Laços de sangue e de crime em Itabira do Matto Dentro – Pai de Drummond é agredido por Madeira
Grafite na Ladeira do Castro, Santa Teresa, Rio, março de 2018
Foto: Cristina Silveira
Leia na coluna policial desta sexta-feira:
Pai de Drummond é agredido por Madeira e salvo por Alfredo Drummond
Francisco Badaró é agredido em Itabira
Pires atenta contra Leão
Tudo acabado entre Costa Lage e Soares de Araujo
Garrucheiros honrados contra Anna Bispo
Amar, verbo incompreensível
E muito mais. Confira
1887 Ferros. Rixa na rua do Caracol
Sete Cachoeiras, 31 de março de 1887 (Sant’Anna dos Ferros). Senhor redator. Eu abaixo-assinada, mulher pobre, que vive de meus trabalhos rudes, venho do alto destas colunas, impetrar das autoridades superiores proteção na segurança de minha vida, porque na noite de 16 de março deste ano, arrobaram a minha casa e atiraram meus trastes no rio; e não satisfeitos, a 25 do mesmo mês danificaram o telhado com pedradas.
Há quase dois anos que não temos autoridades policiais: a imoralidade, a falta de respeito e rixas que diariamente se dão na rua do Caracol, tem chegado a tal auge que, a qualquer momento podem aparecer assassinatos.
As detonações de armas de fogo ouvimos quotidianamente à noite, entretanto nenhum patriotismo e zelo existe para melhorar este estado anárquico nesta salubérrima e rica freguesia, desprovida de autoridades policiais e de pároco, calculando-se para este, mais de três contos de rendimentos, mas houve quem empenhasse a demissão do agente do correio, conservador e pessoa morigerada que por sua lhaneza satisfazia a todos, por outra, que em nada melhorou o serviço postal, apesar de ser um homem bom, mas, como oficial de carpinteiro, precisamente encarregará nos serviços da agência pessoas estranhas na sua falta.
Eu atemorizada procurei abrigo noutra casa, com esperança de ser tranquilizada, porque o sr. juiz de Paz vai proceder o auto de corpo de delito e remeter ao dr. juiz Municipal do termo, em que deposito fé por ser magistrado.
Juvência Christina Bragança
[A Província de Minas, 31/3/1887. BN-Rio]
1887 Leão golpeia Costa
Sant’Anna de Ferros, Sete Cachoeiras. Em novembro próximo passado comprei ao sr. Antonio Teixeira de Souza Leão, residente no lugar denominado – Bateias – município de Santa Bárbara, trezentos alqueires de terra por escritura pública e fiquei devendo ao mesmo, por crédito particular, a quantia de um conto de réis a vencer-se em dezembro corrente.
Posteriormente à compra soube que o terreno vendido pelo mesmo não lhe pertence todo, visto que os escravos de seu finado sogro João Luiz Pinto, são senhores de partes nesse terreno no valor de trezentos e sessenta mil réis, por doação intervivos que fez o finado sogro do sr. Teixeira Leão.
Protesto, pois, não pagar ao sr. Leão o valor do crédito sem que ao mesmo se abata a quantia relativa ao valor da doação feita aos escravos nos terrenos comprados, a qual é de duzentos e dez mil réis, nas partes que comprei.
Previno, pois, que ninguém faça compra ou transação do crédito em questão, sem que se liquide o embaraço que há. Removido o mesmo, pagarei o que estiver devendo, sem pôr a menor dúvida. Antonio Irineu Pereira da Costa. Itabira, 10 de dezembro de 1887
[A Província de Minas, 16/12/1887. BN-Rio]
1889 Francisco Badaró é agredido em Itabira
Telegrama de Itabira para a corte – Diversos jornais da corte publicaram ontem um telegrama, transmitido de Itabira de Matto Dentro, em que diz que o dr. Francisco Badaró foi agredido por indivíduos assalariados na cidade.
[O Pharol (OP), 27/10/1889. BN-Rio]
1890 Pires atenta contra Leão
Deu-se há dias em Itabira, neste Estado, a seguinte cena de sangue: Fernando Rodrigues Pires, casado com Rita Maria Teixeira de Leão, por motivos particulares, brigou há dias com a mulher e descarregou-lhe tal paulada, que partiu-lhe o couro cabeludo.
Vendo o sangue escorrer lhe pelo rosto, a pobre mulher ficou como alucinada, e agarrando numa foice, deu horrível golpe no peito do marido. Ambos foram recolhidos à Santa Casa, em virtude da gravidade dos ferimentos. A polícia fez auto de corpo de delito e o delegado abriu inquérito, que ainda não concluiu.
[O Pharol (OP), 8/1/1890. BN-Rio]
1890 O cão de d. Caethana
Sessão Livre. Cidade de Itabira – Ainda continua nas ruas desta cidade, o celebre cão, de d. Caethana, a querer alimentar-se da carne humana! Providência sr. fiscal.
Fernando G. Terceiro. Itabira, 25/10/1890.
[A Ordem (MG), 29/10/1890. BN-Rio]
1893 Pai de Drummond é agredido e salvo por Alfredo Drummond
Revista do Interior. Itabira – No dia 14 à noite, ao entrar nesta cidade o cidadão Carlos de Paula Andrade em companhia de seu cunhado Alfredo Drummond, se encontraram com Augusto Fernandes Madeira, a quem pediram desviasse o seu animal para não espantar o da sua montaria, que refugava.
Foi recebido grosseiramente por Madeira, o qual, além de responder-lhe mal, o agrediu ousadamente com um cacetete, procurando vitimá-lo. Em sua defesa e na iminência do perigo dispara um tiro Alfredo Drummond, que logrou salvar a seu cunhado, sem matar à Augusto, que ficou levemente chumbado. Procedeu-se à auto de corpo delito.
[Minas Gerais Oficial, fevereiro de 1893. BN-Rio]
1893 Uma desdita em Antonio Dias-Abaixo
Homicídio involuntário. A 9 do corrente mês, em Antonio Dias-Abaixo, município de Itabira de Matto Dentro, deu-se o seguinte lamentável fato: O lavrador Benedicto de Lima, tendo ido à uma caçada, próximo àquela localidade, e encontrando em meio do caminho diversas pessoas, algumas parentes seus, começou distraidamente a conversar, acontecendo inesperadamente disparar a arma que consigo levava, indo toda a carga empregar-se na região torácica do menor Francisco de Lima, seu primo, que no mesmo momento sucumbiu vítima do ferimento. Benedicto e diversas pessoas, todas testemunhas da casualidade do fato, tomaram as providências que o caso reclamava. A autoridade policial abriu inquérito e procedeu às averiguações necessárias. [Minas Gerais Oficial, 21/5/1893. BN-Rio]
1893 O canivete das crianças
O pequeno Octavio, filho do sr. dr. João Baptista de Carvalho Drumond em briga com o pequeno Carlos, filho do sr. Joaquim Custódio Martins da Costa, deu-lhe casualmente um golpe de canivete no pescoço, golpe que se não fossem os prontos socorros, seria fatal a Carlos. Felizmente o ferido está livre de perigo.
[A Itabira, 13/8/1893. BN-Rio]
1893 A lanterneta da Marinha do Brasil matou Emília Penido
Emília Penido – Extraímos de O País a seguinte carta sobre a lamentável e trágica morte desta virtuosa senhora, nossa conterrânea, a cuja família apresentamos nossos pêsames: Acabo de ver o cadáver da velha Emília Penido, e encheu-me de profundíssima comoção. Que horror! a pobre senhora tem o ventre completamente espatifado por uma das balas do Javary.
Pormenores: A senhora morava à rua José Bonifácio, n. 6, em S. Domingos, onde não foi colocado um único canhão. Era mãe de numerosa família, considerada em todo S. Domingos. Entre os seus filhos conta-se o falecido dr. Jeronymo Penido Junior, o dr. Agostinho Penido e o dr. José Penido.
Três de suas filhas tinham ido ouvir missa e a pobre velha, assustada com os tiros de artilharia, chegava frequentemente à janela para ver se suas filhas vinham. Numa dessas ocasiões a bala (lanterneta) apanhou-a e um dos fragmentos apanhou uma moça, Mathilde Teixeira de Carvalho, aluna do 2º. ano da Escola Normal, que se achava na mesma casa. Essa moça, aliás bela, apresenta uma fratura cominutiva dos ossos da perna e foi recolhida no hospital de S. João Baptista. Refere-se que seja preciso amputar-lhe a perna.
As filhas da senhora, logo que viram o cadáver da mãe ficaram quase loucas de dor e gritavam:
– Ah! Miserável Custódio de Mello [Ministro da Marinha e Guerra], que nos mataste o único bem que possuíamos na terra! Maldição sobre ti, maldito! Maldito! Maldito!
Uma cena dolorosíssima, inenarrável, e que merece da tua pena inspirada de escritor, traços que fixe para sempre na memória dos brasileiros.
[A Itabira, 3/9/1893. BN-Rio]
[Revolta da Armada, o golpe sobre golpe: exército contra D. Pedro II e a Marinha contra o exército]
1893 Que galo!
Sexta-feira última, um galo atacou um menor filho do sr. Antônio João dos Reis, e deu-lhe um grande golpe no frontal!! O sr. Antônio João não vingou-se bem de tal ave, pois a matou e não quis comer.
[A Itabira, Itabira (MG) 3/9/1893. BN-Rio]
1893 Tudo acabado entre Costa Lage e Soares de Araujo
Ferros. Ilmo. Sr. Marcolino da Costa Lage. Venho às colunas deste jornal fazer-lhe algumas observações que julgo necessárias para o seu governo.
Quando, à 8 do corrente, ousei empunhar a pena para lhe dirigir minha carta, não o fiz com intuito de procurar relações com s.s. e sim com o fim exclusivo de explicar-lhe como se havia passado o negócio que fizemos, cerca de cinco anos mais ou menos.
O fato de existir inimizade entre duas pessoas, creio que não é razão suficiente para que estas se vejam inibidas de (em casos como aquele) escrever uma à outra.
A carta ainda existe em meu poder; pelo seu conteúdo se vê que não é carta de amigo para com amigo, e nem procurando relação, como s.s. supôs.
Sou homem pobre, é verdade, mas sempre orgulhoso, e para mim não há hipótese de procurar fazer pazes com indivíduos que gratuitamente declaram-se meus inimigos.
Prefiro morrer a procurar fazer pazes com s.s., porque nada tenho a dever-lhe por essa inimizade.
Fique, pois, sabendo que para mim sempre foi indiferente entreter ou não quaisquer relações com s.s.; sempre dispensei-as e dispenso-as absolutamente.
Quanto ao ponto da ofensa por s.s. dirigido à minha pessoa, dando-lhe o devido desconto… entendo que devo passar sobre ele a esponja do mais solene desprezo e atirá-lo, onde se atira os enxurros da humanidade. 20 de novembro de 1893. José Soares de Araújo.
[A Itabira, 31/12/1893. BN-Rio]
1894 Garrucheiros honrados contra Anna Bispo
De Santa Maria veio em nosso escritório um cavalheiro pedir-nos reclamasse ao sr. subdelegado do lugar uma medida qualquer para aliviar a população daquele florescente arraial dos constantes atos da louca Anna Bispo, que traz em assalto as exmas. famílias. Esperamos ser atendidos pelo sr. Francisco de Assis, digno subdelegado dali.
[A Itabira, 7/1/1894. BN-Rio]
A rua do Caracol em Sete Cachoeiras devia ser bem “encaracolada”, as festas noturnas com tiros lá eram constantes.
Hoje, o distrito de Sete Cachoeiras, município de Ferros, já não tem tanta relevância como naquela época, perdeu população para a mineração e para a siderúrgica.
E o Teixeira Leão aplicando um golpe no Antônio Irineu Pereira da Costa, sendo este natural da sesmaria Sete Cachoeiras, a qual foi dos seus avós Antônio Pereira da Costa e Germana Cassiana Hipólita de Alvarenga e esta era a irmã mais nova do Major Lage. Fez muito bem ele em não pagar o restante da compra e fazer comunicado ao público para resguardar seu patrimônio.
Alguma desavença não esclarecida aconteceu com o Badaró e o colocaram a correr da cidade, sendo este natural da região de Minas Novas e com ascendência libanesa.
O cão da Caethana, na época, faltou quem lhe desse um tiro de garrucha ou clavinote, assim acabava com o incômodo que ele provocava aos transeuntes; considerando que cão não é natural do Brasil e por isto mesmo não tem proteção das leis local.
O Madeira foi incauto, um grosso, pois foi-lhe solicitado que se apartasse com seu animal para não ocorrer um acidente grave com o Andrade, sendo que os dois animais deveriam ser “cavalos inteiro” e não tem jeito de um combinar com o outro. Para proteger seu cunhado, fez muito bem o Drummond em dar um tiro de aviso ao tipo do cassetete e colocá-lo a andar para outras bandas.
O Benedicto de Lima deve ter ficado mostrando a arma de mão aos primos, possivelmente um revólver 45 que era uma novidade, ocorrendo a tragédia com o primo Francisco, uma pena.
O pequeno Octávio era primo do pequeno Carlos, que brincadeira mais sem graça aquela de canivete nas mãos de uma criança.
A lanterneta, coisa mais despropositada da Marinha do Brasil ao deixar os marujos utilizarem essa arma em direção ao cais ou à rua e deu no que deu, ocorreu a tragédia com a Srª Penido; que triste sina a dela.
O galo foi virar canja na panela de algum vizinho ou comida de cachorro mesmo, fez muito bem o Sr
Reis.
E o Marcolino deve ter feito algum mal negócio com o João Araújo, a ponto deste fazer o comunicado público. Não foi dito o que realmente ocorreu entre ambos.
Interessante notar que o Marcolino é tio trisavô da Cristina Silveira, a qual fez a recolha destas notícias nos jornais arquivados na Biblioteca Pública Nacional no Rio de Janeiro. Marcolino era irmão do Domingos e ambos filhos do João Dionísio da Costa Lage, o qual era o proprietário da sesmaria do Turvo em Ipoema.
Engraçado notar que a Anna Bispo até que foi bem tratada pelos garrucheiros, pois, sabido é, que com garrucheiros em Santa Maria de Itabira não se brinca…