Itabira realiza Parada LGBTI em defesa da diversidade de gênero, demasiadamente humano
A chuva fina e intermitente pode até ter borrado alguma maquiagem, mas não impediu a alegre e descontraída realização da terceira edição da Parada LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais) de Itabira, ocorrida nesse domingo (19/11), na praça Acrísio de Alvarenga, promovida pela Associação da Diversidade Itabirana (ADI).
Mesmo com recursos escassos, e com uma infraestrutura que deixou a desejar – ao ponto de faltar energia elétrica na praça por um longo período, o que só foi solucionando com a parceria do programa 4ª Arte, de extensão universitária da Unifei/Itabira –, a parada reuniu milhares de pessoas que foram endossar e solidarizar com uma causa que é, sobretudo, de liberdade de ser o que cada um quer ser, sem que o Estado, as igrejas ou a família venham impor o que é certo ou errado.
Com a palavra de ordem Abraçando contra o preconceito, a parada foi exatamente isso. Pessoas de todos os gêneros, juntas contra todas as formas de preconceitos. E como não podia deixar de ser, foi um encontro animado e festivo, com direito a performances de artistas transformistas e drags queens que vieram de várias cidades para participar da parada, que já se torna tradicional na região.
Retrocesso
De acordo com o vice-presidente da ADI, Gercimar Almeida, após o golpe parlamentar que depôs a presidente Dilma Rousseff (PT), o país passou a viver um retrocesso que coloca em risco uma série de avanços contra o preconceito. “Essa onda conservadora reflete em todas as cidades brasileiras.”
Na parada de ontem, diferentemente da Marcha da Inocência, contrária ao que os neoconservadores chamam de ideologia de gênero, não houve apoio explícito dos vereadores itabiranos. Embora alguns tenham tido os seus nomes citados como apoiadores, nenhum se dignou a comparecer como forma de se solidarizar com a causa que luta contra a discriminação e a homofobia.
Na parte de infraestrutura, por exemplo, embora a Prefeitura, segundo Gercimar, tenha prometido todo apoio, faltou um toldo para abrigar os manifestantes da chuva – e também um palco decente para as manifestações políticas e artísticas. “Prometeram, mas não cumpriram. Ficaram de instalar um palco melhor e vieram com um palanque”, lamenta o vice-presidente da ADI.
Mas o que ele mais critica é a falta de campanhas de conscientização para a prevenção das agora chamadas Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs, ex-DSTs). “São doenças que podem atingir jovens e idosos, independentemente de suas opções sexuais”, afirma o ativista.
“Os governos, inclusive o municipal, escondem e não fazem campanhas. Nos veem muitas vezes como inimigos políticos, quando na verdade somos parceiros em favor da vida.”
Outro retrocesso após o golpe, diz o ativista, refere-se à má vontade de muitos cartórios em colocar em prática o reconhecimento pelo Estado da união homoafetiva. “Muitos municípios ainda se recusam a reconhecer a união estável de casais homossexuais. Felizmente isso não tem ocorrido em Itabira. Já temos dois casos de reconhecimento pelo cartório de uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo.”
Bandeira da paz
Segundo o vice-presidente da ADI, ao contrário do que pregam grupos conservadores, a questão de gênero deve ser debatida nas escolas. “É uma realidade que não pode ser negligenciada no ambiente escolar”, defende o ativista, para quem o preconceito significa atraso e retrocesso.
“Somos pela ideologia da paz e da diversidade. Teve uma senhora que veio à parada. Ela é evangélica e entendeu isso muito bem, quando disse que todos nós precisamos de paz e alegria. Essa é também a nossa bandeira.”
O itabirano Cláudio “Paloma Beckham” Gomes é transformista em momentos especiais, como a Parada LGBTI e o Carnaval. Ele se sente também um ativista da causa contra o preconceito.
“Eu abraço esse movimento para contribuir com o fim do preconceito que ainda é forte em toda a sociedade”, considera. “As pessoas precisam entender que somos seres humanos como qualquer outro cidadão, que temos nossos direitos. Viva a diversidade, a alegria, a paz e o amor entre todos os seres humanos”, propaga a Dama de Vermelho.
Prevenção
De acordo com Gercimar, é preciso debater mais o tema da diversidade e atuar na prevenção das ISTs. Foi o que fez o evento de ontem, que distribuiu mais de 3 mil camisinhas e géis lubrificantes de um kit obtido pelo governo passado. “Hoje, só morre de Aids quem não se cuida.”
Porém, segundo o ativista, para a prevenção ser mais eficaz é preciso também implementar nos consultórios e postos de saúde a nova Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ao HIV (vírus da Aids). Trata-se de um tratamento ministrado a pessoas que podem ter o vírus, mas em quem a doença ainda não evoluiu.
E para a eficácia da campanha, é preciso que governo e agentes de saúde também façam a sua parte com mais solidariedade e empenho. “Os médicos, por exemplo, não estão preparados para falar da PrEP com os seus pacientes”, lamenta.
Pela PrEP são ministrados medicamentos que devem ser tomados durante seis meses, por quem manteve relações de risco, reduzindo em 90% a taxa de infecção pelo HIV. A profilaxia deve ser associada a outras formas de prevenção, como o uso de camisinha e gel lubrificante. “Faltam campanhas para divulgar essa forma de tratamento”, reivindica.
Com esse objetivo, para o dia 1º de dezembro a ADI promove mais uma campanha de prevenção das ISTs. Na ocasião, será divulgada uma cartilha chamada Prevenção Combinada, enfatizando a prevenção e também as formas de tratamento.
A nova estratégia de tratamento combina intervenções biomédicas, comportamentais e estruturais. Por ela, a prevenção combinada reconhece que a pessoa deve escolher a melhor forma de tratamento, sempre unida à prevenção – e tendo como premissa os direitos humanos e a autonomia do indivíduo em tratamento.
Desaparecido
A família de Igor Junior Figueiredo, 17 anos, aproveitou a Parada LGBTI para pedir apoio para descobrir o seu paradeiro. É que ele está desaparecido desde 11 de outubro.
“Foi visto pela última vez em frente à Aposvale e não tivemos mais notícias. A polícia disse que está investigando, mas ainda não tem pistas”, conta o seu pai, José Geraldo Figueiredo.
Na próxima quinta-feira, às 14, na mesma praça Acrísio de Alvarenga, a família fará um ato público para pressionar as autoridades policiais para que investiguem o caso e esclareçam o desaparecimento do jovem itabirano. “Queremos saber o seu paradeiro. Agradecemos a todos que puderem nos ajudar a esclarecer o que pode ter ocorrido com o Igor.”
“(…) o retrocesso que o país vive após o golpe parlamentar que depôs a presidente Dilma Rousseff”. Dito assim, sem aspas (na legenda de uma foto), deu a entender que o site (este) é partidário, algo que já vinha transparecendo em posts anteriores. Uma pena. Jornalismo isento é, cada vez mais, apenas uma “utopia”.
Quem não quer ver estrelas não olha para o Céu.
“Quem não quer ver estrelas não olha para o Céu.” Excelente!!!
Hal, concordo com você. Este site deixa bem clara sua posição esquerdista. A ideologia política deste veículo não é declarada, mas, tácita e só quem tem um pouco maturidade para ler nas entrelinhaseé que percebe. Engraçado é que na parda LGBTI o site demonstra resiliência. Já na marcha da Inocência ele de cara já abriu a matéria descrevendo a fanfarra como barulhenta e a comparou com as da época do regime militar. Sem contar o texto totalmente tendencioso e pesando para o ponto de vista negativo. Que posição ridícula usar de um veículo de comunicação para demonstrar ideologia política ao invés de puramente informar com isenção. Ops…isenção é algo que está bem longe deste site. Crítica à marcha da inocência! Aplausos à parada LGBTI! Respeito mandou lembranças, ok?
Discordo. Prefiro um jornalismo que deixe claro sua opinião do que aquele que “finge” isenção (Globo, Folha de São Paulo)
Afinal, isenção é uma falácia no jornalismo que todos que o conhecem sabe.
noticiar um fato já é não se posicionar como isento!
Muito triste com este site. Tem tudo para crescer muito mas demonstrar apreço por determinados grupos e desprezo a outros é no mínimo desrespeitoso ao leitor.
Falando de desprezo, desprezar o próprio nome e se apresentar com sigla é o máximo!
Parabéns ao site. Só de mostrar o que é silenciado em Itabira, já é tomar algum partido. ” Quem não quer ver estrelas não olha para o céu”