Marzagão, artista itabirano por adoção

 

Mauro Andrade Moura*

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Marzagão ministra aulas de pintura para jovens da Vista Alegre

(Fotos: Mauro Moura)

Deus, que nunca se esquece de nós,
enviou-nos um Anjo,
daqueles bem selvagem.

Este Anjo,
apressado,
surgindo atabalhoado
veio criando pinturas,
artes inúmeras.

Impaciente,
o Anjo,
no seu jeito próprio,
sempre eloquente.

De repente, o indolente,
segue presente
nas inscrições
e criações,
para que nunca fique ausente.

(MAM)

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Pintura de Marzagão no cemitério do Cruzeiro

Para além de tudo, Marzagão, de apelido João Batista Letro de Castro, surgiu em Itabira no intuito de restaurar as pinturas da Igrejinha do Rosário, por volta de 1980. Trabalho lento. E ele, sempre minucioso, foi cuidando da arte que ia se perdendo pelos séculos.

Marzagão, um barroco bem rococó tal qual as suas pinturas, adotava o estilo simples e cheio de luz e cores. Transcendia bem o nosso meio tropical em suas telas.

De criação com estilo próprio, sua técnica se apresentava como uma impressão digital, incomum e sempre admirada por todos que tinham a oportunidade de vê-las.

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Outra foto na oficina de pintura na Vista Alegre

Gostava de debater a cultura e os seus meios de criação. Sempre com uma perspicácia e humor fino, seguia transitando pela cidade. Foi por todos admirados, principalmente por nós que o adotamos.

Versátil, não escolhia onde pintar. Podia ser em muro de rua ou cemitério, lata de leite, poste, portão, escada de casarão. Para ele não importava, desde que o deixassem pintar livremente, produzia a sua arte e depois chegava todo garboso e apresentava a criação.

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Marzagão prepara a sua aula de pintura

Após restaurar as pinturas internas do Palácio da Liberdade, Marzagão veio a Itabira restaurar as pinturas da nave e o altar da Igrejinha do Rosário. Era por volta de 1980.

Pois, Marzagão tem as suas obras espalhadas pela cidade. Partiu cedo. Vivo fosse, contaria mais para nós, os passos de suas novas artes.

Vai meu amigo Mazaga, continue a ser gauche nessa outra vida…

Itabira, 03 de Maio de 2017

*Mauro Moura

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7 Comentários

  1. Lindo texto.
    Vc capturou bem o conteúdo deste nosso amigo que se foi.
    Era mesmo um anjo muito torto.
    Muito torto mesmo, muito mais que todos anjos.
    Que aliás,
    Não existem.
    Somos nós, com nossas qualidades e angústias.!

  2. Espetacular!

    E o Mazarga merece!
    Reconhecido por poucos; e para muitos era um bebum, alcoólatra, irresponsável com a vida.
    Não, não era nada disso. Era ele, com sua simplicidade conquistava a todos.
    Com sua arte colocava para os “outros” a sua comunicação com o universo.
    Esse era o Mazarga que tinha um carinho especial com todos.
    Deixa a familia enlutada. Deixa filhos.
    Deixa sua arte para o mundo.
    E o mundo vai conservar?
    Sei lá.
    Sei que ele passou aqui e transmitiu suas obras, deixou um legado.

    Será que os que ficaram são capazes de compreender essa comunicação dele?
    Ou vão permanecer no ócio do conservadorismo?

  3. Uma linda homenagem!!!Um artista que despertou em mim o gosto pela arte!!!
    Primo que proporcionou o acervo fotográfico de minha infância e de meus irmãos, fotografias lindas…O também fotografo… João se foi, mas ele sempre será lembrado!

  4. Linda homenagem Mauro Moura. ..Parabéns a todos que o adotaram. ..mesmo que para alguns um alcolatra de um grande potencial. .tomo base pelo meu pai em vida não era na pintura mas com várias qualidades que a sociedade não via..recentemente vi a frase de um Hippe artista na Av. Afonso Pena porta Parque Municipal dizia: “É melhor um louco criativo do que um conciente perigoso! “Faz vários trabalhos artesanais com simples fio de arame e sementes. Essa frase fica aí para vários CONCIENTE PERIGOSO. .

  5. A Mazaga é desses que não se parte, não se explica, é desses, único em sua passagem! Adios planeta terra. Pá e bola! Parabens pelo texto. Pelas imagens! Parabens pra nós que convivemos com ele!

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