Morre Jaguar, cartunista e fundador do Pasquim, aos 93 anos
Criador do Pasquim e mestre do humor gráfico, Jaguar marcou gerações com irreverência, crítica à ditadura e um traço inconfundível
Fotos e charges: Acervo ABI/ Reprodução/Agência Brasil
O Brasil perdeu neste domingo (24), uma de suas vozes mais irreverentes e afiadas: Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o Jaguar, morreu aos 93 anos no Hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro, onde estava internado. A notícia foi confirmada por sua viúva, Celia Regina Pierantoni.
Jaguar deixa também a filha Flávia Savary e uma legião de admiradores que cresceram lendo suas charges, cartuns e entrevistas que marcaram época. Mais do que um artista gráfico, ele foi um cronista do absurdo brasileiro, um humorista que fez da crítica uma arte e da arte uma trincheira contra a repressão do regime militar.
Um traço que virou resistência
Fundador do Pasquim ao lado de Ziraldo, Millôr Fernandes, Henfil e outros gigantes, Jaguar foi um dos primeiros e mais contundentes críticos da ditadura militar. O semanário carioca, lançado em 1969, ano do golpe dentro do golpe, tornou-se um símbolo da resistência cultural, com entrevistas memoráveis, ensaios provocativos e uma linguagem que formou uma nova geração de brasileiros, menos preconceituosa, menos moralista, mais livre.
Em 1970, Jaguar foi preso junto com outros membros da redação após uma sátira ao Sete de Setembro. Passou três meses na cadeia, onde, segundo ele, “teve tempo de sobra para desenhar, rir e beber café ruim”. Transformou a prisão em mais uma crônica ilustrada da repressão, sem perder o humor.
Sig, Gastão e o humor que vomita o absurdo

Entre seus personagens mais marcantes estão Sig, o ratinho psicanalista, e Gastão, o Vomitador, que reagia com náuseas aos absurdos do noticiário. Jaguar também foi responsável pelas vinhetas do “Plim Plim” da TV Globo e por capas memoráveis de livros e revistas.
Boêmio confesso, dizia que “o álcool era o combustível da criatividade”. Fundou a Banda de Ipanema e escreveu livros como Confesso que Bebi e Ipanema – Se Não Me Falha a Memória, onde narrou com humor suas aventuras pelos bares cariocas e os bastidores da imprensa alternativa.
Uma coincidência histórica
Jaguar morreu em 24 de agosto, no mesmo dia em que, em 1954, Getúlio Vargas cometeu suicídio, deixando uma carta-testamento que abalou o país e marcou para sempre a história política brasileira.
A data, carregada de dor e ruptura, ganha agora um novo contorno: nela se despede também aquele que, com humor e irreverência, desafiou os autoritarismos que Vargas, inclusive, ajudou a moldar com o Estado Novo.
Embora não fosse um crítico direto de Vargas, uma vez que sua atuação mais contundente se deu contra a ditadura militar pós-1964, Jaguar sempre tratou o poder com desconfiança e sarcasmo.
Entretanto, em entrevistas, entre elogio e irreverência, referia-se ao ex-presidente como “o inventor da carteirinha de trabalho e da fila do INSS”, zombando da burocracia estatal que tanto inspirou suas charges. Para ele, todo governante merecia um traço torto e uma legenda debochada.
Colegas do traço e do humor dão depoimentos emocionados

A partida de Jaguar provocou uma onda de comoção entre os que, como ele, fizeram do desenho uma forma de pensamento e resistência. Companheiros de ofício e admiradores de sua verve prestaram tributo à sua genialidade.
Chico Caruso declarou: “Millôr era grande, Ziraldo era grande, mas só ele era o Jaguar. Inigualável, inestimável, inimitável.”
Miguel Paiva lembrou com carinho: “Ele começava a desenhar pelo pé e subia até a cabeça. Era Jaguar até nisso.”
Renato Aroeira resumiu com precisão: “Mestre, professor, gênio, incansável.”
Trincheira contra a idiotice
Jaguar não foi apenas um cartunista. Foi um cronista da alma brasileira, um rebelde do traço, um humorista que fez da crítica uma arte e da arte uma trincheira contra o autoritarismo, a burocracia e a idiotice. Seu humor não pedia licença – ele invadia, desarmava, desnudava.
Seu legado permanece vivo nas páginas amareladas do Pasquim, nas vinhetas da TV, nas memórias dos bares e nas ideias que continuam inspirando quem ousa rir da autoridade. Foi assim que Jaguar desenhou o Brasil como poucos: com ironia, afeto e coragem.
Boa viagem, Jaguar. O Brasil que pensa e ri agradece.
Velório e despedidas
O corpo de Jaguar será velado na Capela Celestial do Crematório Memorial do Carmo, na zona norte do Rio de Janeiro, das 12h às 15h desta segunda-feira (25).
A cerimônia de cremação ocorrerá em seguida, no mesmo local. A despedida será aberta ao público, para que amigos, familiares e admiradores possam prestar sua última homenagem a esse mestre do traço e da liberdade.
*Com informações da Agência Brasil, O Globo e Folha de S.Paulo.










O Pasquim publicou uma charge do nosso Genin e o Jaguar disse gostaria que a ideia fosse dele. Viva jaguar e viva o Genin.