O segundo lugar foi ocupado pelo município Presidente Figueiredo, no Amazonas, com 6,72%. O Estado de Minas Gerais foi o que mais recolheu o IUM, com cerca de 46% do total. As regiões Nordeste, Sul e Centro-Oeste participaram com 12,44%, 10,47% e 5%, respectivamente.

[Jornal do Brasil (RJ), 15/10/1986. Hemeroteca BN-Rio]

Quero a Paz

“Quero a paz das estepes, a paz dos descampados, a paz do Pico de Itabira quando havia Pico de Itabira. A paz de cima das Agulhas Negras. A paz de muito abaixo da mina mais funda e esburacada de Mina Morro Velho. A paz da paz. Apoio a Meus Dessemelhantes em favor da Paz”.

Carlos Drummond de Andrade

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