Laços de sangue e de crimes em Itabira do Matto Dentro – José de Grisolia e o comunista Luís Carlos Prestes

Pesquisa e fotos: Cristina Silveira

O Medo, por CDA

Eles povoam a cidade.

Depois da cidade, o mundo.

Depois do mundo, as estrelas,

Dançando o baile do Medo.

 – Rende-se Drummond! – Eu não me rendo não!

Carlos Drummond de Andrade, citando Eça de Queiroz para responder ao escrivão do Crime de Itabira, sr. Hildebrando Martins da Costa, que ameaçou processá-lo por ter sido retratado no poema O Sátiro, do livro Lições das Coisas:

“Queira fazer o obséquio de retirar-se de meu poema”.

[Revista Alterosa (MG), janeiro de 1963. BN-Rio]

 1929 José de Grisolia e o comunista Luís Carlos Prestes

A intolerância mineira – Itabira, 21.

Causou franca revolta a violência praticada pelo delegado de polícia, Antonio João de Andrade, rasgando com um punhal os retratos e prospectos de propaganda da candidatura Prestes, afixados nas portas e paredes da casa de nosso companheiro Waldemar Andrade.

Protestamos energicamente, contra tal ato que ainda mais desmoraliza a Aliança Liberal.

– Comitê Itabirano – Dr. Grisolia.

[O Estado (Florianópolis), 22/11/1929. BN-Rio]

1930 A firma Rosa & Irmão

Vários criminosos capturados – Foram identificados na repartição do Gabinete de Investigações, os indivíduos Cesar Borges Lage, José Camargo, Ricardo Neuville, recentemente presos pela delegacia de Vigilância e Capturas.

O primeiro, que tem 39 anos de idade, é casado e proprietário, residente em Itabira, no Estado de Minas Gerais, foi preso a pedido da polícia mineira, por estar envolvido na falsificação de um cheque de 6:000$000, da firma Rosa & Irmão, e contra a agência do Banco Commercio e Industria daquela cidade.

José Camargo, que também usa o nome de José de Oliveira Santos, de 52 anos de idade, viúvo, operário, morador na Saracura Pequena, é autor de um crime de morte em Santa Rita da Extrema, em Minas Gerais, e foi preso também à requisição da polícia do vizinho estado.

Finalmente, Ricardo Neuville, de 34 anos de idade, viúvo, inglês, domiciliado à rua Paulino Rudge, 113, foi preso por se achar pronunciado pelo juiz da 2⁰ Vara Criminal, por crime de estelionato contra a firma Amaral César & Cia.

Os dois primeiros criminosos serão remetidos, dentro de alguns dias para Minas Gerais, enquanto o último aguardará na Cadeia Pública, a marcha do processo a que está respondendo.

[Diário Nacional (SP), 23/7/1930. BN-Rio]

Arte de rua, Rio de Janeiro, RJ (Foto: Cristina Silveira)

1930 O silêncio vale ouro

STF – A sessão n. 24.022, de Minas, foi relatado pelo ministro Bento de Faria, sendo paciente José Antonio da Fonseca e impetrante José Augusto Ferreira.

Histórico. Ao STF, em 21 de novembro, foi impetrada uma ordem de habeas Corpus em favor de José Augusto Fonseca, que se acha preso na cadeia de Itabira de Matto Dentro, em Minas Gerais, em virtude de pronuncia por tentativa de homicídio decretada pelo juiz de Direito da comarca e confirmada, em grau de recurso pelo Tribunal do Estado, que assim só tornou coatora do paciente.

Alegou o paciente que o fato imputado não constituía crime, visto que o paciente nem ofensas leves praticou. Além disso, pela nulidade do processo, por faltar-lhe o termo essencial de inquirição de testemunhas, em número legal. E por último, faltava também o termo essencial do auto de corpo de delito praticado na pessoa do promotor de justiça. Decisão. O relator foi de opinião que se negasse a ordem, sendo o seu voto acompanhado por todo o Tribunal.

[Correio da Manhã (RJ), 29.11.1930. BN-Rio]

Arte de rua, Rio de Janeiro, RJ (Foto: Cristina Silveira)

1932 Agenor Guerra explica

Em Santa Maria, uma autoridade foi censurada, porque estabeleceu para um criminoso a pena de andar vestido de Adão. Inquerida sobre o motivo do feio suplicio de sua invenção sem patente, a autoridade mencionada respondeu que assim agiu, porque naquele distrito não existe geladeira e, como nos achamos em pleno inverno, achou que era castigo equivalente expor a pele nua do criminoso à ação gelante do tempo na rua de Santa Maria.

Ouvindo essa explicação o Agenor Guerra tirou logo a conclusão de que o subdelegado de Santa Maria é discípulo de Chico Chagas, “mandoranie-26”.

[Jornal de Itabira, 29\5\1932. Hemeroteca BN-Rio]

1933 A Russofobia na Cidadezinha

Comentando. Noticiam os jornais que o governo soviético acaba de criar uma nova fonte de rendas, com o objetivo de equilibrar o orçamento nacional. Trata-se, nada mais e nada menos, da exportação de gente mediante o pagamento de uma taxa de passaporte e com certas restrições que acautelem convenientemente os interesses da União Soviets.

Tudo faz crer que serão exportados os indivíduos e os que não fazem falta ao país. Seja como for, o que é certo é que o governo russo se vale de um recurso inédito para salvar as finanças nacionais. Entretanto, o governo brasileiro exportou recentemente tanta gente e não se lembrou de cobrar uma taxa. Isso, numa terra mais de impostos quer essencialmente agrícola, não deixa de ser estranhável. Quanto, por exemplo, não poderiam lucrar os cofres públicos com a exportação do herói de Araponga e quejandos!

[Jornal de Itabira, 22\01\1933. Hemeroteca da BN-Rio]

1936 Envenenamento Coletivo

Registrou-se ontem, em Itabira do Matto Dentro, o envenenamento coletivo de uma família composta de oito pessoas. Acompanhados de investigadores, seguiram para aquela localidade, para tratar do caso, o médico legista João Albino e o diretor do hospital de Pronto Socorro desta capital, dr. Oscar Negrão de Lima.

Em vista dos recentes episódios de S. Vicente Ferrer, Populaça e Abaeté, onde também se verificaram casos coletivos de envenenamento, e cujas populações se mostram alarmadas, seguirão também peritos do Gabinete Médico Legista, Gumercindo Borges Lima e Emílio Pinheiro de Barros.

[Jornal Pequeno (PE) 15/2/1936. BN-Rio]

 

 

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4 Comentários

  1. sr. redator,

    essas notícias policiais, pesquisadas pela grande Cristina Silveira, são ótimas.

    primeiro porque demonstra que o Matto Dentro (com ou sem hífen, mas sempre com dois “Ts” não difere em nada do resto do mundo, mas tem características únicas.

    segundo porque lendo hoje matérias sobre crimes, principalmente das primeiras décadas do sec 20, se tornam quase ou claramente histórias de humor.

    terceiro porque, ao lermos, passa na nossa mente como se fossem filmes curtos. e que com um bom roteiro, somando uma história de crime com as outras, dá um longa metragem de primeira, com drama e humor .
    até exportar gente imprestável no Brasil pra União Soviética, quede bom grado os torna comunistas para o bem da humanidade.

    — embora essa do Agenor Guerra (ih, Agenor, você tá vivo ainda e nem parece tão velho assim), “..Chico Chagas, ‘mandoranie-26:” nem googando nem nada trouxe luz pra uma leitura mais objetiva: nem quem é Chico Chagas -pode ser pq sou de BH mas sou de SMdoI, como escreve o mp, muito menos o mandoranie-26.

    deixa pra lá, ou explique-nos, Cristina. ou o redator original.

  2. Detalhe interessante a respeito da propaganda política rasgada a punhal, o Antônio João de Andrade e o Waldemar Andrade eram primos em primeiro-grau, sendo que talvez o Dr Grisolia não se atentou de perguntar a aquele se ele reclamou a aquele outro que era o delegado de polícia e seu primo,
    Essa história dos cheques sempre deram algum trabalho, só tendo terminado agora porque ninguém já os usa no Brasil.
    Já o vestido de “Adão”, este merecia mesmo um casacão, pois ali na terra da garrucha no inverno sempre fez frio.
    E a família envenenada, coitado deles, mas não se apresentou o que realmente provocou tal tragédia.

  3. Gusmaozinho, pensava eu qu tu havia morrido com o cometa. TB procurei mondarie26 e não encontrei, talvez seja apenas uma piada de Garrucheiro.
    E você percebeu bem a ideia de cinema. Você lerá uma história sobre moeda falsa que cabe num longa

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