Os lucros da fraude alimentar
Veladimir Romano*
No mundo, falsificação e fraude alimentar é maior do que qualquer consumidor consegue imaginar e cresce dia a dia impunemente, um crime muito bem compensado.
Mundialmente, esse lucro vem subindo e vagueia, segundo a fiscalização sanitária de vários países, entre 50 a 67 bilhões de euros anualmente, certificando ainda que dois em cada 10 produtos são falsificados, o que atinge marcas vendidas em supermercados na ordem das centenas de milhões.
Do mel, carnes, peixe, cereais, preparados, azeite, vinhos, massas, leite, queijos, nada escapa aos travessos provocadores dessa gigantesca fraude usando técnicas moleculares.
Exibem perícias suficientemente sofisticadas no domínio dos reagentes químicos e assim se adúltera 14% do mel, 10% da carne, enquanto autoridades policiais apreendem a cada ano até 82 toneladas de produtos com base nas carnes, embutidos/enchidos.
Entretanto, a festa malandra continua. Se é assim no chamado primeiro mundo, imagine o que acontece nos países pobres e em desenvolvimento.
Desde 2013, relatórios entopem várias secretarias do Parlamento Europeu relatando quais produtos são mais falsificados no grande mercado da União. Destacam-se o azeite, mel, xaropes, café, chá, sucos, especiarias, licores tradicionais, aguardentes.
Da falsificação nem produtos biológicos escapam ao golpe delinquente. Mais do que comprovado que o mercado europeu virou bom e fértil campo de negócios com fronteiras abertas quase sem fiscalização, atravessando 27 países com mais de 500 milhões de ávidos consumidores e mais 17 [extra europeu] países, alimentando o gigante processo deste logro cada vez mais revelador do estado moralmente enganador das nações atingidas pela negativa situação.
Com pouca reação dos dirigentes políticos, apenas enchendo o cardápio das leis com mais regras sendo elas notoriamente ineficazes, vivendo entre o dano e a salvação, é preciso que não só as forças policiais, mas toda a sociedade saia combatendo esse mal em defesa da saúde dos consumidores.
Isso enquanto um decreto lei com quase 40 anos, algo desatualizado, não ajuda nem tribunais ou para se fazer justiça e punir os falsificadores. Para se ver que algo vai bastante errado na política europeia.
A uma pandemia sanitária se juntou agora o revanchismo do sistema capitalista limitando a subsistência da grande família humana que vai assistindo ao crescimento dos preços, níveis artificiais da inflação favorecendo a minoria fraudulenta [quando esta precisa fabricar crescimento dos seus dividendos].
Isso enquanto outras forças desejando liquidar suas gigantescas dívidas, esperam na sombra fazendo parelha com a elite especuladora dos mercados onde essa fraude impôs suas regras, sem que as autoridades administrativas, no pleno desleixo das regras, não atua ou muito mal defende direitos dos consumidores, dos fabricantes que têm seus produtos originais adulterados, industriais e da própria Fazenda.
Nos EUA, a FDA [entidade jurídica federal sobre alimentação], denunciou falsificações a 100% nos queijos mussarela, cheddar, suíços, parmesão, desde 2012, o que tem levado à falência os fabricantes originais, que sentem o golpe das falsificações de seus produtos.
A China reclama de novas alergias provocadas pela traficância alimentar adulterada. E segue atrás dos lucros atuando contra tais fraudes, procurando eliminar o problema onde desses lucros que igualmente a pirataria ganha, deixando de pagar alguns deveres [traficando fortunas aos paraísos fiscais], enquanto vai aniquilando empresas cumpridoras de seus deveres, assim com a saúde dos consumidores e a própria economia mundial.
*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.
Melado/melaço vendido como mel sempre teve no Brasil.
Linguiça vendida como de porco e misturada com carne bovina.
Café torrado e moído com prazo vencido que misturam como novo de baixa qualidade e reimpacotado a ser vendido como novo nos armazéns e supermercados.
Óleo de fritura de pastéis reutilizado em restaurantes com venda de pratos de comida a preços mais módicos.
Pães sempre feitos com trigos de baixíssima qualidades e vendidos como de primeira qualidade a alto preço.
Isto tudo e mais um tanto no dia-a-dia do brasileiro, sem contar essas falsificações apresentadas neste artigo.