Morre Francisco, o papa dos excluídos e voz da esperança em um mundo melhor, fraterno e justo
No destaque, o papa Francisco, em um palanque montado na Praia de Copacabana, quando reuniu cerca de 3 milhões de fiéis, segundo estimativas da Prefeitura do Rio, em um domingo, 28 de julho de 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude
Foto: Anna Beatriz Cunha/ Prefeitura do Rio de Janeiro
O mundo cristão e a humanidade lamentam profundamente a perda de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, que faleceu na madrugada desta segunda-feira (21), às 2h35 no horário de Brasília (7h35 no horário local do Vaticano).
Ele morreu em sua residência na Casa Santa Marta, no Vaticano, devido a complicações de uma pneumonia bilateral, agravada por uma infecção polimicrobiana e problemas respiratórios que o acompanharam desde a juventude.
Sua saúde havia se deteriorado nas últimas semanas, apesar de uma breve melhora após internações prolongadas.
Papa progressista
Primeiro pontífice latino-americano e jesuíta, Francisco marcou a história da Igreja Católica com sua dedicação aos marginalizados e sua luta incansável pela paz mundial.
Sua juventude na Argentina foi marcada por simplicidade e desafios. Nascido em Buenos Aires em 1936, filho de imigrantes italianos, ele trabalhou como técnico químico antes de ingressar no seminário aos 21 anos.
Durante a ditadura militar argentina (1976-1983), Jorge Mario Bergoglio, então líder dos jesuítas no país, desempenhou um papel complexo e arriscado – e salvou vidas. Ele utilizou sua posição para proteger perseguidos políticos, oferecendo abrigo no Colégio Máximo de San Miguel, onde muitos encontraram refúgio seguro.
Além disso, Bergoglio pessoalmente transportava pessoas em risco, atravessando postos de controle militar para garantir sua segurança, fugindo assim das forças da repressão aos que opunham ao regime militar.
Esses eventos marcaram profundamente sua trajetória e moldaram sua visão pastoral, que mais tarde influenciaria seu pontificado como papa Francisco.
Compromissado com os pobres e a defesa dos marginalizados, Francisco contribuiu decisivamente para a reabilitação da Teologia da Libertação, resgatando a opção pastoral que prioriza a justiça social e a dignidade humana, mesmo frente à forte reação de setores conservadores.
Visitas ao Brasil: encontros com a fé e a justiça social

Durante seu pontificado, Francisco visitou o Brasil em julho de 2013, em sua primeira viagem internacional como Papa, para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no Rio de Janeiro.
Na ocasião, ele reuniu cerca de 3 milhões de fiéis na praia de Copacabana, segundo estimativa da Prefeitura do Rio de Janeiro. Na ocasião, ele destacou a importância da juventude como agentes de transformação social.
Em um discurso memorável na favela da Varginha, localizada no conjunto de favelas de Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, ele criticou duramente as desigualdades sociais, exaltando a luta por justiça social, reafirmando seu compromisso com os mais pobres e marginalizados.

Papa Moderno e progressista
Francisco também foi um incansável defensor da paz mundial, mediando conflitos e promovendo o diálogo inter-religioso. Ele denunciou crises humanitárias, pediu o desarmamento global e reforçou a dignidade humana como um valor universal.
Sua luta pela inclusão transcendeu fronteiras, acolhendo aqueles que se sentiam à margem da fé e desafiando preconceitos.
Isso ocorreu por diversas ocasiões, quando ele abordou temas polêmicos com coragem, defendendo uma Igreja mais inclusiva para pessoas LGBTQIA+, reafirmando que “todos são filhos de Deus”.
Suas encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti foram marcos de seu pontificado, destacando temas como justiça social, preservação ambiental e fraternidade universal.
Na Laudato Si’, Francisco alertou sobre a crise ambiental com a emergência global, quando defendeu uma ecologia integral, além de criticar o impacto das mudanças climáticas nos mais vulneráveis.
Já na Fratelli Tutti, ele promoveu a solidariedade global, o diálogo e a inclusão, reafirmando que todos somos irmãos e irmãs, independentemente de nossas diferenças.
Esses documentos refletem seu compromisso com os desafios contemporâneos e seu desejo de construir um mundo mais justo e humano.

Desafios para a escolha de seu sucessor
Com a morte de Francisco, o Vaticano enfrenta agora o delicado processo de escolha de seu sucessor, que será decidido em um conclave nas próximas semanas.
O novo Papa terá a missão de equilibrar as tensões entre os setores progressistas e conservadores da Igreja, além de lidar com desafios globais como a crise climática, a desigualdade social e a relevância da Igreja em um mundo cada vez mais secularizado.
Entre os nomes mais cotados estão o italiano Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha, conhecido por sua postura progressista e proximidade com Francisco, e o filipino Luis Antonio Tagle, que compartilha da visão reformista do pontífice e é visto como uma escolha estratégica para fortalecer a presença da Igreja na Ásia.
Por outro lado, figuras mais conservadoras, como o cardeal húngaro Péter Erdő, também despontam como possíveis candidatos, representando uma visão mais tradicional da Igreja.
O conclave será um momento decisivo para o futuro da Igreja Católica, refletindo as disputas internas entre aqueles que desejam continuar o legado progressista de Francisco e os que defendem um retorno a práticas mais conservadoras.
A escolha do próximo Papa será crucial para definir os rumos da Igreja em um mundo em constante transformação.
Hoje, o mundo se despede de um líder mundial extraordinário. Que seu exemplo inspire gerações futuras a construir um mundo mais justo, solidário e em paz. Descanse em paz, papa Francisco, o pastor dos excluídos e a voz dos sem voz.
*Com informações de El País, La Nacion, Folha de S.Paulo, Agência Brasil e Acta Apostolicae Sedis, jornal oficial do Vaticano
O mundo perde um grande líder. E isso vai alterar a geopolítica mundial.