Negociações para novo acordo coletivo com a Vale tem impasse diante do reajuste oferecido de 2,72% frente ao lucro de US$ 2,9 bi no terceiro trimestre
As negociações para o novo acordo coletivo da mineradora Vale com o sindicato Metabase, que representa cerca de 4 mil empregados em Itabira, prosseguem com muitos embates, refletindo a acirrada disputa por uma fatia maior da participação da força de trabalho no fabuloso lucro da empresa.
A Vale oferece reajuste salarial de apenas 2,72% nos salários de seus empregados para o próximo ano. Isso enquanto registra lucro líquido de US$ 2, 9 bilhões no terceiro trimestre deste ano, resultado que ficou US$ 1,9 bilhão acima do lucro registrado no segundo semestre de R$ 995 milhões,
A empregadora explica esse fabuloso lucro pelos resultados obtidos sobretudo no sistema Norte, e também no Sudeste, com melhoria da performance operacional, o que teria resultado em recorde de produção de 56,9 milhões de toneladas.
Segundo nota da empresa, o recorde de produção no sistema Sudeste foi obtido pela melhora do desempenho em todas as suas unidades, especialmente no complexo de Itabira e em Timbopeba, que voltou ao nível de produção em julho, com o retorno da mina de Fundão, que faz parte do complexo.
Alta produtividade
Entretanto, mesmo com a empresa reconhecendo os esforços de seus empregados, a alta produtividade não acompanha a proposta patronal ao não refletir essa alta performance na proposta de reajuste dos salários.
As negociações das cláusulas econômicas com a empresa tiveram início na quarta-feira (28). “Foi decepcionante”, classifica o presidente do Metabase, André Viana. “A empresa tem o descaramento de dizer que não tem dinheiro, mesmo tendo anunciado recordes de produção e de lucratividade”, acentua.
Para ele, a proposta de reajuste de 2,72% é inaceitável. “É uma petulância frente ao aumento expressivo do custo de vida, enquanto a remuneração dos trabalhadores permanece a mesma de um ano atrás, antes do início da pandemia sem a inflação galopante que se seguiu”, accrescenta.
“É ultrajante a empresa apresentar essa proposta irrisória em uma mesa de negociação. Não aceitamos nem discutir´. Rejeitamos de imediato e não levaremos à assembleia.” Daí que o sindicato quer agendar uma nova rodada de negociações com os representantes patronais.
Lucro e Inflação
Segundo o sindicalista, o trabalhador tem sofrido pressão para aumentar a produtividade no complexo de Itabira, principalmente depois da interdição da barragem do Itabiruçu.
“A empresa ainda não tem onde colocar os rejeitos, o que prejudica o cumprimento das metas. O alto escalão pressiona o ‘chão de fábrica’, que não tem responsabilidade por essa situação criada pela própria empresa”, afirma André Viana.
De acordo com ele, o lucro fabuloso do terceiro trimestre se deu em virtude da retomada do nível de produção em algumas unidades, com ganhos de produtividade por parte do trabalhador, mas também pela alta do dólar e do preço da commodity minério de ferro no mercado internacional. “Foram fatores preponderantes para tamanha lucratividade”, acentua o presidente do Metabase.
Já a Vale sustenta que o melhor resultado foi decorrente, principalmente, do maior Ebitda (lucro da empresa antes do pagamento dos juros, impostos, depreciação e amortização, refletindo o resultado operacional da empresa) no trimestre.
Diz ainda que a melhora em relação ao trimestre anterior, que foi fortemente impactado pelas provisões de despesas futuras com a Samarco e Fundação Renova, se deu pelos “efeitos positivos parcialmente compensados por maiores despesas financeiras, principalmente devido a maior marcação a mercado das debêntures participativas e a reavaliação do valor justo das garantias financeira emitidas pela Vale”, diz a nota da empresa.
Luta de classes
Outro fator que acirra a luta de classes na mineradora foi o anúncio de que o Conselho de Administração da Vale retomou, agora no terceiro trimestre, com a Política de Remuneração de Acionistas.
Com isso, “a Vale distribuiu um total de US$ 3,327 bilhões em remuneração aos acionistas em relação ao desempenho da companhia no primeiro trimestre de 2020 e os juros sobre capital próprio anunciados em dezembro de 2019.”
Para o sindicato, a empresa finge desconhecer o fator decisivo da sua força de trabalho para o melhor desempenho e aumento da produtividade. “Foi preponderante para tamanha lucratividade”, diz Viana, que protesta diante da proposta irrisória de reajuste salarial apresentada pela mineradora.
E ainda tem os beócios que acham – e de tanto achar estão escravizados – que a Vale S/A é fundamental para a economia de Minas. Se fizer a conta na ponta do lápis verá que a mineração não trouxe nem um centavos de lucro. O que deixa a mineração é pura, puríssima destruição, doença e alienamento cultural.
Se os homens de ferro construíram a maior empresa de mineração a céu aberto do planeta, imagine o que não faria para a cidade e para si mesmos.
Fora Vale S/A.