Paixões brasileiras

A cantora Anita declarou apoio a Lula para presidente em uma eleição que terá muitas emoções e poucos debates

Foto: Reprodução

Por Montserrat Martins*

 

EcoDebate – Cada povo tem suas características. Os orientais são disciplinados, os italianos expansivos e falantes, os alemães são organizados (inclusive os descendentes, em Gramado).

Qual seria uma característica que podemos chamar de “brasileira”? Eu diria que é ser mais emotivo do que racional, analisar menos, fantasiar mais.

Nos relacionamentos se enxerga muita dessa passionalidade, como ocorre nos casos de “idas e vindas”, casais que se separam e voltam, cheios de ciúmes e saudades.

Também acontece com as pessoas que transferem toda essa paixão e fantasias para um novo relacionamento. E tem quem se envolva em uma paixão irracional “de deixar de pagar as contas”.

Esse espírito emotivo aparece nas paixões brasileiras pela música (a idolatria dos fãs pelas celebridades cantantes), pelo seu time de futebol e mais recentemente pelo modo passional de ver a política, também.

Tudo isso se mistura, por exemplo, no jingle de candidatos, que às vezes decide uma eleição, como já aconteceu pelo menos uma vez no Rio Grande do Sul na década de 2000 com o candidato Rigotto e em Porto Alegre mais recentemente (em 2016) com a eleição do Marchezan, dono do melhor jingle daquele ano.

Jingle pode influenciar até na eleição para presidente do país. Em 2002, por exemplo, foi envolvente o Lula lá, onde o apelo para a emotividade era quase uma confissão de infantilizar o povo com o envolvimento emocional, pois dizia na própria letra “Lula lá, o Brasil criança na alegria de se abraçar”.

O mesmo acontece agora com o jingle do Bolsonaro, que começa falando em Capitão do povo, título emotivo que desconsidera que ele foi reformado do Exército, ou no trecho a favor da família desconsiderando que está no terceiro casamento.

Não são os fatos que importam, o que importa é a capacidade de emocionar, de envolver, através da música.

Nada indica que nesse ano de 2022 teremos algo diferente, racional. Não teremos debates entre os favoritos, não veremos confronto de ideias de gestão, ou como fazer a economia voltar a crescer, ou mesmo como controlar o preço da gasolina e como manter a bolsa de auxílio aos mais pobres após a eleição.

O que vamos assistir é uma “guerra de jingles” entre um candidato apoiado pela Anitta (que tem mais de 60 milhões de seguidores no Instagram) e outro pelos sertanejos Mateus e Cristiano, autores do jingle.

A música e a emotividade, no ambiente das paixões brasileiras, podem influir mais que a realidade ou a racionalidade.

*Montserrat Martins, Médico Psiquiatra, autor de Em busca da Alma do Brasil

 

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3 Comentários

  1. Concordo com o sociólogo Domenico de Masi.
    Sem Boa ESCOLA e SAÚDE o PAÍS não será NAÇÃO para TODOS os brasileiros !
    Vamos votar e vigiar os eleitos em todos os cargos.

    1. Não creio que o Dr. De Masi tenha esquecido de nada. É lógico que pensou na divisão da sociedade… creio inclusive que tenha pensado não só na polarização como também nas classes envolvidas… a consciência de classe é também saber onde quer chegar…politização de questões?? Como assim? O que houve foram questionamentos com base científica!! Simples assim. Vacina é uma terapêutica que funciona, ponto. Depois disso é fazer uma vacina com técnica reconhecida, que vai funcionar para o covid. No caso da aberração que nos “desgoverna”, ele nem tentou fazer nada!! Ele atrapalhou em todas as frentes e tentou depois ganhar “por fora”! Onde? No caso da cloroquina, no caso da vacina covaxin, no caso da ivermectina, no caso de querer empurrar um protocolo descartado pra todo canto, no caso de pagar viagem para Israel para o filho conhecer o spray nasal, enfim tem muitos casos que não dá pra colocar todos aqui.
      Verdades…velhas verdades? Bem … muitas dessas verdades são velhas porque têm comprovações científica, clínica e social. Velhas mentiras são as que ele colocou como as que ” achávamos superadas a séculos ou milênios!!!” A terra ser plana, por exemplo… ATerra é Redonda e abalada nos pelos! Já foi provado isso!! Não temos que gastar energia refutando questionamentos ridículos de gente como Olavo de Carvalho por exemplo!!
      Não basta dizer pra votar e vigiar…tem que votar nas pessoas certas e com as intenções certas. É votar na mesma linha para o Executivo e para o Legislativo. As pessoas certas são as que conseguem dialogar com todos os setores da sociedade…coisa que o atual presidente não consegue e nem quer fazer!…

  2. Sempre admirei o D. Masi. Mas, nestas considerações, ele esqueceu do fator divisão da sociedade. Uma sociedade dividida entre o Nos e Eles, tal como a velha imprensa tem fomentado, é a estratégia que efetivamente levou à discussão e à politização de inúmeras questões, tal como aconteceu com as vacinas por exemplo. Essa divisão nasceu quando? Ela interessa a quem? À meu ver, o que está acontecendo é um processo de Despertar com relação às “velhas verdades” que dominaram as sociedades. Há uma parcela considerável de indivíduos questionando-as, disposta a não se submeter às velhas mentiras que compõem um grande e cruel esquema de dominação das mentes humanas. É evolução! É o eterno e permanente processo de Evolução Social vivendo um pico de contestação. A história o contará.

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