Laços de sangue e de crime em Itabira do Matto Dentro – João Pão mata João Andrade
Chafariz da Gloria, Rio, 03-07-2023: “Toda Mulher merece amar outra mulher.”
Fotos e Pesquisas: Cristina Silveira
1900 João Pão mata João Carlos de Andrade
De Itabira passaram para o Jornal do Comércio, do Rio, o seguinte telegrama: No dia 2 corrente, João Pereira, vulgo João Pão, seu cunhado Antonio e outro, assassinaram barbaramente e traiçoeiramente o fazendeiro João Carlos de Andrade, em sua fazenda, no distrito da mesma cidade.
Os assassinos evadiram. João Pão é natural da Chapada (Diamantina) e reside em Itambé (Conceição). A família do assassinado promete valioso prêmio para a captura dos assassinos.
[Gazeta de Minas (Oliveira), 14/3/1900. BN-Rio]
1900 O surto fatal do professor Lot
Barbado assassino. O Correio de Itabira de 1 do corrente, noticia o seguinte fato: Há pouco deu-se em Catas Altas de Matto Dentro um assassinato bárbaro, praticado por Eduardo Lot, ex-professor público primário e que ultimamente lecionava particularmente na fazenda do sr. João Bittencourt, a meia légua daquela localidade.
A vítima do malvado professor fora um camaradinha de tropa do mesmo sr. João Bittencourt, com quem, sem se conhecer o motivo, havia implicado Eduardo Lot, que, da fazenda, que havia viajado para o Caraça, esfaqueou barbaramente, cruelmente, ao referido camaradinha, um rapazola de 16 anos, mais ou menos, de idade, que em nada, ao que parece, lhe havia ofendido.
Lot se acha detido na cadeia de Santa Barbara, tendo sido preso após o assassinato que praticara. Na prisão tem revelado, segundo nos consta, indícios de loucura.
[Jornal do Brasil, 11/5/1900. BN-Rio]
1900 Acidente de trabalho na tipografia
Em dias da semana passada, quando se procedia à impressão de uma das páginas do Correio de Itabira, o sr. Jorge Fontes, tipógrafo das oficinas daquele colega, deixou os dedos índice e médio da mão direita serem apanhados pelo prelo, que os esmagou pela ponta.
[O Pharol (OP), 8/8/1900. BN-Rio]
1900 Acidente de trabalho na fazenda da Cachoeira
Na fazenda da Cachoeira, em Itabira do Matto Dentro, no dia 26 de outubro, quando o menino Felinto de Almeida, filho do sr. coronel Francisco Candido de Almeida Oliveira, se ocupava com o trabalho referente à caldeira do engenho de açúcar da mesma fazenda, apanhou-o por um movimento brusco a turbina, contundindo lhe bastante a mão de direita e esmagando lhe dois dedos.
[O Pharol (OP), 14/11/1900.11.14. BN-Rio]
1900 Acidente de trabalho na fazenda do Bexiga
Narra o Correio de Itabira, que o sr. José Theodoro, um dos proprietários da fazenda do Bexiga, quando se faziam experiencias para pôr em movimento o engenho de cana, desastradamente introduziu a mão por entre a engrenagem da grande máquina, que lhe foi esmagando o braço até que as pessoas presentes pudessem para o mecanismo.
Os drs. Câmara e Rosa, chamados em socorro da vítima, fizeram-lhe amputação do terço superior do braço direito. Com essa operação, o sr. José Theodoro sentiu-se logo aliviado das grandes dores que sofria.
[O Pharol (OP), 19/10/1900. BN-Rio]
1900 Incêndio na casa de Antonio Basílio Almeida
Em a noite de 1⁰ do corrente, manifestou-se incêndio na casa do sr. Antonio Basílio de Almeida, em Itabira do Matto Dentro, chegando as chamas a alastrar-se em abundância pela cumieira do prédio.
Restos de brasas tiradas de um forno e lançadas a um canto deram origem ao incêndio, que podia ter sido de piores consequências, se populares abnegados não acudissem a extingui-lo.
[O Pharol (OP), 26/12/1900. BN-Rio]
1902 O Feitiço Azul de Senhora do Carmo
Notas policiais. No distrito do Carmo, no município de Itabira de Matto Dentro, apareceu alí há poucos dias, um curandeiro tirador de feitiço. Dizia-se do Serro e dava pelo nome de José de tal. Era fula, analfabeto e estava muito pobremente vestido. Estes sinais lhe serviram de recomendação.
Classificava os feitiços por suas cores, sendo o azul o mais perigoso. Só ele via a cor do feitiço. Em três dias, que esteve no lugar, arrancou daquele povo cerca de quatrocentos mil réis, incluindo-se o prego de uma besta boa pilhada ao sr. José Pereira de Magalhães e de um cavalo, ao sr. Antonio Caetano da Cruz. Os doentes lucraram a experiência.
[O Pharol, 27/12/1902. BN-Rio]
1903 Desaparecido na Matta
Há 9 anos, mais ou menos, que saiu da casa paterna com intenção de viajar para a Matta, Vespasiano Evangelista de Araujo, moço filho de Mariano Calixto dos Santos, já falecido, e Turtia de Araujo, residente em Antonio Dias Abaixo, município de Itabira.
E não voltou. A pobre mãe, aflita por notícias desse seu filho, recorre à imprensa pedindo transcrição desta notícia.
[O Pharol (OP), 10/1/1903. BN-Rio]
1903 O cavalo roubado
Tendo, há dias, sido furtado um cavalo do dr. Estevam Pinto e recaindo a suspeita do crime contra João de tal e sua mulher, que no dia 8 haviam sido despedidos da casa daquele cavalheiro, onde eram criados, o dr. chefe de Polícia pôs um agente ao encalço deste casal, que havia seguido por terra para Ouro Preto.
Duas léguas além de Itabira o agente encontrou com João e sua mulher, os quais levavam o cavalo furtado. O animal foi apreendido, tendo os gatunos desaparecido no mato logo que ao virem pressentidos pela polícia.
[O Pharol (Juiz de Fora), 10/3/1903. BN-Rio]
1903 Presos fogem da cadeia
Itabira de Matto Dentro. Evadiram-se da cadeia desta cidade, na madrugada de 24 passado, quatro presos dos cinco que se achavam, ficando somente o de nome José Miranda, que não os acompanhou. Até o dia 29 nenhum noticia havia dos fugitivos.
São eles: Joaquim Bom condenado a 17 anos por crime de morte [matou 7 mulheres com quem era casado] e que havia apelado da sentença; Chicão, que ficara implicado num crime de morte e que ainda não havia sido julgado; Pedro Baptista, não julgado, por notas falsas; Fulano Baiano, condenado a 14 meses de prisão que findariam por poucos dias. O arrombamento foi praticado por Joaquim Bom [assassinou 7 esposas], hábil carpinteiro.
[O Pharol (OP), 5/9/1903. BN-Rio]
1904 Arrombamento, foiçada e tiro no Itambé
Itambé – Segundos nos informam, quatro arrombamentos em casas comerciais se deram na sede deste distrito, na noite de 11 para 12 do corrente. As casas arrombadas são as dos srs. João Alves, Antonio Machado, Deolindo Costa e Ramiro Lage.
Também no dia 11 houve alí um conflito entre José de A. Lima, filho do nosso amigo Jeronymo de Araújo Silva, e José Botelho, tendo este amputado à foice a mão esquerda daquele que em represália lhe desfechou um tiro. Ambos estão à beira da morte.
[Conceição do Serro (MG), 2/8/1904. BN-Rio]
1905 O Cão do sr. Mathias
Notícias de Itabira pelo correspondente. Na tarde do dia 5 deu-se um lamentável desastre na rua d’Agua Santa desta cidade.
A exma. Senhora d. Amélia Camara, virtuosa esposa do venerando sr. capitão José de Paula Camara, quando passeava nas imediações do jardim de sua casa, foi atacada por um cão feroz do sr. Mathias que a prostrando por terra mordeu-lhe gravemente em ambas as pernas, podendo ser maior a desgraça se não houvesse pronto socorro à vítima.
Apesar de muito ferida, não inspira, entretanto, sérios cuidados o estado de d. Amélia que continua de cama e tem sido muito visitada. É seu médico assistente o seu digno filho, dr. José de Paula Camara.
[O Pharol (Juiz de Fora), 16/2/1905. BN-Rio]
1900 Assassinaram o inglês
Os irmãos Roberto Alves e João Evangelista Rodrigues Alves, indigitados autores do assassinato do inglês John Eslick no município, de Santa Barbara, são também, ao que refere o promotor de justiça de Itabira, indigitados ladrões de seis bestas de carga do cidadão Firmo Barroso, de S. Sebastião dos Correntes, e de um burro, também de carga, do cidadão Francisco Silvério da Silva, de Sete Cachoeiras.
[O Pharol (Juiz de Fora), 18/2/1900. BN-Rio]
Notícia triste aquela que chegou da Fazenda da Ponte no dia 25 de Fevereiro de 1900, João Carlos de Andrade fora assassinado por João Pão.
João Carlos era natural da Fazenda da Florença, Santa Maria de Itabira, e casou com sua prima-primeira Ernestina Martins da Costa Cruz que era da Fazenda Santa Cruz.
Deixou a viúva e quatro filhos, sendo eles a Mercês, Rodrigo, Carlos e Joaquim, todos menores de idade no dia trágico para a família
Pelo que contam os mais velhos, praticamente fora assassinado na frente dos filhos.
Diz a neta Dª Maria do Rosário que ele foi assassinado por ter cobrado uma banda de porco, a qual o assassino reclamou e praticou o crime de sangue.
Dizia o sobrinho José Martins Cruz e o primo Juquinha Cabral que ele foi assassinado por outra questão, a qual me eximo de comentar ainda por escrito.
Dizia a sobrinha do João Carlos a Águida Drummond, Dª Dadá, que antes de morrer o assassino João Pão confessou o seu crime e estava arrependido; naquela altura, não me recordo o ano da morte, João Pão vivia em uma fazenda em São Domingos do Prata.
Sua outra neta, Dª Lídia, guardava a página do jornal com a notícia completa como recordação do triste fim de seu avô paterno.
E ela teve uma filha que nasceu no mesmo dia e mês do assassinato de seu avô 72 anos após, era para se chamar Joana, mas acabou ficou sendo Mônica.
Disseram-me que na varanda da sede da Fazenda da Ponte ainda tem as marcas de sangue a conferir o ato odioso, não fui lá para conferir, provavelmente não irei.
Na notícia do curandeiro dito “fula”, quer dizer que ele era da tribo dos fula que vive entre a Guiné-Bissau e o Senegal, África subsaariana.
O perdão!
O perdão da família ocorreu quando Dª Anna Joaquina Martins da Costa Cruz de Andrade, viúva de Carlos Casimiro da Cunha Andrade e mãe do João Carlos de Andrade, tomou conhecimento de que a família de João Pão passava por dificuldades com o sumiço dele.
Então ela passou a enviar cargueiro com gêneros alimentícios a suprir alguma necessidade dos filhos do João Pão, abandonados pelo pai, os quais não tinham nada a ver com a estupidez dele.
Eu aguardo o seu comentário, meu querido Mauro, com uma revolucionária ansiosa pela chamada geral do grande líder.
Penso que tenho o direito, em reservado, saber do motivo real do assassinato.