Pandemia não acabou. Em Itabira, taxa de transmissão elevada preocupa as autoridades em saúde e município registra mais um óbito por Covid-19

Foto: Carlos Cruz

Com 104 novos casos registrados só nessa terça-feira (22), fora as centenas de subnotificações de pessoas contaminadas com o novo coronavírus (Sars-Cov2), Itabira reflete o que se passa no país, com aumento exponencial de brasileiros infectados pela doença.

Isso ocorre desde que, antecipadamente, o presidente Bolsonaro decretou, em 22 de maio, o fim do Estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin), antes mesmo de a Organização Mundial de Saúde (OMS) oficializar o seu fim. Em decorrência, estados e municípios flexibilizaram as medidas preventivas de proteção individual e coletiva.

O neurocientista Miguel NIcolelis tem advertido para o risco de surgimento de novas ondas e sequelas entre pessoas contaminadas (Foto: Laura Molineri/Jornal da USP)

Advertências

E não foi por falta de advertência, como tem feito reiteradamente o neurocientista Miguel Nicolelis, que vem acertando com os seus prognósticos sobre a pandemia no país. Ele tem alertado para o perigo das flexibilizações que se seguiram ao decreto presidencial “pondo fim à pandemia”.

Pois é justamente por esse sentimento errôneo que passou a ter a população, achando que a pandemia acabou, que reside o maior perigo não só da volta da contaminação em massa, mas também pelos efeitos colaterais mais graves para os grupos de risco e para aqueles que não completaram o esquema vacinal.

“Este é um dos momentos de maior risco da pandemia”, não se cansa de repetir Nicolelis em inúmeras entrevistas, depois que as medidas de contenção (uso obrigatório de máscara, assepsia das mãos, distanciamento social) foram abandonadas pela maioria da população.

“A janela de imunidade criada pelas vacinas está fechando, novas variantes estão circulando sem barreiras e não existe interesse em informar e alertar a população”, adverte Nicolelis.

O neurocientista critica também o fim da testagem em massa, o que tem deixado o país no escuro sobre a evolução (ou involução) da pandemia. “Os Estados Unidos, que também decretaram o fim da pandemia, já está vivendo uma nova onda da doença (Covid-19).”

Novos surtos

É o risco que o Brasil também ocorre após o relaxamento das medidas protetivas – e o país já pode estar vivendo esse novo surto.  A advertência de Nicolelis vem com um alerta:

“O aparecimento de novos surtos com novas viroses já é um fenômeno global, muito maior do que ninguém poderia ter previsto e que pode ter sido desencadeado pela pandemia da Covid-1”, ele observa.

“Enquanto isso, a população que não tem acesso à informação diferente da que vem dos meios oficiais que decretou o fim da pandemia, relaxa achando que tudo voltou ao normal”, preocupa-se o neurocientista.

Transmissão elevada

Em Itabira, o índice de transmissão (Rt) tem se mantido em alta, com média de 1,66 nos últimos sete dias, de acordo com o boletim Itabira no monitoramento da Covid-19 dessa terça-feira (22).

Quando a Rt está acima de 1, espera-se por uma maior disseminação do vírus – e só quando está abaixo ou igual a 1 o viés é de baixa. No caso de Rt de 1,66, como é o caso de Itabira, para cada grupo de 100 pessoas infectadas, outras 166 podem ser contaminadas, criando-se um ciclo progressivo de contágio.

Pois foi justamente em decorrência dessa Rt elevada que, na semana passada o município registrou 324 novos casos. Somados aos 221 da semana anterior, totalizam 649 pessoas testadas positivas em Itabira nos últimos 15 dias.

Isso pelo registro oficial. Na realidade, o número de pessoas infectadas pelo vírus é exponencialmente maior, pelas subnotificações, assim como pelas pessoas que confirmaram a doença pelo autoteste e não informaram aos órgãos de controle da doença.

Óbitos

Embora os sintomas possam ser leves para quem completou o esquema vacinal, a Covid-19 ainda está sendo, ainda, em alguns casos fatal para idosos e pessoas com comorbidades, como também para quem ainda não está inteiramente imunizado.

O boletim epidemiológico Covid-19 dessa terça-feira registrou o 390º óbito em Itabira, com a morte de uma senhora de 80 anos, com comorbidades, e que estava internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Nossa Senhora das Dores desde 10 de junho.

Há, ainda dois pacientes em tratamento intensivo nos hospitais de Itabira, sendo um da cidade e o outro de Santa Bárbara. E 358 pessoas testadas positivas cumprem o isolamento domiciliar para não espalhar ainda mais o vírus.

Com os 104 novos casos nas últimas 24 horas, Itabira já soma 31.400 casos confirmados de Covid-19. No total, 30.657 pacientes estão recuperados, mas podem, em não raros casos, sofrerem ainda com sequelas da doença.

Registros em alta

Com o avanço do vírus em Itabira, no estado e no país, pode ser necessário recuar com a flexibilização das medidas restritivas, caso não reverta esse viés de alta da doença.

Não é o que os indicadores registram: os sinais são de avanço da pandemia, ainda que com baixa letalidade.

Mas já é o suficiente para preocupar as autoridades em saúde, ainda que a doença se apresente com sintomas leves. Esse aumento ocorre pelo número de pessoas que não completaram o esquema vacinal, como também pelos efeitos colaterais, muitos ainda desconhecidos.

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