Outubro Itabirano. Crônicas da Itabira do Matto-dentro Imperial I

Foto: Miguel Bréscia

Minha terra tão querida, o seu nome é Itabira

A Vila de Utopia do alto de sua “luminosa insignificância” festeja Itabira durante os 31 dias do mês de outubro, publicando a cada dia uma crônica da Itabira do Matto-dentro Imperial. Outubro itabirano com festança para o Povo da Cidade, para o poeta Carlos Drummond de Andrade (31/10/1902-1/8/1987) e para o Valeriodoce Esporte Clube (22/11/1942).

O programa oficial da Cidade de Itabira incluiu na agenda das comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil (7/9/1822), o mais relevante fato da história do país. A Cidadezinha apoiou e felicitou o ato, também contribuiu para a construção do monumento equestre de D. Pedro I, no Rio. É educativo, importante homenagear o imperador D. Pedro I, herói brasileiro, Soldado Rei, de Portugal.

Ali canta o sabiá /Patativa e Bem-te-vi /O Canário, O Pintassilgo /A saudosa Juriti

A Vila de Utopia oferece ao Povo da Cidade –, representado pelo prefeito Marco Antônio Lage, pela vereadora Rosilene Félix e pelos vereadores  Julio Rodrigues, Bernardo Rosa, Weverton Vetão, Taozinho Leite, Rodrigo Diguerê, Sidney do Salão, Neidson Freitas, Reinaldo Lacerda, Robertinho da Auto Escola, Luciano Sobrinho, Marcelino Guedes, Heraldo Noronha, Júber Madeira, Julio Contador, Carlinhos Motorista, Carlinhos Sacolão, Carlos Henrique –  um pouco de reminiscências itabiranas.

 (Cristina Silveira)

Epifania da tragédia

Leonardo Merçon, Instituto Últimos Refúgios. Agência Brasil

Carta Régia ao Governador, e Capitão General da Capitania de Minas Gerais.

Dom Manoel de Portugal e Castro, do meu Conselho, Governador, e Capitão General da Capitania de Minas Gerais.

E conformando-me com o vosso parecer, e da Junta da Fazenda dessa capitania, sobre a utilidade, e necessidade de muitas, e diversas estradas pelo sertão que separa a capitania de Minas Gerais da capitania do Espírito Santo, a fim de se porem em cultura estes tão vastos e férteis terrenos; aproveitando-se ao mesmo tempo as riquezas metalúrgicas, que neles se deve esperar com toda a probabilidade encontrar, já pela sua semelhança com outros terrenos auríferos da capitania de Minas Gerais, já pelos rios, que correndo por tão vasto sertão, vem formar o Rio Doce, e ele que nas suas cabeceiras, e em alguma extensão do seu curso se tem tirado OURO em grande quantidade desde a descoberta de Minas Gerais até ao presente.

[Correio Brasiliense ou Armazém Literário (Londres (Ingl.), 1817, v. XVIII]

Caeté, Villa-nova da Raynha

Mata reduzida a carvão, pintura de Félix Taunay, 1830

Entre o Sabará e o arraial de S. Barbara se criou a Villa-nova da Raynha, conhecida pelo nome brasílico de Caeté, que vale o mesmo que mato bravo sem mistura alguma de campo. Foi descobrimento do sargento-mor Leonardo Nardes, Paulista, e de uns fulanos Guerras, naturais de Santos. O governador D. Braz da Silveira lhe deu o foral de vila, em 29 de janeiro, de 1714; em virtude da faculdade concedida ao seu antecessor Antonio de Albuquerque. Está situada em 19°. 55’. [Correio Braziliense (Londres, Ingl.), 1819, p.309]

Ouro-preto ou Villa-Rica

O Ouro-preto, que compreende em si vários ribeiros e morros de diferentes denominações, como são Passadez, Bom sucesso, Ouro-fino ou Bueno, &c. teve por descobridores nos mesmos anos de 1699, 1700, 1701 a Antonio Dias, natural de Taboaté, ao padre João de Faria Fialho, natural da ilha de S. Sebastião, que viera por capelão das tropas de Taboaté, a Thomaz Lopes de Camargo, que se estabeleceu nas lavras que depois vieram a ser de Paschoal da Silva, e a Francisco Bueno da Silva, ambos paulistas. Deste tomaram nome alguns bairros de Villa Rica. Foi ereta em vila pelo governador Albuquerque em 2/7/1711. Está situada em 20°. 24’. [Correio Brasiliense ou Armazém Literário, 1819, v. XVIII, p.308]

Villa-Rica. Pintura de Rugendas. Acervo BN-Rio

Rio das Mortes, Vila de S. João e de S. José 

Rio-das-mortes, que os paulistas e viandantes das mais partes atravessavam frequentemente nos primeiros tempos, por distar do Ouro-preto pouco mais de 5 dias de jornada ordinária, foi descoberto por Thomé Portes de El Rey, natural de Taboaté, muitos anos depois do descobrimento das primeiras povoações. Aí se criou a vila de S. João d’El Rey, ficando-lhe ao Leste a de S. José, no lugar chamado a ponta do morro, que foi descobrimento de João de Serqueira Affonso, natural de Taboaté. Foram criadas estas vilas pelo governador D. Pedro de Almeida, em 19/1/1718, S. João está em 21°, 20’ e S. José em 21°, 5’.

Rio das Mortes. Pintura de Rugendas. Acervo BN-Rio.

Além destes tão assinalados serviços em que se vê a grande parte, que tiveram os paulistas, o achado das ESMERALDAS é um fato de muita consequência, para que o passemos em silêncio. Em 27 de setembro de 1654, cometeu o Senhor Rey D. Afonso VI, a Agostinho Barbalho a empresa do descobrimento das ESMERALDAS, facilitando-lhe o fim deste negócio com uma carta, que escreveu o mesmo Senhor a Fernão Dias Paes, cujo zelo e capacidade já eram bem conhecidos na corte, em que lhe ordenava, que prestasse todo o socorro necessário, para a conclusão deste particular. Esta carta fez tanta impressão no espírito generoso de Fernão Dias, como se pode coligir da presteza com que satisfez às primeiras ordens, que nela se continham.

Depois de passados alguns anos, tempo em que já estava no trono o Senhor D. Pedro II, sabendo Fernão Dias que a morte de Agostinho Barbalho não tivera efeito as ordens que trouxera, se quis encarregar voluntariamente, da execução delas, escrevendo primeiro a Affonso Furtado de Mendonça, governador, que era então, daqueles estados, e tinha a sua residência na Bahia, e oferecendo-se lhe para este fim com a sua pessoa, e com todos os seus bens.

Mandou-lhe Affonso Furtado uma patente de primeiro chefe daquela empresa, aos 30/4/1672; e nos -princípios de 1673 se pôs Fernão Dias em marcha com vários parentes e amigos, demandando o sítio, em que Marcos Azeredo fazia certo o descobrimento das ESMERALDAS, e sofrendo trabalhos, e perigos infinitos, chegou à paragem chamada pelos naturais Anhonhecanhuva, que quer dizer água que se some, e entre nós tem o nome de sumidouro.

Aqui se deteve Fernão por espaço de quatro anos, com pouca diferença, e fez várias entradas no Sabará Bossu, que vale o mesmo que coisa felpuda, e é uma serra de altura desmarcada, que está vizinha ao sumidouro, a qual chamam todos hoje comarca de Sabará. Nela achou diversas qualidades de pedras, que por falta de pessoa entendida nestas matérias se lhes não sabia dar o valor, de que talvez eram dignas.

Da sua demora e sofrimentos nasceu a discórdia entre muitos dos seus companheiros, que quase todos conspiraram contra a sua vida, e por último o deixaram só. Neste desamparo, Fernão Dias não esmoreceu, antes cuidou em apressar a derrota, com animo de se dirigir em direitura a Hepabussú, o Vepabassú, que equivale a lago grande, e junto deste se supunham os socavões das ESMERALDAS.

Falto, porém, do necessário para continuar a sua expedição, escreveu a sua mulher, e lhe ordenou se lhe não recusasse coisa alguma do que pedia. Com efeito chegou o postilhão, e trouxe consigo o que Fernão pedia. Puseram-se logo a caminho, e foram discorrendo por uma dilatada montanha, até chegarem a Tucumbira, que quer dizer papo de tucano, e deixando todo este passo avassalado, partiram para Itanurindiba, que propriamente significa pedra pequenina e buliçosa, é um rio muito fértil de peixe, aqui pararam por algum tempo, e esse preveniram contra qualquer invasão do gentio; e ultimamente. Seguindo o rumo do Norte, depois atravessaram grande parte dos incultos sertões, chegaram a ver as águas do Vepabussú.

Aqui cuidou logo Fernão em expedir cem bastardos, (espécie de tropa ligeira) dos que trazia, a fim de explorarem o terreno, e ver se achavam alguma língua, que os informasse melhor do que buscavam. Não se frustrou esta diligencia, porque, vendo os bastardos sobre o cume de uma montanha muita gente, daquela que podia dar notícia das pedras pretendidas, investiram com ela e apenas seguiram um, que sendo conduzido a presença de Fernão, mandou este que com toda a humanidade fosse tratado entre os seus, era este um moço robusto, e de animo seguro, e sendo inquirido descobriu com efeito os socavões de Marcos de Azeredo, junto a um morro, que corre de Norte a Sul. [Correio Brasiliense ou Armazém Literário, 1819, v. XVIII, p.310. BN-Rio]

Encontro de viajantes com indígenas. Pintura de Rugendas, Johann Moritz

Sabará Buçú

O dilatadíssimo sertão de Sabará Buçú foi penetrado muito antes de qualquer das Minas. Portanto os primeiros conquistadores demandavam o Rio das Velhas cujas extensas campinas eram mais povoadas de gentio e férteis de caça; e as primeiras diligencias do ouro e predarias se fizeram à morte de S. Paulo.

Consta que o seu descobridor e denunciante de suas faisqueiras fora o tenente general Manuel Borba Gato, natural de S. Paulo, no ano de 1700. Por inação do governador Antonio de Albuquerque assistiu à repartição o governo Arthur de Sá e Menezes. Passou a vila em 17 de julho de 1711: a sua situação é em 14°, 25°. [Correio Braziliense (Londres, Ingl.), 1819, p.308-309]

Carta topográfica da Vila do Príncipe. Acervo BN-Rio

Serro Frio, Vila do Príncipe

Antonio Soares natural de S. Paulo, avançando maior-salto que todos os outros, atravessou os sertões ao norte de S. Paulo, e descobriu o grande serro chamado de Frio, que na linguagem gentílica era tratado por Hyvitururg por ser combatido de frigiíssimos ventos todo penhasco e intratável.

Do seu descobridor se conserva o nome em uma das suas serras, que hoje se conhece pelo morro de Antonio Rodriguez Arzão, descendente do primeiro Arzão. As grandes preciosidades deste continente, em ouro, diamantes, e pedrarias de todo o gênero, são bem conhecidas por toda a Europa.

Nele se estabeleceu o Real contrato dos diamantes, que tem devido aos Senhores Reis de Portugal a maior vigilância e zelo, especialmente ao Sr. D. Pedro II, de sua saudosa memória, que beneficiou e honrou com muitos privilégios e regalias aos que se empregassem neste exercício, encarregando aos Governadores do Estado do Brasil, D. Francisco de Souza e Salvador Correa de Sá, de promoverem por todos os modos os descobrimentos do OURO, pedrarias e mais haveres, que prometia o longo continente do Brasil, os quais se esmeraram muito na sua comissão.

A capital denominada Vila do Príncipe, foi criada por D. Braz da Silveira, em 29 de janeiro de 1714. Está situada em 14°, 17°. [Correio Braziliense (Londres, Ingl.), 1819, p.309-10]

 

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2 Comentários

  1. O acontecimento mais valioso para o outubro Itabirano será a inauguração do busto do Cornélio Penna num jardim (uma sugestão do poeta Drummond à prefeitura da Cidade). Cornelio é escritor genial e por demais, amante incondicional da Itabira. A obra é assinada pelo nosso artista Genin Guerra; o busto está pronta só falta ir à fornalha pra virar bronze. Está linda, tive o privilégio de ver primeiro, fiquei surpresa com o resultado, o Genin esculpiu o velho Cornélio e lhe um toque de século 21 que atrairá a atenção da juventude. O Prefeito fez muito bem e chamará a atenção do universo literario e artistico pra Itabira. Será um outubro inesquecível, Cornélio num jardim para sempre. Obrigada prefeito, obrigada Genin. Viva itabira!

  2. Ual! Uma homenagem ao Cornélio Penna nao é pouca não. E no momento em que a cultura brasileira foi tomada pelo horror bolsonarista/Bannon, é um alento, é um propósito maior, muito mais grande que o buraco do Cauê. Quando será inaugurado?

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