O boêmio voltou: na reabertura oficial de seu bar, domingo (12), Nilo vai cantar clássicos de Adelino Moreira e Nelson Gonçalves

Fotos: Carlos Cruz

Depois de ficar fechado por 12 anos, o lendário Bar do Nilo, na pracinha do Pará, vai ser oficialmente reaberto neste domingo (12) – Dia das Mães, data festiva que, de quatro em quatro anos, coincide com o aniversário de Nilo Almeida Brugnara, completando 86 anos bem-vividos nesta data solene e carregada de significados.

Embora já esteja funcionando por quatro anos em um anexo ao local onde o bar funcionou, de 1974 a 2012, a reinauguração do bar (ocasionalmente chamado também de boteco, sem desmerecimento algum) vai acontecer, após as homenagens às mães, no horário de 17h às 22h.

Para a reinauguração a rua da praça vai ser fechada para montagem de palco e apresentação da também lendária banda Os Minhocas, com a sua formação original (Giovanni, Binho, Marquinhos e Roberto), mas sem o vocalista Nandy Xavier, falecido em 8 de março deste ano.

“O show vai ser um tributo a Nandy que, pouco antes de morrer esteve aqui no bar e me disse que iria cantar na reinauguração”, conta Luciano Almeida, que agora assume o lugar do pai atrás do balcão. Na reinauguração vai ter também os dobrados da banda Euterpe Itabirana, Amantes de Juanita convida Jessé e Tales “Pequi”.

Sucessos

Nilo também vai subir ao palco para cantar pelo menos dois sucessos que ele, volta e meia cantava de dentro do balcão sem deixar de servir aos fregueses, acompanhado de músicos itabiranos como Pedrinho de Caux, Silvio Carlos, Claudio Sampaio, Geraldinho Alvarenga:

“A volta do Boêmio”, de Adelino Moreira, imortalizada nacionalmente na voz de Nelson Gonçalves – e em Itabira, com Nilo Almeida:Boemia, aqui me tens de regresso/ E suplicante te peço a minha nova inscrição./ Voltei pra rever os amigos que um dia. / Eu deixei a chorar de alegria; me acompanha o meu violão...”.

A segunda canção que estará presente no seu repertório é outro clássico: “Quando O Samba Acabou”, de Noel Rosa, que Pedro de Caux, grande violonista e cavaquinhista itabirano, pedia ao Nilo para cantar assim que chagava ao bar, mas não sem antes pedir uma pinguinha: “Lá no morro da Mangueira/ Bem em frente à ribanceira / Uma cruz a gente vê / Quem fincou foi a Rosinha / Que é cabrocha de alta linha (..)”.

Nilo está de volta com o seu bar na pracinha do Pará e promete dar “uma canja” no tributo à Nandy, em show no domingo, a partir de 17h, com os Minhocas, que também está de volta

Tributo e cardápio

Para o tributo a Nandy, Luciano vai convidar outros músicos que marcaram presença no bar do Nilo, que tinha a pracinha do Pará como extensão territorial. “Outros músicos que quiserem dar uma ‘canja’, estão desde já todos convidados.”

Ele conta que o bar em sua nova versão tem uma novidade: “já estamos também servindo almoço todos os dias, com feijoada na sexta-feira, tropeiro no sábado e frango com quiabo aos domingos.”

Nos outros dias o cardápio é variado, servindo caldos à noite e porções de filé de tilápia, contrafilé acebolado, acompanhados de cerveja sempre gelada. “A praça é nossa, como era antes. O freguês pode pegar a cerveja e levar pra beber na pracinha. É só depois retornar com o casco”, sugere. 

Histórico

Nilo com recorte do jornal O Cometa em que é homenageado por Altamir Barros: “o jornal sempre me deu muita força.”

Antes de abrir o seu bar, em 1974, no mesmo lugar, Nilo Almeida exerceu o seu ofício de alfaiate, depois de anos estabelecido na rua Tiradentes. “A freguesia da alfaiataria me acompanhou, mas nem sempre era pontual para acertar os cortes”, conta.

“Em um final de semana, depois de muito trabalho e sem ter recebido pelo serviço, fui até o bar do Zé Camilo, na rua Ipoema, afogar a minha mágoa por ter trabalhado sem receber”, recorda o ex-alfaiate.

Segundo ele, Zé Camilo percebendo a sua tristeza, sugeriu que abrisse um bar, prometendo apoiá-lo na nova empreitada. E foi o que fez: “Ele me emprestou um freezer, três grades de cerveja e uma de guaraná. Foi assim que o bar teve início, junto com a alfaiataria”, relembra Nilo Almeida.

“O primeiro freguês do meu boteco foi Luiz Antônio Zanon (ex-editor do jornal Mosaico) que aqui chegou à tarde, após ter trabalhado na Vale. Pediu uma cerveja, depois outra e mais outra. No dia seguinte retornou com mais seis colegas. Aí as cervejas, que Zé Camilo me emprestou, acabaram. Comprei mais e os fregueses foram só aumentando a cada dia.”

No auge, o bar chegou a dispor de dez freezers, vendendo 120 caixas de cerveja por noite – e só fechava quando o “precioso líquido etílico” acabava, de madrugada.

Hoje, com a reabertura, o bar conta com três freezers e tem horário marcado para fechar às 22 horas, “que é para não incomodar os vizinhos”, promete Luciano Almeida.

“Nos finais de semana o bar ficava abarrotado, tanto aqui dentro como lá fora, na rua e na pracinha. Era até difícil para os carros passarem aqui em frente”, Nilo guarda na memória, com nostalgia. “Era uma turma muito animada que vinha aqui, todos eram meus amigos e amigas”, enfatiza.

Fechamento

Antes de o bar fechar, Du Barros (à direita), juntamente com Betão e Quintiliano, alugaram o estabelecimento, mas foi por pouco tempo: “viram que a vida é drurys atrás do balcão”, diz Nilo (Foto: Eduardo Cruz)

Com o passar do tempo, já cansado de ficar do lado de dentro do balcão, Nilo decidiu que era hora de passar para o outro lado. “Eu aluguei o bar para Du Barros, Quintiliano e Betão. Por algum tempo funcionou muito bem, com a mesma freguesia.”

Mas a nova administração durou pouco tempo. “Eles cansaram de ficar do lado de dentro do balcão e me devolveram o bar. Com Rosa doente, tendo que ir tratar em Belo Horizonte, aluguei o bar para outro pessoal e me arrependo muito”, lamenta.

Segundo Nilo, essa nova administração só trouxe desgosto e causou muito impacto de vizinhança. “Vieram novos fregueses e com eles muita bagunça, briga e confusão, inclusive com tiroteio, coisa que nunca havia acontecido aqui. Foi aí que o bar fechou definitivamente depois de os vizinhos reclamaram e o promotor determinar que fosse fechado”.

Luciano, NIlo e Evandro Zacarias, freguês de ontem, hoje e sempre: “aqui a cerveja é sempre gelada”, propagandeia o assíduo frequentador

Agora reaberto sob direção do filho Luciano, o bar espera ter de volta parte da velha freguesia e novos frequentadores. “São todos e todas bem-vindos”, convida o novo dono

Mas não esperem que o bar fique aberto até madrugada. “Vamos fechar às 10h para abrir cedo no dia seguinte depois de descansar, que não somos de ferro, só Itabira ainda é”, avisa Luciano Almeida.

“Eu vinha muito aqui no tempo de Nilo. E agora estou de volta para tomar a minha cervejinha gelada”, alegra o aposentado Evandro Zacarias, freguês assíduo do novo e sempre legendário bar da pracinha do Pará.

Galeria de fotos históricas do bar do Nilo, clicadas por Eduardo Cruz

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