O período de estiagem mal começou e com o tempo seco as queimadas já se espalham por Itabira
Fotos: Carlos Cruz
Outono chegou sem que as águas de março ainda fechassem o verão, com a enchente de São José, que tarda, mas não falha, a menos que as mudanças climáticas tenham mudado esse roteiro.
O que não se mudam são as indefectíveis queimadas que, com o tempo seco, já que não chove na região de Itabira já há algum tempo, estão por toda a cidade, queimando o mato em lotes vagos, como também em unidades de conservação.
Só em área da Vale, brigadistas da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda), já combateram mais dez focos de incêndios neste ano.
No meio rural essa mesma situação se repete, com sitiantes e fazendeiros praticando a lavoura arcaica, preparando o terreno para o plantio com coivara, essa prática atrasadíssima de colocar fogo no mato seco, matando os micro-organismos que vivem no solo, empobrecendo-o.
A Prefeitura, assim como a mineradora Vale, que dispõe de mais de 15 mil hectares de área verde, entre florestas nativas e ainda as homogêneas (pinus e eucalipto), precisam urgentemente desenvolver ampla campanha contra as queimadas nas escolas, nos bairros – e também na zona rural.
É preciso também, desde agora, abrir novos e limpar os aceiros já existentes para impedir que o fogo, em determinada área, não se propague para áreas vizinhas, protegendo as unidades de conservação, sítios e fazendas da vizinhança.
E que haja maior fiscalização da Polícia Ambiental Militar, e também da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Provocar queimadas e atear fogo no mato e em terrenos baldios são crimes ambientais.
A penalização está prevista com sanções e multas pelas leis federal, estadual e municipal. Mas não se tem notícia, em Itabira, que alguém foi penalizado por essa prática criminosa. O poder coercitivo da lei precisa entrar em ação, penalizando os carbonaros, para que sirva de lição e exemplo.
Um fogo sem controle pode causar danos irreversíveis ao meio ambiente, matando fauna e flora. Foi o que aconteceu no ano passado, na região da Serra dos Doze (Vôo Livre) com grande devastação, em 20 de agosto do ano passado. Também, nesse sinistro, não se tem notícia de que os responsáveis foram punidos ou mesmo identificados.
Leia mais aqui:
A devastação foi maior ainda no Parque Estadual do Limoeiro, em Ipoema, em setembro do ano passado, também causando mortes e destruição da fauna e flora.
Leia também aqui:
Danos ao meio ambiente e à saúde humana
Além de prejudicar o solo e devastar o meio ambiente, as fuligens e as fumaças dos incêndios florestais e queimadas agravam as doenças respiratórias da população, que em Itabira sofre também com o aumento da poeira vinda das minas da Vale.
“São substâncias tóxicas”, afirma a professora Ana Carolina Vasques Freitas, da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), campus de Itabira, graduada em Física pela Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) e pós-doutora em Ciência da Atmosfera.
“Já temos o problema da poeira neste período do ano. Fica em suspensão juntamente com as partículas das queimadas, o que agrava a saúde da população com doenças respiratórias que podem ocasionar mais pressão sobre sistema de saúde da cidade”, constata a professora universitária.
“É preciso também que a população se conscientize para mudar a cultura de se fazer queimadas para limpeza de lotes ou para o preparo do roçado, uma técnica arcaica ainda comum na agricultura.”
Infertilidade
Conforme explica a professora da Unifei, as queimadas tornam o solo infértil, diferentemente do que imagina o senso comum. “As queimadas empobrecem o solo, acabam com a fertilidade ao matar os micro-organismos que fazem a decomposição da matéria orgânica, a reciclagem de nutrientes. Elimina potássio, fósforo, nitrogênio. E o agricultor vai ter que investir em adubo para fazer a correção do solo, muitas vezes sem o sucesso desejado”, acentua.
Além disso, as queimadas reduzem a umidade do solo e acabam por retirar a sua proteção, que são as raízes que seguram a terra. “Provoca erosão e o assoreamento dos cursos d’água, que são também atingidos pelas cinzas das queimadas.”
O impacto ambiental é ainda maior quando o agricultor utiliza fertilizantes para corrigir o solo empobrecido pelas queimadas. É quando os resíduos seguem também para os cursos d’água. “Existem estudos mostrando que as cinzas das queimadas interferem na fotossíntese da planta ao depositar as fuligens nas folhas”, acrescenta a professora Ana Carolina.