Para as crianças passarem o tempo na Onda Roxa de Itabira
Era uma vez alguém que não tinha casa e então perguntaram-lhe:
– João Sem Casa, que sabes tanta coisa, do que vais tu fazer tua casa?
E ele respondeu:
– Para não sentir calor, vou fazer de gelo a minha casa.
E a casa de gelo de João Sem Casa ficou toda rosada ao sol, depois ficou dourada e depois… ficou nada… É que o sol a derreteu todinha, virando um charco.
– João Sem Casa, que sabes tanta coisa, do que vais tu fazer tua casa?
Outra pergunta veio
E ele respondeu:
– Para não sentir frio, eu vou fazer de fogo a minha casa.
E a casa de fogo de João Sem Casa era vermelha, depois cinzenta e depois negra. É que a chuva veio e apagou a casa que virou cinzas…
– João Sem Casa, pelo que já vistes e aprendestes, mais que ninguém, do que vais fazer tua casa?
E ele respondeu:
– Para não sentir fome, eu a farei de massa pão.
E a casa de João Sem Casa, feita de massa, de amêndoas pisadas e ovos de pata, que era alta, foi baixando, baixando, até que ficou nada… É que vieram quarenta mil ratos e a devoraram.
– João Sem Casa, que ainda sabes mais agora, do que vais fazer a tua casa?
E ele respondeu:
– Para não sentir aspereza, vou fazê-la de plumas.
E a casa de João Sem Casa pareceu primeiro uma nuvem, depois, uma neblina… É que o vento veio assobiando e a espalhou por aqui, por ali, porá além das montanhas, até que era uma vez…
– João Sem Casa, que sabes tanto, que sabes tudo e mais que todos, do que vais fazer a tua casa?
E ele respondeu:
– Para ter uma casa, vou fazê-la como fazem todos, talvez igual a de João de Barro.
E acabou a história e quem falar primeiro vai dormir com a vaca Estrela.
(Crônica popular, recolhida por Cristina Silveira)
Ilustração do dinamarquês Husk Mit Navni