“O meu apoio à candidatura de Lula é pessoal e por coerência partidária”, diz Marco Antônio Lage

O prefeito de Itabira com Lula, no comício de Ipatinga

Fotos: Reprodução

Marco Antônio Lage (PSB), prefeito de Itabira, como se sabe, esteve em Ipatinga na sexta-feira (23), quando levou o seu apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para presidente do Brasil.

Para alguns que o apoiaram na campanha eleitoral de 2020, e que são partidários do atual presidente, “foi um tiro no pé”, pois acreditam que o prefeito perderá o apoio de parcelas significativas do eleitorado itabirano, principalmente entre os evangélicos.

Mas, por outro lado, ele ganhou a simpatia do eleitorado mais à esquerda, que não o apoiou naquela eleição, como por exemplo entre os petistas. Certo é que Marco Antônio nada tem de ingênuo na política.

Além da coerência partidária, ele deve ter ao seu dispor pesquisas eleitorais que indicam apoio da maioria do eleitorado itabirano à candidatura de Lula. Portanto, ao levar o seu apoio ao petista, ele ganha também a simpatia dessa parcela que pode ser majoritária em Itabira, a conferir em 2 de outubro.

Itabira tem vocação histórica mais à esquerda. Foi assim na campanha civilista de 1910, quando apoiou a candidatura de Rui Barbosa à presidência da República, que acabou derrotado pelo marechal Hermes da Fonseca, candidato da direita, que tinha apoio do então presidente Nilo Peçanha.

Antes do golpe militar de 1964, elegeu o prefeito operário Wilson Soares, falecido recentemente, pelo PTB do então presidente João Goulart. Anos depois, mesmo com o AI-5, que deu mais poderes ditatoriais aos militares, Itabira foi uma das primeiras cidades do país a eleger um prefeito pelo MDB, único partido consentido pela ditadura. Foi quando elegeu Virgílio Gazire prefeito da cidade.

Na entrevista a seguir, Marco Antônio diz que a sua posição é coerente politicamente e é partidária. “Não entrei para o PSB por conveniência, mas por identidade ideológica, mesmo sendo a favor da iniciativa privada, com viés social forte”, disse ele, explicando as suas opções para as eleições próximas, inclusive para governador, senador e deputados federal e estadual. Confira. (Carlos Cruz)

O seu apoio à candidatura de Lula é por fidelidade partidária, uma vez que o PSB faz parte da federação que o apoia, ou é uma opção pessoal e política, mais ideológica?

É um pouco de cada coisa. Eu sigo a orientação de meu partido, que tem o Geraldo Alckmin compondo a chapa de Lula na vice-presidência. Portanto, tem  motivação partidária e ideológica.

Eu não estou no PSB por acaso, mas for afinidade ideológica e política. Entretanto, como prefeito eu devo separar as minhas preferências do cidadão Marco Antônio e as do prefeito, que tem que se relacionar com todo mundo, independentemente de quem será eleito, como tenho feito nesses dois anos que estou na prefeitura de Itabira.

Estive em Brasília recentemente e conseguimos reverter um jogo que estava para Itabira perder, que é o investimento na radioterapia do hospital Nossa Senhora das Dores, um investimento de R$ 20 milhões.

Conseguimos manter esse investimento com a ajuda do senador Alexandre Silveira (candidato à reeleição pelo PSD e que integra a coligação Juntos pelo Povo de Minas Gerais, da dobradinha Lula/Kalil).

O Pacheco (Rodrigo, presidente da Câmara dos Deputados, do DEM-MG) nos recebeu quando assumiu interinamente a presidência da República e que também nos ajudou nesse processo. Como prefeito tenho de recorrer a todos que podem contribuir com o desenvolvimento de nossa cidade.

Marco Antônio com Lula, ainda presidente, e ele na diretoria de Comunicação da Fiat Automóveis

O senhor teve contato com Lula em outras ocasiões?

Quando eu trabalhava na Fiat, eu estive várias vezes com ele, como na inauguração da fábrica de Pernambuco. Tanto que ele, que tem boa memória, me reconheceu e perguntou por outras pessoas da Fiat com as quais ele também teve contato quando estava na presidência.

E com relação à candidatura de Lula, como é esse apoio? Acredita na sua eleição?

Fui ao comício de Lula em Ipatinga levar o meu apoio, sabendo que ele pode ser o futuro presidente do Brasil. Itabira vive há muitos anos isolada politicamente, tanto que nos últimos 20/30 anos ficou sem grandes investimentos dos governos federal e estadual.

O último grande investimento federal foi com Lula. Aliás, não foi um investimento, mas uma autorização para a instalação do campus da Unifei em Itabira. E a outra exceção foi esse investimento para a radioterapia. Essa situação precisa mudar, daí a importância de minha presença levando o apoio a quem pode governar o Brasil nos próximos quatro anos.

Mesmo tornando público esse apoio ao Lula, acredita ser possível manter um relacionamento político suprapartidário?

Sim, é necessário. O prefeito de Itabira deve relacionar bem com quem for eleito. Se Bolsonaro vencer, temos que buscar esse bom relacionamento em prol de Itabira, que tem sido muito prejudicada pela lógica da federação, que é prejudicial aos municípios.

Da arrecadação do município, 15% da receita vem dos repasses de impostos e obrigações federais e 65% do Estado. São recursos escassos para as prefeituras administrarem a saúde, a educação, para investir na mobilidade urbana, no social. Daí que o bom relacionamento com as demais esferas de governo precisa ser mantido.

Pessoalmente, como justifica o apoio à candidatura de Lula?

Em primeiro lugar por acreditar que ele pode fazer um governo mais democrático e voltado para o lado social. Sei que em seu governo houve problemas de corrupção que não podem repetir.

Entretanto, o outro lado também tem problemas com as rachadinhas e com os milicianos, que precisam ser investigados e julgados. Mas não vou entrar nessa discussão esquizofrênica, maniqueísta.

O que espera de um governo Lula pensando nas questões prementes de Itabira?

No encontro rápido que eu tive com ele em Ipatinga, pelas circunstâncias da campanha, falamos da importância de se ter mais investimentos da União em Itabira, principalmente com a iminência da exaustão mineral e pelo que Itabira já deu para o desenvolvimento do país.

Com Lula sendo eleito, pretende tratar com ele da revogação da Lei Kandir, que isenta o minério de ferro exportado de pagar ICMS?

Com certeza essa discussão vai entrar na pauta, assim como outras questões relativas à mineração, sobretudo pelo que vem ocorrendo em Minas Gerais. Pretendemos ter uma participação muito propositiva.

Itabira precisa ser ouvida, como meio de ressarcir o município com compensações devidas pela União e pelo Estado. O modelo de relacionamento das empresas mineradoras com os territórios minerados precisa ser mudado. No caso de Itabira são 80 anos de história…

Não é só a Vale que tem dívida histórica com Itabira, a União e o Estado também. Itabira deu incentivo à Vale com isenção de impostos até a instituição do IUM, em 1969, que tinha um rateio injusto para com os municípios. E continua isentando em parte com a lei Kandir, que prejudica Itabira com a queda do bolo tributário. Concorda?

Sim, isso tem que mudar. Essa é uma pauta que precisa ser discutida com relação não só à lei Kandir, mas também da criação de um fundo de investimento para o município não ficar esperando por compensações bilionárias, que acabam não acontecendo, como ocorreu com o bolo da indenização pela tragédia de Brumadinho para investimento no estado.

Desse bolo, Itabira recebeu apenas R$ 5 milhões, mesmo valor que recebeu Lafaiete por ter sido considerado apenas o número de habitantes e não os impactos continuados da mineração. Eu falei isso para o governador Romeu Zema, mas de nada adiantou.

Ele preferiu discutir esse rateio com os deputados. Nada tenho contra a cidade de Lafaiete, mas é uma incoerência Itabira receber o mesmo valor sem considerar o ônus histórico, social, econômico e ambiental que nossa cidade carrega como território minerado há mais de oito décadas.

É essa mudança do relacionamento com o território minerado que estamos discutindo com a Vale, para tornar a nossa cidade um caso de sucesso de reconversão produtiva, procurando recuperar o tempo perdido também junto à União, mas também junto ao Estado.

Que proposta é essa de Fundo de Investimento para os municípios minerados?

É para que esses municípios não fiquem mais dependentes das migalhas repassadas pela União e Estado para fazer frente às necessidades de investimentos na infraestrutura, para se estruturar e continuar sendo uma cidade viável mesmo depois da mineração, para que se tenham as contrapartidas devidas.

Os prefeitos enfrentam problemas adicionais acarretados pela mineração e precisa ter essa contrapartida além do que já recebe com os royalties para melhorar o atendimento na saúde, que é impactada pelo grande fluxo de trabalhadores que vêm de fora, assim como o custeio do serviço público acaba sendo mais alto. São custos adicionais acarretados pela atividade mineradora e que precisam ter contrapartidas.

No caso de Itabira, são mais de 10 mil empregados indiretos, a maioria mão-de-obra vinda de outras cidades…

Exato. São vários exemplos, são caminhões pesados trafegando na cidade causando buracos, custos adicionais na saúde que precisam ser compensados.

Com o senador Alexandre Silveira, em Brasília

Voltando às eleições, o senhor falou no apoio à candidatura de Alexandre Silveira ao Senado…

Sim, sem dúvida. Alexandre Silveira mesmo com pouco tempo em que está no Senado tem nos ajudado muito, tanto na questão da radioterapia como também para ter uma faculdade de medicina em Itabira e nesta questão estratégica da mineração.

E para governador, apoia a candidatura de Alexandre Kalil?

Sim, por uma questão partidária e por acreditar no que ele pode fazer por Itabira. Eu tenho um apreço muito grande pelo governador Zema, mas tenho também as minhas broncas.

Uma dessas broncas é com questão do rateio do fundo indenizatório da Vale pelo governo de Minas?

Essa é a bronca principal, mas também a não efetivação do apoio para o investimento no centro histórico de Itabira (mudança na rede elétrica, que passaria a ser subterrânea, por exemplo).

Na questão do rateio do bolo indenizatório, eu tentei conversar com o governador, mas a área política do governo fez a opção de trabalhar no âmbito da Assembleia Legislativa com deputados.

Não conseguimos progressos nessa questão e eu disse isso ao governador Zema. Eu gostaria muito de ter estabelecido uma parceria com Zema em prol de Itabira e esperávamos que ele iria fazer alguns anúncios importantes para Itabira, o que não aconteceu.

Tem a ver também com o projeto de duplicação da rodovia que liga Itabira à BR-381/262?

A duplicação está caminhando, nós fizemos uma opção de fazer um projeto para uma parceria público-privada,  já que a Vale nos solicitou um modelo em que pudesse alocar recursos e isso está dentro do nosso planejamento com a empresa.

Optamos por um projeto de concessão pública, em que vamos precisar do apoio do governo estadual para fazer uma licitação, quando haverá um fundo de investimento no qual a Vale vai injetar recursos.

Como vai ser esse modelo de concessão pública para a rodovia?

A empresa que vencer a licitação vai tocar as obras de duplicação e a rodovia por 30 anos. Isso significa uma empresa que vem para Itabira e que para prestar o serviço de manutenção precisa ser pedagiada. Sem isso, todo fluxo da 381 vai continuar passando por aqui para fugir da serra de Monlevade, para cortar 30 quilômetros.

Sem o pedágio, o que seria solução pode virar um problema. É isso?

Vai detonar ainda mais a estrada que precisa ter manutenção ao longo dos anos. A ideia é também fazer uma duplicação da rodovia até Nova Era para justificar o pedágio.

Marco Antônio com Kalil na prefeitura de Belo Horizonte

No comício de Ipatinga o senhor cumprimentou o Kalil. Tratou desse assunto com ele?

Não dessa vez, que foi um contato muito rápido. Mas em outra ocasião eu estive visitando-o na prefeitura de Belo Horizonte, quando ele já ensaiava para ser candidato a governador. Kalil também pactua com essa ideia.

Independentemente de quem for eleito, vamos tratar dessa questão com o próximo governador. Além disso, o nosso partido apoia o Kalil e vou seguir a orientação do meu partido. Como prefeito não tenho feito campanha para governador, mas pessoalmente ele tem o meu apoio.

O apoio ao Lula e ao Kalil não vai trazer problemas para o seu governo que é de coalizão, tendo inclusive o vice-prefeito que é do partido de Bolsonaro?

Realmente, tenho secretários que são simpáticos ao Novo (partido do governador), outros que são partidários do Bolsonaro, como tenho secretários ligados ao PT e ao PSOL.

É uma diversidade ideológica muito grande, mas todos os secretários, independente da ideologia, estão focados no projeto estruturante de governo para Itabira.

Mas o senhor não vê a possibilidade de se criar um mal-estar ou mesmo uma dissidência em seu governo?

Quem participa do meu governo sabe do meu passado, e não é por acaso que estou no PSB. Trata-se de uma afinidade ideológica e programática. Você já me chamou de socialista liberal – e eu vou por aí.

Eu apoio, por exemplo, a privatização da Cemig, mas ou contra a privatização do nióbio, por ser um mineral estratégico. Eu sou a favor e acredito na eficiência da iniciativa privada para o desenvolvimento econômico.

Na Cemig nós temos gargalos que o Estado não tem como resolver para uma área tão fundamental que é energia, inclusive para investir em outras fontes alternativas.

Em São Paulo a energia já é todo trifásica, enquanto em Minas Gerais o produtor de leite ainda perde a sua produção por sucessivas quedas de energia e tem de gastar dinheiro com gerador particular. A Cemig perdeu o bonde da história.

Já abrir mão do nióbio eu sou contra, pois não trata de eficiência do serviço, mas de um mineral estratégico e de grande oportunidade de receitas para o Estado.

Para deputado federal o seu apoio vai para a candidatura do vereador Weverton “Vetão”?

Eu tenho no meu plano de governo o compromisso de apoiar candidatos de Itabira, que tem mais de 90 mil eleitores. Temos de ter maturidade política – e não cobro isso dos eleitores, mas dos políticos –, para que tenhamos deputados federal e estadual representando Itabira. Temos votos suficientes para eleger um deputado federal e dois estaduais.

Mas sei que é difícil, o voto aqui é muito pulverizado. Enquanto não houver uma reforma política com o voto distrital misto, fica difícil. Mas estamos trabalhando para eleger um federal e o nosso candidato é o Vetão, que é do meu partido. E é também por ele concordar e apoiar o projeto que temos de uma Itabira Sustentável.

E para deputado estadual, quem está apoiando?

Eu não coloquei camisa de força dentro de um espírito mais democrático, liberando as pessoas do governo e correligionários para que apoiem quem acreditam. Mas tenho pedido apoio prioritariamente aos candidatos de Itabira.

No caso, temos o Bernardo Mucida, que é do meu partido, buscando a reeleição. Mas tenho também uma gratidão política pelo João Izael, que é outro candidato a deputado estadual, que apoiou a minha campanha, foi o cabo eleitoral que mais caminhou ao meu lado e no apoio ao meu governo.

Então é uma lealdade decorrente da campanha eleitoral de 2020?

Sim, também devo lealdade e gratidão a João Izael, que tem o compromisso de trabalhar na Assembleia pela causa itabirana junto ao governo do estado, aglutinando deputados pela causa de Itabira, atuando junto da mineradora em defesa dos interesses de nosso município. Assim como o Mucida também tem esse compromisso.

Torço para que os dois sejam eleitos, o que será um feito histórico. Mucida tem trabalhado muito forte também fora de Itabira e o João da mesma forma tem feito campanha em outras cidades e tem um capital político muito grande em Itabira.

Mas afinal, em qual dos dois o senhor vai votar?

O voto é secreto (rsrsrs). Estou pedindo votos para os dois, de acordo com a afinidade política de quem eu encontro. Enquanto cidadão tenho compromisso com os dois. O meu voto, nesse caso, é o menos relevante. Torço para os dois, procurando ser leal e justo com quem apoiou a minha campanha para prefeito.

E os demais candidatos?

Têm campanhas que são para valer e têm as candidaturas que antecipam a campanha municipal. Resta ao leitor ter o voto consciente buscando o histórico de cada candidato, a contribuição que cada um pode dar, se está preparado para exercer um bom mandato.

É importante ainda indagar se a candidatura não passa de um trampolim político, um balão de ensaio para as próximas eleições municipais. Itabira tem muitos candidatos de fora buscando apoio em Itabira e a tendência, infelizmente, é da pulverização dos votos.

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