Itabira já se mobiliza, ainda em pequeno grupo, pela abolição da escala 6×1 de trabalho, movimento que ganha força nacionalmente

Fotos: Rodrigo de Oliveira

Não foi ainda uma manifestação de massa pela abolição da escala 6×1 de trabalho, considerada um resquício escravocrata, o ato público realizado nessa sexta-feira (15), em Itabira, organizado por partidos políticos de esquerda e parte do movimento social organizado da cidade.

“Convocamos a classe trabalhadora Itabirana para se unir ao chamado nacional unificado pelo fim da escala 6×1, exigindo a aprovação do projeto e a defesa dos direitos trabalhistas”, assim o nascente movimento itabirano divulgou o evento pela rede social, ainda sem obter a adesão da classe trabalhadora, a principal interessada.

“Foi bem esvaziado (o ato público com caminhada pela avenida João Pinheiro até a Câmara Municipal, na avenida Carlos Drummond de Andrade)”, reconhece um de seus organizadores, o militante do PCBR, Alam Piter.

“Mas marca o início da nossa organização e mobilização pelo fim da escala 6×1 e pela redução da jornada de trabalho”, enfatiza o militante, que é também ativista do Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração em Itabira e Região.

Movimento começa pequeno em Itabira com a expectativa de ganhar mais adesão para os próximos atos públicos pelo fim da escala de trabalho 6×1

Emenda constitucional

O debate sobre o fim da escala 6×1 vem ganhando força na política brasileira, atraindo a atenção da população. Segundo a autora do projeto, deputada Erika Hilton (PSOL-SP), a mudança visa melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.

O número mínimo de assinatura para o projeto começar a tramitar na Câmara dos Deputados já foi alcançado. Segundo a Folha de S.Paulo, 195 parlamentares já tinham assinado o projeto até 10h desta quarta-feira (13). O número necessário é de 171 dos 513 deputados.

A proposta de emenda à Constituição (PEC) busca abolir a escala de trabalho 6×1, que permite uma folga a cada seis dias trabalhados. A proposta é de três dias de folga por semana para quatro dias de trabalho, mantendo-se uma jornada diária de até 8 horas, incluindo a possibilidade de horas extras.

A justificativa é melhorar a qualidade de vida do trabalhador, dando-lhe tempo para o “ócio criativo”, necessário para o descanso, entretenimento, educação e cultura, motivando-o ainda mais para o trabalho.

Movimento crescente

Pode-se dizer que toda conquista social no país – e no mundo – começou de uma ideia que avançou em pequenos grupos para depois virar realidade, como uma utopia que deixa de assim ser para se tornar um direito adquirido e posto em lei, para que depois seja possível avançar sempre mais nas conquistas econômicas, sociais e culturais.

Pequenos grupos de indivíduos ativistas de uma causa específica frequentemente, e com o tempo havendo persistência, conseguem mobilizar a consciência pública e influenciar mudanças significativas.

Foi assim com o movimento abolicionista, que culminou na Abolição da Escravatura no Brasil em 1888. No início, o movimento enfrentou resistência significativa, tanto da elite econômica que se beneficiava do trabalho escravo quanto de outros setores da sociedade.

Teve início a partir de pequenos grupos de intelectuais, religiosos e ativistas brancos e pretos, que denunciaram os horrores da escravidão em meados do século XIX – o Brasil foi um dos últimos a não mais dispor desse abominável regime de trabalho.

A Lei Áurea só foi sancionada em 13 de maio de 1888, depois de muitos países, inclusive da América do Sul, que já tinham abolido a escravidão, como a Argentina em 1853 e o Uruguai em 1852.

Da mesma forma, o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, nos anos 1950 e 1960, nasceu da iniciativa de pequenos grupos de ativistas, organizados para combater a segregação social.

Foi crescendo até a realização de grandes mobilizações, a exemplo da Marcha sobre Washington, até culminar com as mudanças legislativas significativas, como a Lei dos Direitos Civis de 1964.

Outro exemplo é o movimento pelo direito ao voto feminino, iniciado a partir de pequenos grupos sufragistas na Inglaterra no final do século XIX e início do século XX.

Foi com o tempo e com muita luta que esse direito foi conquistado, inclusive no Brasil, que só o reconheceu em 1932, com a promulgação por Getúlio Vargas do novo Código Eleitoral, resultado de uma longa luta do movimento feminista, liderado pela ativista Bertha Lutz.

Outro exemplo é o movimento pelos direitos LGBTQIA+, que começou com pequenos protestos contra a opressão policial em bares gays de Nova Iorque, como os Distúrbios de Stonewall, em 1969.

Com o tempo, ganhou força com a realização de Paradas do Orgulho Gay, resultando em mudanças legislativas importantes, como é o caso da legalização da união civil (casamento) entre pessoas do mesmo sexo em diversos países, inclusive no Brasil.

Ato público incluiu passeata que teve início na rodoviária seguindo até a Câmara Municipal de Itabira

Direitos de última geração

É assim que muitos outros exemplos de direitos de última geração podem ser relacionados, que tiveram inicialmente forte resistência de setores e classes sociais privilegiadas – e mesmo daqueles que sofriam com a opressão, para só depois se transformar em movimento de massa e conquista social.

Esse já parece ser o futuro reservado ao movimento pelo fim da escala de trabalho 6×1, liderado pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que já vem ganhando força e apoio significativo em todo o país.

E que não demora a fortalecer também em Itabira, com adesão da classe trabalhadora e de seus representantes em associações, guildas e sindicatos (alô Metabase, Rodoviários, Comerciários, servidors municipais, Sindi-UTE, Associação das Trabalhadoras e Trabalhadores Domésticos, mobilizai-vos também, que a luta é de todos).

Pelo direito à preguiça, por que não?

A mudança na escala com redução na escala é primordial para melhorar as condições de trabalho, diminuir o esgotamento físico e mental dos trabalhadores, conciliando a vida pessoal e profissional.

É sim, para enfim assegurar ao trabalhador o direito ao ócio criativo, necessário para descansar, repor a força de trabalho, investir na educação e cultura, o que certamente resultará em uma atividade laborativa mais feliz e produtiva.

A resistência da elite econômica à proposta de emenda à Constituição (PEC), que busca abolir a escala de trabalho 6×1, é a mesma dos senhores de escravos frente ao movimento abolicionista.

E, como aquele, tem tudo pra vencer grandes desafios e resistências, promovendo mudanças significativas, necessárias, nas relações de trabalho e na convivência social, recreativa, cultural, por uma sociedade mais justa e igualitária e, consequentemente, mais feliz para todos.

Convocação pelo primeiro ato público pela abolição da escala 6×1: registro histórico

 

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