Marco Antônio Lage diz que não há queda de braço com a Câmara de Itabira, mas sim divergências técnicas que viraram políticas
Vereadores também já começam abrandar as críticas ao governo com discurso conciliatório em nome do “desenvolvimento do município.”
Em coletiva de imprensa, nesta quarta-feira (28), no auditório do Paço Municipal Juscelino Kubitschek de Oliveira, convocada para apresentar balanço dos primeiros 200 dias de seu governo, o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) procurou minimizar o recente entrevero com o grupão que se formou na Câmara, com dez vereadores.
Coeso no embate com o prefeito, o grupão impôs duas grandes derrotas econômicas ao governo municipal, com a não aprovação de empréstimo de R$ 71,1 milhões – e também com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), com a emenda que reduziu para 10% a margem de remanejamento de recursos livres do orçamento municipal para 2022.
O estopim da crise, mas não a causa, foi a entrevista que o secretário municipal de Governo, Márcio Passos, concedeu dizendo que os vereadores não têm limites, que são uns “poços sem fundo”. E que a reprovação do empréstimo ocorreu por não ter o prefeito feito negociatas com os vereadores.
A denúncia é grave, ao ponto de o presidente da Câmara, vereador Weverton “Vetão” Andrade (PSB) exigir retratação pública – ou que o secretário aponte os nomes dos vereadores que pediram vantagens indevidas para apoiar o governo.
Figura de linguagem
Marco Antônio Lage relativizou na coletiva de imprensa a acusação ao ser cobrado a explicar, em nome da transparência, as vantagens pretendidas e quais vereadores são “poços sem fundo”. Segundo ele, o secretário fez uso de uma figura de linguagem.
“Não significa que os vereadores estão pedindo dinheiro, porque isso não existe”, garantiu o prefeito. “Ou que estão pedindo cargos em abundância, mas significa que querem participar mais de uma gestão que é técnica-administrativa e isso pode até ser inconstitucional”, afirmou.
“Quando o secretário fala em não ter fundo de poço ele se refere às indicações, quando o vereador quer levar o máximo (de obras) para o seu bairro, seu reduto eleitoral. Ou seja, não tem fundo”, minimizou.
Segundo explicou o prefeito, a Secretaria Municipal de Obras elaborou critérios técnicos para execução de obras no município – e que seguem uma lógica que é privilegiar sempre o maior número de moradores beneficiados, valendo para os bairros e também para os distritos e toda a zona rural. “Muitas vezes a obra que o vereador quer para o seu bairro está em 50º lugar”, exemplificou.
“É natural o vereador olhar para a sua região, defender os interesses de sua base eleitoral, e isso não está errado. Mas temos que olhar para o conjunto da população, definindo prioridades das obras que não podem ser eleitoreiras, mas que sejam aquelas que mais impactam positivamente a vida das pessoas”, discorreu o prefeito, procurando interpretar a tal figura de linguagem empregada pelo secretário de Governo.
“Precisamos definir melhor o relacionamento técnico e político entre executivo e legislativo, assim como a dinâmica de trabalho. O critério (para definir as prioridades das obras) tem que ser técnico, não pode ser das empreiteiras. É uma nova dinâmica, divergências sempre vão acontecer, mas acredito que todos os vereadores pensam o melhor para Itabira.”
Conciliação com independência pode ser o mote para o entendimento
O clima de virada de página, colocando fim ao que poderia ser transformada em uma interminável “briga de foice no escuro”, para utilizar outra figura de linguagem, parece prevalecer também entre os vereadores do grupão.
Pelo menos foi o que se observou na maioria das manifestações na reunião dessa terça-feira (27). O tom conciliatório foi dado inicialmente pelo único vereador oposicionista declarado ao prefeito na Câmara – os outros dez se declaram independentes e apenas seis são situacionistas.
Para Neidson Freitas (MDB) é bastante saudável e demonstra amadurecimento administrativo, por exemplo, o prefeito dar continuidade ao projeto, fruto de convênio firmado pela administração passada com o Departamento Estadual de Estradas e Rodagem (DEER), para duplicar a rodovia estadual que liga Itabira à BR-381/262.
“Li que o prefeito já tem o projeto pronto (da duplicação) e vai encaminhar ao governador. Que ele envie também a esta Casa, para que os vereadores se mobilizem para (que se consiga) a execução desse projeto que vai integrar Itabira à região metropolitana (de Belo Horizonte) e trazer uma série de possibilidades”, acentuou.
Freitas disse ainda que a continuidade de obras e projetos das administrações passadas é que vai assegurar o desenvolvimento de Itabira no futuro sem a mineração.
“Alguns projetos transcendem a gestão do prefeito, seja ele qual for. São projetos do povo de Itabira, como é a Unifei, pela qual (desde a sua implantação, em 2008) já se empenharam vários prefeitos e todos deram sua parcela de contribuição para tornar realidade no município”, exemplificou, dando mais uma vez o tom de como a política pode ser pacificada “em prol do desenvolvimento de Itabira”.
Mas sem deixar de lado a crítica política, Neidson sustentou que o prefeito precisa deixar o palanque eleitoral, “que às vezes se estende para o mandato adentro sem reconhecer o que foi feito por seus antecessores”.
O vereador se refere às excessivas lives e exposição do prefeito nas mídias sociais “como salvador do município”, o que fere, inclusive, o princípio constitucional da impessoalidade na administração pública.
Como exemplo de projeto difuso e coletivo, sem autoria definida, ele citou o “sonho” sempre adiado da duplicação do trecho da rodovia estadual até o trevo da 381. “O projeto é do povo itabirano, não é de político algum.”
Bandeira branca ou sinal de mais fumaça
Sebastiao “Tãozinho” Ferreira Leite (Patriota) votou contra o empréstimo e pela redução da margem de remanejamento no orçamento municipal. Mas ele parabenizou o prefeito por dar início aos encontros com moradores nos bairros.
“O objetivo é facilitar (o atendimento) às demandas dos moradores, ouvindo as suas reais necessidades. Como essa Casa aprovou a minha indicação, de minha autoria, para que isso fosse feito, e como vi comentários na rede social que alguns vereadores estiverem presentes (na primeira reunião), nas próximas vou participar também dessa interlocução com os moradores”, aprovou.
Outro que se manifestou aberto ao diálogo foi o vereador Sidney “do Salão” Guimarães (PTB).
“Propus desde o início uma discussão aberta com o prefeito, que foi infeliz ao me colocar como oposição. É a palavra dele, eu nunca falei que sou oposição. Sou independente e estou aberto ao diálogo para discutir o melhor para Itabira.”
O vereador Reinaldo Lacerda lembrou que Marco Antônio Lage declarou à imprensa que quer buscar o diálogo e resolver os conflitos com a Câmara, mas lamentou a crítica que teria feito aos vereadores por não legislarem e nem fiscalizarem.
“Votamos mais de 23 projetos favoráveis ao prefeito e nenhum vereador faltou ao respeito com ele. Marco Antônio disse que vai buscar relacionar com as entidades e criticou a oposição na Câmara, dizendo que precisa legislar e fiscalizar. Vocês concordam que os 17 vereadores não estão fiscalizando ou legislando, como disse o prefeito?”, indagou Lacerda, dirigindo-se ao líder Júber Madeira (PSDB) e ao vice-líder Bernardo Rosa (Avante).
Pelo visto, o entrevero entre o prefeito com alguns vereadores deve continuar mesmo que Marco Antônio Lage se entenda com a oposição e os “independentes” em torno de outros projetos importantes que terão de passar pela apreciação, debate e votação na Câmara Municipal de Itabira.
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