Itabira sucateada: Prefeitura dá início à reparação de galeria de esgoto no final do canal da Praia que deixa de ser tratado na ETE-Laboreaux

A adutora foi rompida com as chuvas do início do ano e evidencia o estado deplorável de situações similares que repetem em diversos bairros de Itabira, com os efluentes domiciliares sendo lançados diretamente nos cursos d’água.

Na administração passada, o então presidente do Saae Leonardo Lopes disse, na Câmara, que Itabira tratava 91% do esgoto domiciliar urbano. Era fake, conforme foi desmentido por fotos publicadas por este site mostrando boa parte do esgoto da cidade sendo lançada diretamente nos córregos, por falta de interceptores e galerias.

Por Carlos Cruz

Após seis meses do rompimento de manilhas no final do canal da Praia com as fortes chuvas do início do ano, finalmente o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Itabira iniciou, no dia 17 de junho, o serviço de recuperação da adutora que se rompeu no final do bairro Praia, deixando de levar os efluentes de boa parte da cidade para ser tratado na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do Laboreaux.

Tãozinho Leite quer que o Saae deixe de cobrar taxa de esgoto enquanto não voltar a tratar os efluentes que estão sendo lançados diretamente nos cursos d’água (Fotos: Carlos Cruz)

A demora na execução do serviço foi bastante criticada na Câmara Municipal de Itabira nas últimas sessões.

Na terça-feira (14), o vereador Sebastião “Tãozinho” Ferreira Leite (Patriota) apresentou requerimento à Comissão de Defesa do Consumidor, pedindo que encaminhe ofício à autarquia para que deixe de cobrar a taxa de esgoto do contribuinte itabirano que não tiver o seu esgoto domiciliar sendo tratado.

Pediu, ainda, que fosse devolvido o que foi pago referente à essa taxa nos últimos meses, uma vez que a maior parte do esgoto da cidade está sendo lançado nos cursos d’água sem tratamento, poluindo o rio de Peixe, como é facilmente constatado a jusante da ETE.

Esgoto no rio de Peixe, abaixo da ETE Laboreaux: prova inconteste de que a maior parte do esgoto de Itabira não está sendo tratada

Heraldo Noronha, que mora em frente ao local próximo do local onde as manilhas se soltaram, é outro vereador que vinha cobrando providências do Saae. “É uma poluição muito grande para o meio ambiente e os moradores estão sofrendo há mais de seis meses com o mau-cheiro insuportável”, cansou-se de cobrar.

Luciano “Sobrinho” e Heraldo manifestaram contrários ao empréstimo da Finisa, mas podem rever posicionamento diante das precárias condições de saneamento básico em muitos bairros da cidade

“É um problema de saúde pública, o esgoto correndo a céu aberto pode causar muitas doenças”, emendou o vereador Luciano “Sobrinho” Gonçalves dos Reis (MDB).

Mesmo com esses posicionamentos claros em defesa da despoluição do rio de Peixe, e pelo tratamento de esgoto, os dois parlamentares já se manifestaram contrários ao projeto do prefeito Marco Antônio Lage (PSB) que pede autorização legislativa para a Prefeitura contrair empréstimo de R$ 99 milhões junto à Caixa Econômica Federal, por meio da linha de crédito Financiamento à Infraestrutura e Saneamento (Finisa).

Mas eles podem rever o posicionamento contrário diante desse quadro-geral lastimável de sucateamento das redes coletoras (adutoras e interceptores) na cidade e da falta de saneamento básico em muitos bairros – e que se repete também nos distritos de Senhora do Carmo e Ipoema.

Gabiroba

No bairro Gabiroba, o esgoto também é lançado diretamente no rio de Peixe, causando insalubridade, mau-cheiro e risco à saúde da população

Segundo Tãozinho Leite, situação semelhante ocorre também no bairro Gabiroba, onde o esgoto está também correndo a céu aberto pelo leito do mesmo rio de Peixe que passa pela superpovoada região. “A população sofre com as inundações na época de chuvas e com o mau-cheiro na estiagem, principalmente quando o sol esquenta”.

Com esses problemas decorrentes do sucateamento da infraestrutura urbana, e que veem se arrastando há anos, a ETE Laboreaux deve estar tratando quase nada de sua capacidade nominal. “Não chega a 20%”, estima Rodrigues.

Esse é um dado importante até mesmo para se avaliar a real condição em que se encontra o tão necessário tratamento de efluentes domiciliares e industriais de Itabira.

Por exemplo, como está o tratamento de efluentes do Distrito Industrial, que fica a montante da Estação de Tratamento de Água da Pureza, é outra apuração que os vereadores precisam fazer e, se necessário, cobrar soluções.

“Devemos não só cobrar do Saae a solução para esses problemas do esgoto, mas também informações do volume real que está sendo lançado sem tratamento e do que está sendo de fato tratado na estação do Laboreaux”, sugeriu o vereador Bernardo Rosa (Avante) para que conste na correspondência da Câmara a ser encaminhada do Saae.

ETE Laboreaux; construída no início deste século, estação ainda continua inoperante, mesmo com a sua duplicação

Problema antigo

De acordo com o presidente da Câmara, vereador Weverton “Vetão” Andrade (PSB), o problema do esgoto correndo a céu aberto no final do bairro Praia se arrasta desde 2003, quando o então prefeito Ronaldo Magalhães executou mais uma etapa do canal, mas sem que fosse feita a extensão da rede até a ETE Laboreaux.

“Em 2018 eu denunciei essa situação ao Ministério Público, para que fosse exigida da Prefeitura essa complementação, sem a qual boa parte do esgoto de Itabira fica sem tratar”, disse ele.

Pouco depois, o ex-presidente do Saae Leonardo Lopes compareceu à reunião das comissões temáticas, em 17 de outubro de 2019, quando afirmou com todas as letras que Itabira tratava 91% do esgoto domiciliar urbano. Disse ele sem ficar ruborizado:

“Esses problemas são antigos e se arrastam por muitas administrações, ainda sem solução”, diz Vetão

“Até o início da atual gestão (de Ronaldo Magalhães) Itabira só conseguia tratar 43% de todo esgoto gerado na cidade. Agora, com a duplicação da ETE, já estamos tratando 91% de todo esgoto domiciliar de Itabira”, afirmou i ex-presidente do Saae, para quem só estava sem tratamento os efluentes gerados no bairro Pedreira do Instituto.

Essa informação foi colocada em dúvida pelo vereador Heraldo Noronha, que na ocasião presidia o legislativo itabirano, ao citar o esgoto entancado no canal bem em frente à sua residência, no final do bairro Praia. “Estamos cobrando solução desde o início do nosso mandato (legislatura passada) ainda sem sucesso.”

De acordo com Noronha, esse local onde o córrego está entancado recebe o esgoto do bairro Praia, que vem das ruas Paraíso, Januária, Mesquita e João Camilo de Oliveira Torres. “Em nome dos moradores temos insistentemente pedido solução para esse problema, mas ainda não fomos atendidos”, ele cobrou de Leonardo Lopes.

Rede com manilha rompida: boa parte do esgoto de Itabira ainda é lançada nos cursos d’água apesar de a cidade dispor de estação de tratamento desde o início deste século

Vetão também contestou a informação do ex-presidente do Saae por não corresponder à realidade, conforme se comprovou, inclusive por fotos postadas neste site. “Essa alta performance não bate com o que é observado na cidade”, contestou o vereador, que na legislatura passada fazia oposição ao governo municipal.

Para contrapor às dúvidas desses dois vereadores, Leonardo Lopes disse que “a alta performance” teria sido alcançada depois que a Prefeitura instalou 9,8 mil metros de redes coletoras, e ou emissários, “interligando toda a rede de esgoto à ETE Laboreaux.”

Outro fator importante que, segundo ele, teria contribuído para “esse alto desempenho” foi a duplicação da capacidade produtiva da ETE Laboreaux. “Com os investimentos, a sua capacidade de tratamento saltou de 178 litros por segundo (l/s) para 356 l/s.”

Para saber mais, acesse:

Saae diz que Itabira já trata 91% do esgoto domiciliar urbano. Vereadores contestam esse índice, embora reconheçam avanços

E também aqui:

Ipoema não quer só asfalto para o Carmo, mas também tratamento de esgoto e coleta de lixo eficientes

Saneamento básico

“O problema é antigo e a falta de saneamento não se resolve com troca de manilhas”, diz Júber Madeira

“O problema do mau-cheiro no final do bairro da Praia não é só decorrente das manilhas que se saltaram com as chuvas. É um problema estrutural que ocorre por quase toda a cidade e que precisa ser resolvido de forma definitiva”, defendeu o líder do governo, vereador Júber Madeira (PSDB).

“Pois é justamente para resolver esses problemas de falta de saneamento que se arrastam há muitos anos que o governo espera aprovar o pedido de empréstimo junto à Caixa Econômica Federal”, defendeu, referindo-se ao projeto de lei nº 36/2022, pelo qual o prefeito pede autorização à Câmara Municipal para contrair empréstimo para investir no saneamento básico e em obras de infraestrutura.

Com a forte articulação contrária da oposição, o projeto foi retirado de pauta, adiando mais uma vez os investimentos necessários para que se cumpra o que dispõe o Plano Municipal de Saneamento Básico, aprovado no último ano do governo de Damon Lázaro de Sena (2013-16) – e que até hoje não saiu do papel.

Leia mais aqui:

Para não ser derrotado por um voto, líder do governo pede retirada de pauta do projeto de empréstimo para saneamento básico e infraestrutura em Itabira

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2 Comentários

  1. Os nobres vereadores deveriam lembrar que essa área sofre com mal cheiro e degradação há bastante tempo. Não é de agora.
    Se está caminhando para solução agradeça e caminhe juntos.

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