Marcha da Inocência foi liderada por vereadores e pastores evangélicos

Ao som de uma barulhenta fanfarra que lembrou os desfiles cívicos no regime militar (1964-1985), vereadores e pastores evangélicos promoveram ontem (7/11), no fim da tarde, a Marcha da Inocência, com o objetivo de protestar contra o que chamam de exacerbação pela rede Globo, que alcunharam de rede Esgoto, do culto à pedofilia e à ideologia de gênero, assim como à erotização da educação sexual nas escolas.

Marcha com Deus, pela família e o bem-estar geral da propriedade, do Estado – e das crianças (Fotos: Carlos Cruz)

À semelhança do que ocorreu com a Marcha pela Família e pela Liberdade, que antecedeu o golpe de abril de 1964, dando vazão à manifestação da classe média conservadora que temia a tomada do poder pelos comunistas comedores de indefesas criancinhas, a Marcha da Inocência também levantou a bandeira em defesa da família e das crianças, “ameaçadas pela libertinagem que toma conta do país – e corrompe a boa formação cristã e o direito de os pais educarem os seus filhos conforme os seus valores morais”.

“Menina é menina, menino é menino”, palavra de ordem que ecoou por toda a marcha

Conforme definiu o pastor Luiz Henrique, “a marcha foi organizada para dar um basta ao erotismo juvenil e à pedofilia chamada de arte”, disse ele, fazendo referência à exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, censurada pouco depois de ser aberta ao público em agosto deste ano, no Santander Cultural, em Porto Alegre (RS). “Itabira hoje está dando exemplo para o Brasil ao dizer não à rede Globo, à pedofilia, à ideologia de gênero e a tudo que está destruindo a família”, discursou logo no início da marcha.

André Viana aprovou projeto de lei municipal em defesa da criança no serviço público

Outro líder contrário à ideologia de gênero, o vereador André Viana (Podemos, ex-PTN) bate na mesma tecla. “Estamos assistindo no país várias situações que colocam em risco a inocência de nossas crianças. Criança não é adulto pequeno e tem de ser protegida pela família. Não podemos permitir que as nossas escolas se transformem em centro de erotização e de prostituição infantil, seja por meio de músicas, imagens e filmes eróticos. Escola é lugar de ensinar, já a educação é função dos pais”.

A rede Globo foi execrada com as suas “novelas e seriados imorais, que tanto mal causam à família”

André Viana, em diversas ocasiões, tem feito elogios e é entusiasta da candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) à presidência da República. Trata-se do deputado que no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT-RS) dedicou o seu voto ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), responsável por várias torturas durante a ditadura militar – e que a torturou.

Mães com crianças no colo e jovens entusiastas da Escola sem partido

Coerente com a plataforma política que o elegeu, o parlamentar itabirano disse também defender Deus, família, educação e segurança pública. “Estou cumprindo todos esses propósitos”, vangloriou, depois de ter aprovado por unanimidade na Câmara Municipal, nessa terça-feira, um redundante projeto que dispõe sobre o respeito dos serviços públicos municipais à dignidade especial de crianças e adolescentes. “As escolas no país estão virando centros de treinamento de doutrinação vermelha. Não permitiremos que isso ocorra aqui em Itabira”, entusiasmou-se.

Judith Butler

O vereador André Viana também criticou a vinda ao Brasil da filósofa norte-americana Judith Butler, que está em São Paulo fazendo palestras e participará do seminário Os fins da democracia, marcado para o Sesc Pompeia, entre os dias 7 e 9 deste mês. “Ela defende a redução de 16 para 12 anos como idade em que a criança pode iniciar a sua vida sexual – e é uma das mentoras da ideologia de gênero.”

A filósofa Judith Butler, teórica da ideologia de gênero, está em São Paulo fazendo palestras (Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress)

De fato, Butler defende que ninguém nasce homem ou mulher, mas que cada indivíduo deve construir a sua própria identidade ao longo da vida – isto é, o seu gênero. Para ela, homem e mulher são papéis sociais flexíveis e cada indivíduo constrói a sua identidade para viver como bem lhe aprouver. Não cabe, portanto, à família, Igreja ou ao Estado interferir nessa escolha.

Judith Butler teve também cartaz repudiando a sua vinda ao Brasil

A sua posição choca frontalmente com as palavras de ordem proferidas durante a Marcha da Inocência: “Menino é menino, menina é menina”. Segundo a filósofa, “gênero é uma construção cultural e não um resultado causal do sexo, nem tão aparentemente fixo como o sexo.” A filósofa defende também que “homem e masculino podem significar tanto um corpo feminino como um masculino, assim como mulher e feminino tanto um corpo masculino como um feminino”.

Vereadores de Itabira e de Belo Horizonte unidos em defesa da família e das crianças

Não é, portanto, sem motivo que a Marcha da Inocência a considera uma pessoa execrável – sendo “demonizada”, assim como a rede Globo com “as suas novelas imorais” – que também prega a ideologia de gênero, sendo “contra a família, que é imutável como as leis de Deus”.

Assim como foi a Marcha da Família em 1964, a Marcha da Inocência nada tem de inocente. Trata-se de um movimento com objetivos políticos claros – e que ficam mais evidentes com a proximidade das eleições presidenciais, previstas para o próximo ano.

Espera-se que movimentos como esse não extrapolem os limites da democracia, que, apesar de seus inúmeros defeitos, tem o mérito de abrigar e dar vazão a todas as formas de pensamento, com liberdade de expressão.

No próximo dia 19, domingo, a partir de 12h, na praça Acrísio de Alvarenga, acontece a 3ª Parada LGBTI – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais. Com certeza, nessa parada não haverá simpatizantes da candidatura de Jair Bolsonaro.

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6 Comentários

  1. Retrocesso a idade média ! Chocante o apoio oficial oportunista de autoridades pegando carona numa onda conservadora insana que assola o país e chega a Itabira, levando consigo muita gente boa de boa fé. A filisofa Butler fala apenaa o obvio, algo que as vezes tem a carateristica de ser imperceptivel desde que o mundo é mundo. As pessoas se relacionam com quem bem entenderem, com quem lhes dá tesão. Levar teoria que contrária isto pra rua é coisa de gente xenófoba, homofóbica, que pensa pra traz, que quer trazer de volta campios de concentração, limpeza etnica, e coisas parecidas. Gente “trevosa” ou seja que quer nos levar para as trevas….

  2. Este vereador e seus capachos estão querendo aparecer, são os Zés Ruelas, vulgo, Encosto. Não servem para nada, nada produzem, melhor colocar um penico e uma melancia na cabeça. Não entendo estes calhordas e nem sei como conseguem se eleger. Um zero a esquerda. Não sabem nem o que estão falando.

  3. Canalhada, Canalhada!, é isso que estes analfas protestam. Pobre da mocinha que levanta o cartaz Deus fez princesa, ficou claríssimo que ela não sabe o que é Deus. São os “pecadores” emburrecidos, eles não sabem o que falam e seguem orientações de “espertinhos pró-voto”. São os insignificantes de plantão, só se pode sentir deles a IGNORÂNCIA e a Má-Fé. Que vão todos plantar coquinho.

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