Itabira melhora alfabetização na idade certa, mas ainda não atinge meta nacional
Fotos: Divulgação/ Ascom/PMI
O antropólogo e educador Darcy Ribeiro (1922/97), escreveu em 1978, no artigo O Mobral não faliu, publicado na revista Civilização Brasileira, uma crítica contundente ao modelo de alfabetização implantado pela ditadura militar (1964-85).
Esse modelo, que substituiu o método crítico e libertador de Paulo Freire (19921/97), promovia uma alfabetização mecânica, funcional, pela qual o cidadão aprendia a escrever o nome, mas não a compreender o mundo que o cercava.
O Mobral, assim, foi pensado como contraponto à proposta freireana de formar leitores conscientes e protagonistas da própria história. Daí que Ribeiro defendia que o Mobral não faliu, como diziam os seus críticos, pois cumpriu exatamente o seu propósito de educação bancária, sem criticidade da realidade.
Segundo ele, o país poderia erradicar o analfabetismo se garantisse escola a todas as crianças, formando adultos com leitura fluente e capacidade de interpretação.
País ainda mantém números alarmantes de exclusão escolar
Décadas depois, o Brasil ainda não seguiu essa orientação simples e estrutural. Segundo a PNAD Contínua – Educação 2024, divulgada pelo IBGE, o país contabiliza 9,1 milhões de pessoas analfabetas com 15 anos ou mais, o que representa 5,3% da população dessa faixa etária. O maior contingente está entre os idosos: 5,1 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais.
Em 2025, o número de crianças e adolescentes fora da escola também permanece elevado: cerca de 993 mil entre 4 e 17 anos estão fora da sala de aula, apesar da matrícula ser obrigatória por lei.
Os mais afetados são meninos (55%), pretos, pardos e indígenas (67%), especialmente adolescentes entre 15 e 17 anos. Quase 7 milhões de crianças de 0 a 3 anos também estão fora da creche, uma exclusão que atinge 60% dessa faixa etária.
Infelizmente, diante dessa realidade, o país reafirma o que disse Darcy Ribeiro: “Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. (…) Mas os fracassos são minhas vitórias, eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”,
É assim que o Brasil segue sem vencer o analfabetismo. E tampouco conseguiu edificar as bases estruturais necessárias para formar cidadãos plenos, como defendia Paulo Freire.
O elevado número de analfabetos funcionais alimenta um terreno fértil para o florescimento de ideias negacionistas e posturas anticientíficas, cuja expansão se tornou notável – e extremamente preocupante – nos últimos anos.
Prefeitura comemora avanço, mas ainda não alcança meta
Itabira, por sua vez, celebra um avanço importante. Em 2024, o município saltou de 57,2% para 68,15% no Indicador Criança Alfabetizada, aproximando-se da meta nacional estipulada para 2030, que estabelece ao menos 80% das crianças alfabetizadas até o fim do 2º ano do Ensino Fundamental.
O novo indicador representa um crescimento de 11 pontos percentuais em relação a 2023, com dados obtidos por meio do Sistema Mineiro de Avaliação e Equidade da Educação Pública (Simave) e do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada (CNCA).
A secretária municipal de Educação, Edna Carvalho, atribui o resultado ao empenho coletivo da rede. “Esse número mostra o comprometimento da equipe. Estamos construindo uma política sólida, com foco na formação docente e no acompanhamento das aprendizagens”, afirma.

Ações locais
Entre as ações que contribuíram para esse avanço, a Secretaria Municipal de Educação intensificou as visitas técnicas às escolas municipais, com foco em leitura e escrita; promoveu formação continuada para professores da pré-escola e dos anos iniciais. E realizou capacitações em fluência leitora, produção de texto, alfabetização e letramento matemático.
“No segundo semestre de 2025, essas formações serão ampliadas”, adianta a secretária. Os profissionais da Educação Infantil participarão do Pro-LEEI durante o expediente, enquanto os professores do Ensino Fundamental continuarão com encontros formativos mensais.
Além disso, o município aplicou o SAEMI, uma avaliação diagnóstica realizada com estudantes do 2º ao 9º ano, que permite planejar intervenções pedagógicas mais eficazes.
Desafios
Apesar dos avanços conquistados, os cenários nacional e municipal ainda apresentam desafios significativos, o que reforça a urgência de colocar em prática, de forma efetiva, as lições de Darcy Ribeiro e Paulo Freire.
A melhoria nos indicadores é uma etapa relevante, mas insuficiente. É imperativo garantir o direito à educação de qualidade a todas as crianças em idade escolar, na cidade e no meio rural.
A conquista comemorada pela Prefeitura de Itabira demonstra que há caminhos possíveis para transformar a realidade educacional do país. Mas, ao mesmo tempo, evidencia o extenso percurso que o Brasil precisa percorrer até que a alfabetização plena passe a ser regra para todos.
Que cada passo tomado pela gestão pública tenha esse propósito: erradicar o analfabetismo no município e, assim, contribuir para que seja também superado em âmbito nacional.