“Itabira está viva e feliz com o Flitabira”, disse o prefeito na abertura do festival, no dia em que teve início o julgamento do assassinato de Marielle e Anderson Gomes

Fotos: Carlos Cruz

A solenidade de abertura da quarta edição do Festival Literário Internacional de Itabira (4º Flitabira), nessa quarta-feira (30), foi marcada por manifestações de indignação e repúdio pelo brutal assassinato da vereadora Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, um crime que chocou o Brasil e o mundo.

“Estou muito emocionada porque, além do início do festival, hoje é um dia importante no Brasil, pois começa o julgamento do assassinato de Marielle Franco, seis anos depois”, fez questão de registrar a jornalista e escritora Bianca Santana, uma das curadoras do 4º Flitabira, conhecida pela defesa dos direitos humanos, pela luta contra o racismo e pela igualdade de gênero.

“Começamos este festival na busca também por justiça”, ela acentuou, sendo endossada pelo também jornalista e escritor Tom Farias, autor de afrobiografias premiadas e elogiadas por sua pesquisa detalhada e profundidade histórica, membro da Academia Carioca de Letras, candidato à cadeira 27 da Academia Brasileira de Letras (ABL), vaga com a morte do poeta Antonio Cícero (1945-2024).

*Curadores e curadores da quarta edição do Festival Literário Internacional de Itabira, na abertura, no centro cultural*

“Eu estava em São Paulo, na Casa Rosa, na avenida Paulista, lançando a biografia de Carolina (de Jesus, autora de Quarto de Despejo), quando recebi assustado as fotos e as imagens do assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes, sem querer acreditar”, relembrou.

“Passei aquela noite e o dia seguinte comentando em uma rádio de Nova Iorque as matérias que saíram sobre esse trágico e brutal assassinato”, contou Tom Farias, que disse ainda ter esperança em um Brasil melhor que virá, depois de conversar com estudantes da escola municipal Coronel José Batista, onde estudou o poeta Drummond na infância para a adolescência em Itabira.

O julgamento dos acusados pelo assassinato de Marielle Franco teve início nesta quarta-feira e ainda não foi concluído. Os assassinos Ronnie Lessa, acusado de ser o atirador, e Élcio Queiroz, acusado de ser o motorista, estão sendo julgados por um júri popular.

Ambos confessaram seus papéis no crime e a condenação vai chegar, ainda que tardia. Falta ainda julgar os mandantes, os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão (que tem foro privilegiado), além do delegado Rivaldo Barbosa, pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

*Autoridades, autores convidados e público na abertura do Flitabira, no Centro Cultural*

Cidade mais culta e feliz

Ainda exultante com a sua acachapante vitória eleitoral “com quase 80% (para ser exato, 76,13%) dos votos válidos na eleição de 6 de outubro, o prefeito reeleito Marco Antônio Lage (PSB) lembrou que a primeira edição do Flitabira foi também o primeiro grande acontecimento cultural de sua gestão, em 2021, realizado na forma híbrida (presencial e on line) devido à pandemia com a Covid-19.

“Eu assumi a prefeitura acreditando na força da cultura como um meio de reinventar a nossa cidade, que hoje está mais viva e feliz, depois de mais de oito décadas de mineração, e agora com as transformações que estamos vivendo. Temos tido a cada dois meses um grande festival de cultura em Itabira, o que muda a nossa realidade juntamente com a educação”, enfatizou o prefeito.

“Há um entusiasmo muito grande na cidade por tudo que está e o Flitabira é a nossa joia da coroa”, comparou o prefeito, acentuando o valor e a importância do festival literário no contexto municipal, que, segundo ele, precisa e vai se reinventar também na economia, ainda hoje extremamente dependente da mineração.

Patrocínio e coautoria

*Ao lado de Afonso Borges, idealizador do Flitabira, Wagner Tameirão, diretor do Memorial Vale, disse que o patrocínio da Vale é para a comunidade itabirana*

O diretor do Memorial Vale, Wagner Tameirão, acentuou que o festival literário é realizado para promover os escritores, lembrando que o patrocínio master do Instituto Cultural Vale ao Flitabira, que ele representou na abertura, é para a comunidade de Itabira, “berço da Vale”.

“Desde o início, há quatro anos, como cocriadores do festival, acentuamos esse propósito. A democratização do acesso à cultura é um dos nossos principais objetivos”, ele acentuou.

“O concurso de redação nas escolas é uma iniciativa maravilhosa, pois é escrevendo que se aprende e se tem o gosto pela leitura”, é o que disse acreditar o representante da mineradora Vale na abertura do 4º Flitabira.

*Exposição da economia criativa itabirana: artesanato, bijuterias e lembranças drummondianas (sem “d”, que é mudo na hora falar, senhores e senhoras da cultura itabirana)*

Infanto-juvenil

Foi também nessa vertente da democratização que da cultura que o sociólogo e escritor Sergio Abranches, curador da programação infantil do festival literário, salientando a importância do festival para Itabira, reforçou o convite aos pais e tutores para que tragam as crianças e adolescentes para participarem desse grande acontecimento literário em Itabira.

“Vamos ter aqui o melhor da literatura infantil com a presença de grandes autores para despertar ou ampliar a paixão pela leitura dessa moçada que no futuro vai cuidar de Itabira e do nosso país”, afirmou.

“Durante as manhãs e nas tardes vamos ter atividades intensas, fechando o festival no domingo com um grande sarau, peça de teatro, uma programação linda para todos”, convidou.

O também curador Leo Cunha, responsável pela programação infantojuvenil, que inclui atividades como contação de histórias, espetáculos circenses e de dança, além de palestras para pais e professores, ressaltou como um dos pontos altos do festival literário a entrega dos prêmios do concurso de redação nas escolas.

“O legado mais importante do festival é contribuir para formar pessoas que leem, escrevem e respeitam a literatura. É um negócio extraordinário, o melhor momento do festival”, antevê o escritor, tradutor e jornalista, autor de crônicas, poesia, literatura infanto-juvenil, cuja obra já recebeu diversos prêmios, dentre eles o Jabuti e o João de Barro, referindo-se à premiação do concurso literário.

Depois de agradecer Afonso Borges por ter incluído na programação do festival literário a homenagem à Maria Gregório Ventura, a Dona Tita, matriarca do quilombo Santo Antônio, em seu centenário, a curadora local Sandra Duarte, que visitou todas as escolas públicas de Itabira, mobilizando os estudantes e educadores para participarem do festival, garantiu.

“Vocês vão ficar surpresos com o resultado (das redações). Está maravilhoso, encantador”, adiantou a mestre em Teoria da Literatura, escritora e palestrante.

*Livraria do Flitabira: estande com livros dos autores presentes no festival literário deste ano*

Momentos mágicos

Afonso Borges, idealizador e curador do Flitabira, classificou como momento mágico o encontro de escritores com o público itabirano e visitantes que vieram a Itabira participar do festival.

“É esse encontro olho a olho dos autores com os leitores que vai nos salvar desse problema dos plásticos e vidros que contornam nossa vida, com todo mundo cada vez mais com o celular e a televisão que nos afastam cada vez mais desse encontro presencial”, disse Borges.

“É por meio da literatura, que é a forma de expressão mais completa de todas as artes, que virão as mudanças que estamos precisando nesse mundo”, opinou o jornalista e escritor, reforçando o convite para as pessoas participarem e interagirem com os autores presentes no festival.

Afonso Borges adiantou que o patrocínio do Instituto Cultural Vale para o festival em 2025 já está com recursos assegurados e depositados. “É uma coisa que deveria ser bem natural, para se ter planejamento e continuidade. Nem executamos o atual (festival) e o próximo já está garantido.”

Acompanhe

Nesta quinta-feira (31), data em que se celebra os 122 anos do nascimento de Carlos Drummond de Andrade, o convite é para acompanhar a programação repleta de poesias de autoria do filho mais ilustre de Itabira.

No teatro do centro cultural, os autores presentes, antes de participarem das mesas, irão ler um poema de Drummond. São eles: Conceição Evaristo, Ricardo Ramos Filho, Paloma Jorge Amado, Gustavo Grandinetti, Tino Freitas.

E mais: Leo Cunha, Tamara Klink, Pierre Ruprecht, Rogério Duarte, Morgana Kretzmann, Sérgio Abranches, Tom Farias, Bianca Santana e Itamar Vieira Junior, todos farão as suas homenagens reverenciando o poeta itabirano.

O Flitabira segue até domingo (3), no teatro da FCCDA, com entrada gratuita, graças ao patrocínio master do Instituto Cultural Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com o apoio da Prefeitura de Itabira.

Participe do festival, agende-se: Programação Flitabira