O paisagismo regenerativo nos espaços verdes urbanos
Trilha no Parque Natural Municipal do Intelecto: ilhas verdes tornam as cidades mais resilientes às mudanças climáticas e totalmente conectadas à Agenda 2030, com base nos 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da ONU
Foto: Carlos Cruz
Por Pérola Felipette Brocaneli
O “paisagismo regenerativo” é uma nomenclatura dada ao processo que reconhece e reforça a função ecológica e de manutenção ecossistêmica, tendo por diretriz a concepção, a elaboração e a implantação de espaços verdes urbanos que promovam a vegetação autóctone.
O uso de plantas autóctones (nativas) da região promove a alimentação da fauna silvestre e mantém a cadeia ecossistêmica protegida. Todavia, o paisagismo entendido como arte pode ou não potencializar e promover a manutenção das redes ecológicas e ambientais. Dessa forma, o termo “paisagismo regenerativo” surge categorizando um segmento que tem a intenção de restaurar e naturalizar espaços verdes urbanos.
O compromisso em projetar espaços com espécies da flora nativa e do bioma local é uma diretriz de extrema importância e deve prever o crescimento da vegetação até seu tamanho adulto. Dessa forma, não é possível denominar como paisagismo regenerativo os jardins que ficam em lajes – que, em alguns casos, chegam a especificar o plantio de embaúbas que não poderão atingir seu tamanho adulto de até 35 metros de altura, pois seu extenso volume de raízes não pode ser suportado por uma laje de cobertura.
Classificar o paisagismo como regenerativo apenas pela escolha de vegetação autóctone sem prever outras condicionantes é tão ou mais irresponsável que o paisagismo que escolhe espécies exóticas e, por vezes, invasoras.
O paisagismo que especifica espécies exóticas de flora ainda é desenvolvido e implantado por alguns segmentos e profissionais do ramo, por vezes, atendendo solicitações de clientes. Nesses casos, é importante que o paisagista esclareça para seu cliente as consequências dessas escolhas no contexto ambiental urbano e nas escalas local, municipal, estadual, nacional, internacional e planetária.
Para além da escolha da vegetação, o enfrentamento à mudança do ciclo das águas, como proteger sua qualidade e como gerenciar as áreas de risco de inundação ou deslizamentos são algumas das questões contemporâneas mais discutidas no contexto das mudanças climáticas planetárias.
Nesse sentido, o maior expoente dessa ideia tem sido o arquiteto Kongjian Yu, que trabalha no acolhimento das águas em áreas urbanas, criando extensos parques – com a função principal de manejar, frear, filtrar e absorver os grandes volumes de água que ocorrem de forma sazonal ou repentina em áreas urbanas.
As cidades-esponja, conceito definido por Kongjian Yu, desenvolvem o paisagismo atrelado às condições climáticas locais, promovendo espaços públicos urbanos que também são responsáveis pela questão da cidadania ambiental.
Devido à amplitude e a complexidade da restauração ambiental promovidas pela utilização de Soluções baseadas na Natureza (SbN), esses espaços constroem, por meio do paisagismo, cidades mais resilientes às mudanças climáticas e totalmente conectadas à Agenda 2030, com base nos 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da ONU.
*Profª Drª Pérola Felipette Brocaneli, leciona Paisagismo na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).