Locutores esportivos da Era do Rádio

Estádio do Maracanã no dia de sua inauguração em junho de 1950, lotado

Fotos: O Cruzeiro
Pesquisa: Cristina Silveira

Back Ground, por Anselmo Domingos

Em 1938, por força de uma exclusividade engenhosamente conseguida, Gagliano Neto (Leonardo G. Neto, 1911-1974) foi à França irradiar as partidas de futebol em que o Brasil tomava parte pela Copa do Mundo. Gritaram todos, inclusive Ari Barroso com todo o cartaz que já então possuía, mas de nada adiantou.

Gagliano seguiu sozinho. Foi um sucesso sem igual. Foi a consagração de Gagliano como locutor esportivo, embora quase o deixassem mal depois do encontro entre Brasil e Itália. Propalou-se que Gagliano Neto se empolgara pelos italianos, descendentes que é dos mesmos. Afiançava-se que ele torcera contra. Contra nós.

Mas desfez-se a onda e com a chegada de Gagliano desapareceram os acusados. Gagliano é hoje um nome respeitado. O tempo e as atribulações não lhe tiraram os méritos de narrador, de excelente improvisador, de quem sabe o que diz. Hoje, doze anos lá se vão, e quanta diferença! Quanta gente moça apareceu!

Quantos bons locutores esportivos. E quantos maus, também, para não matar a regra. Dos mais antigos, Ari Barroso ainda mantém sua imensa popularidade. Gagliano Neto, que agora reaparece, ainda é o mesmo nas características próprias.

Depois deles, depois da Copa de 38, um nome desponta com notável relevo: o de Oduvaldo Cozzi (1915-1978). Dizem que Cozzi imita um locutor uruguaio e que nele se inspirou para o já famoso “impedidôôôô”. Pode ser, pode não ser.

Acontece que Cozzi é desses que haverá de ter sempre colegas que nada gostem dele. Porque Cozzi é de poucas falas, quase não se dá a bate-papos com os companheiros. Vaidade? Convicção? O fato é que dos seus colegas vem a onda de que ele imita o locutor do Uruguai. Dizem mais: que Cozzi já não tem o público dos primeiros dias. Mas, o admitir-se que isso seja verdade, é o caso de se perguntar: culpa de Cozzi ou da Mayrink?

O esporte foi há tempos a “menina dos olhos” da PRA-9. Hoje preocupa-se ela mais com os seus problemas internos, que não são poucos. Qual é a primeira condição para um bom locutor esportivo: boa voz ou boa descrição?

Fizemos a pergunta a um círculo de amigos, e incrível que pareça venceu o primeiro fator. Mas não se pode acreditar que também a opinião do publico seja essa. Preferimos um bom narrador a um bom locutor. Eis aí o caso de Ari Barroso. Tem voz bonita? Não! E Antonio Cordeiro? Igualmente não.

Entretanto, o segundo goza até das regalias de ser um dos que transmitem com mais precisão os acontecimentos de um campo de futebol. E há ainda, em questão de locutores esportivos, o fator simpatia. Ai, sim, reside o segredo da maior ou menor audiência do locutor.

Quem é Flamengo tem xodó pelo Ari, quem é vascaíno pelo Provenzano, quem gosta da Nacional, fica com o Cordeiro.

Há muito o que falar dos locutores esportivos, das suas maneiras pessoais, dos seus recursos, das “gaffes” que cometem. Em matéria de excentricidade, por exemplo, há um Raul Longras (1914-1990), que baniu escolas e métodos, irradiando à sua exclusiva maneiras. Mas Longras sozinho daria assunto para um comentário.

[Revista O Cruzeiro (RJ), 29/7/1950. BN-Rio]

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