Ouro, diamante e outros minérios, a riqueza que está por trás da cobiça sobre o território Ianomâmi
Bolsonaro em visita ao território Ianomâmi, ainda presidente: Há 30 anos, o então deputado federal, propôs um projeto de Decreto Legislativo na Câmara Federal que tinha como objetivo derrubar a portaria nº 580, publicada um ano antes, em 1991, que determina até os dias de hoje a demarcação do Território Indígena Ianomami, em Roraima.
Foto: Marcos Correa/Handout, via Reuters
“Toda atenção é pouca à crise dos Ianomâmi”
Por César Benjamin*
Crise dos Ianomâmi – Toda atenção é pouca para o que se passou nos últimos anos nas terras dos Ianomâmi. Não só pela tragédia humanitária em curso, que precisa ser controlada no menor tempo possível. Refiro-me a outro aspecto da questão.
Esse território é riquíssimo em ouro, diamantes e outros minérios preciosos. Instalou-se ali uma mega-central criminosa que reúne a nata do bolsonarismo: militares corruptos nomeados para a Funai, pastores pentecostais, facções criminosas, como o PCC, contrabandistas de todos os tipos, conexões internacionais, tudo junto e misturado no comando de 20 mil garimpeiros ilegais, uma verdadeira infantaria de selva.
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado por Augusto Heleno, sempre esteve presente. É o único caso que conheço em que um general de Exército compartilha o mesmo projeto com o crime organizado.
Já saiu a notícia de que o governo Bolsonaro repassou cerca de R$ 900 milhões para uma ONG pentecostal que fretava aviões para levar garimpeiros para lá. Eles assumiram o controle de todos os aeroportos da região. O então presidente esteve lá, pessoalmente.
Tudo financiado com ouro extraído ilegalmente do território brasileiro. Muito ouro, cujos destino se desconhece.
O extermínio do povo ianomâmi, em curso, era condição para o pleno controle dessa área por um estado paralelo que ainda busca consolidar seu controle territorial em uma região de fronteira tríplice ultrassensível. É um caso típico de segurança nacional no mais alto grau.
O que sabemos até hoje é a ponta do iceberg. Se o esquema instalado nas terras dos ianomâmis e adjacentes for completamente desvendado, cai o núcleo duro do bolsonarismo.
Enquanto isso acontecia, as Forças Armadas estavam ocupadas com as urnas eletrônicas.
*César Benjamin é cientista político, editor e político brasileiro. Durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), participou da luta armada contra o regime, foi perseguido e exilado. Cofundador do Partido dos Trabalhadores (PT), foi também filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), tendo se desligado dos dois partidos. Atualmente, César Benjamin é o editor da Contraponto Editora
*Publicado originalmente no Portal Disparada