Itabira trata pouco mais de 40% do esgoto produzido na cidade, informa presidente do Saae
Fotos: Carlos Cruz
Bem menos do que informava a administração anterior do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), que dizia tratar 91% do esgoto domiciliar urbano na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Laboreaux, Itabira só dá conta de processar pouco mais de 40% do esgoto produzido na cidade.
A informação é da presidente do Saae, Karina Rocha Lobo, que prestou contas, nessa segunda-feira (27), das atividades da autarquia, na reunião das comissões temáticas da Câmara Municipal de Itabira.
“A capacidade da ETE Laboreaux é de tratar 160 litros por segundo (l/s) mas só está recebendo 70 l/s. Com a duplicação (de sua capacidade, que ainda está em curso) podemos chegar a 80%/90%. Para ter 100% do esgoto tratado no município precisamos concluir a duplicação dessa ETE, construir a da Pedreira, além das ETEs do Barro Branco e do distrito de Senhora do Carmo”, disse a presidente do Saae.
Mesmo esse percentual por ela apresentado tem sido questionado. Isso porque, conforme constatou a reportagem deste site, é grande o volume do esgoto da cidade que tem sido lançado diretamente nos cursos d’água, sem passar pela ETE Laboreaux.
É o que se observa em quase toda a extensão do canal Gabiroba, por onde passa o rio de Peixe, como também em vários trechos do córrego da Penha, em quase toda a extensão do canal da Praia. “Não temos todo esgoto da cidade interceptado e passando pela ETE. A nossa meta é alcançar 99% do esgoto da cidade de Itabira interceptado para ser tratado em 2026”, informou Karina Lobo.
Recursos
Perguntado se o Saae dispõe de recursos próprios para atingir essa meta, a resposta foi negativa. “Não há recurso suficiente do Saae. Vai ser preciso que o município (Prefeitura) faça aportes de recursos adicionais, sendo que parte sairia do financiamento da Finisa”, disse ela.
Karina Lobo se refere ao pedido de empréstimo de R$ 99 milhões junto à Caixa Econômica Federal, encaminhado pelo prefeito Marco Antônio Lage (PSB), que ainda não foi votado pelos vereadores, retirado de pauta a pedido do líder do governo, por temer a sua derrota por um voto.
Saiba mais aqui:
Saneamento básico
O empréstimo requerido pelo prefeito é para investir também em outras obras de infraestrutura, assim como é para que a Prefeitura e o Saae cumpram o que dispõe o Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB), aprovado pela Câmara e sancionado em 2016, sem que tenha ainda saído do papel.
Segundo o IBGE, 8% da cidade de Itabira ainda não dispõe sequer de esgotamento sanitário adequado. Mudar essa realidade, para que todos na cidade e nos distritos possam dispor de redes de esgoto na porta de suas residências, é um dos objetivos do PMSB, que precisa sair do papel.
É preciso também construir a ETE da Pedreira, que já tem recursos assegurados e está em processo de licenciamento ambiental, de Senhora do Carmo e do Barro Branco, além de ampliar a rede interceptora da estação de tratamento de Ipoema, que também está longe de alcançar a sua capacidade nominal.
“Todo mundo aqui em Ipoema sabe que a maioria do esgoto não é tratado”, confirmou o professor Santos de Souza Guerra, na reunião da Câmara realizada no distrito, em 22 de fevereiro deste ano.
Isso ocorre, segundo ele, por falta de interceptores, uma situação que se arrasta desde a instalação da ETE de Ipoema. Com isso, “apenas 34% do esgoto gerado na sede do distrito é tratado – o restante segue poluindo os cursos d’água”, de acordo com a avaliaçao do professor Santos Guerra.
Para saber mais, acesse:
E também aqui:
Ipoema não quer só asfalto para o Carmo, mas também tratamento de esgoto e coleta de lixo eficientes
Risco ao turismo
Sem tratamento de esgoto, no futuro pode ficar comprometido até mesmo o turismo rural que vem se fortalecendo nos distritos de Itabira. Isso pelo risco de pessoas serem contaminadas, por exemplo, por esquistossomose, o que afugentaria os turistas.
Foi o que aconteceu em Santa Maria de Itabira que, até o início da década de 1980, recebia grande número de pessoas no verão para tomar banho no rio Tanque e em seus afluentes, como na cachoeira dos Borges.
Mas tudo isso acabou depois de o Instituto Renê Rachou, da Fiocruz-Minas, apontar o município como tendo um dos maiores focos de xistossomose em Minas Gerais. Foi quando o concorrido balneário entrou em decadência para nunca mais se recuperar.