Itabira antirracista avança com ações de inclusão na diversidade e na luta contra o preconceito racial
Escultura de Zumbi ficou por muito tempo maneta, até ter a sua mão restaurada em respeito ao grande líder quilombola, homenageado nesta data
Foto: Carlos Cruz
O Brasil celebra nesta quarta-feira (20), pelo primeiro ano, o Dia Nacional da Consciência Negra, lembrando a morte de Zumbi dos Palmares
Agora o país tem para cultuar dois ícones da liberdade: Tiradentes, homem branco, mártir da Inconfidência Mineira e Zumbi, liderança negra que lutou e morreu pela libertação das pessoas escravizadas no Brasil.
Joaquim José da Silva Xavier foi perseguido pela coroa portuguesa, preso e condenado à forca, assassinado pelo Estado em 21 de abril de 1792, para depois ter o seu corpo esquartejado. Desde 21 de abril de 1965 o país reverencia Tiradentes como martír nacional.
Faltava reverenciar, com a mesma ênfase com feriado nacional, o líder quilombola Zumbi dos Palmares, herói na luta contra a escravidão, tornando-se um dos mais importantes líderes da resistência negra no país e na América do Sul.
Finalmente, com o Dia Nacional da Consciência Negra, o Brasil presta a sua homenagem a Zumbi dos Palmares. A data que o homenageia como um herói nacional foi instituída em 2003, que é para lembrar a história de resistência e da luta dos povos afrodescendentes no Brasil pela liberdade e pelos direitos civis.
Zumbi liderou o Quilombo dos Palmares, o maior do país, espaço de resistência contra a opressão dos latifundiários senhores de escravos e da dominação portuguesa sobre o Brasil-colonial. Foi pego em uma emboscada pelo capitão Furtado de Mendonça, na Serra da Barriga, em Alagoas, executado juntamente com 20 de seus guerreiros, após resistirem bravamente.
É assim que a data de hoje remete ao assassinato de Zumbi, em 20 de novembro de 1695, depois de ter sido traído por um de seus capitães, Antonio Soares.
É também o reconhecimento das lutas e da grande contribuição dos diferentes povos pretos que foram escravizados no país à formação economica, social e cultural do Brasil, com toda a sua diversidade que o torna diferente e único no mundo.
A homenagem com o Dia Nacional da Consciência Negra serve, portanto, para o país refletir sobre o racismo estrutural ainda vigente no Brasil.
“Para um negro a cor da pele é uma sombra muitas vezes mais forte que um soco. / Para um negro a cor da pele é uma faca que atinge muito mais em cheio o coração.” (Adão Ventura, poeta de Santo Antônio do Itambé, já falecido).
Integrantes do grupo de Bumba Meu Boi, da comunidade quilombola do Moinho Velho, município de Senhora do Porto, no I Fala Quilombo, realizado no ginásio poliesportivo do bairro Bela Vista, em dezembro de 2021 (Foto: Acervo Ocdoce/ Coletivo Altamente)
Inclusão e diversidade em Itabira
Em Itabira, cidade histórica colonizada por portugueses, assim como foi o Brasil, desde os primórdios da ocupação do seu território aurífero e mineral estão presentes diferentes etnias dos povos negros escravizados, raptados e trazidos à força de diferentes partes da África.
Em seu esforço de inclusão e de promoção de ações antirracistas, o município hoje integra o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), devendo dispor, em breve, de um Plano Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Plampir), proposta que está inserida no Plano de Metas da atual administração municipal.
Reestruturado desde 2021, o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial tem atuado com propostas antirracistas, criando-se um fundo específico para financiamento de ações inclusivas e contra o preconceito racial.
Itabira quilombola e antirracista
Ainda como parte dessa política pública, o prefeito Marco Antônio Lage (PSB), após ser aprvada pelo legislativo itabirano, sancionou lei que estipula reserva de vagas para pretos e pardos em concursos e processos seletivos no município.
Além disso, com supervisão e consultoria do jornalista e escritor Tom Farias, a Prefeitura está estruturando uma ampla plataforma denominada Itabira Quilombola e Antirracista, com o objetivo de fortalecer e consolidar essas ações.
O município espera ser reconhecido nacionalmente por essa iniciativa, além de ser conhecido como a cidade natal de Carlos Drummond de Andrade.
“Zumbi dos Palmares, que tombou há 329 anos, carrega na nossa memória o significado da história que hoje, os negros e negras itabiranos, têm do que se orgulhar, com a coragem de olhar para a frente em busca de melhores horizontes de vida e esperança”, diz o jornalista, escritor e ativista Tom Farias.
A diretora de Promoção da Igualdade Racial, ligada à Secretaria Municipal de Governo, Nyara Martins Crispim, avalia positivamente os avanços no município. “O propósito desta gestão é fortalecer de maneira consistente as políticas de promoção da igualdade racial em Itabira”, diz ela, que já conta com orçamento mais robusto para esse fim.
Centenário de dona Tita
Outra ação de reconhecimento do papel do povo negro na colonização e desenvolvimento de Itabira foi a instituição, em 2024, do Ano Municipal do Centenário de Maria Gregório Ventura, a dona Tita, líder comunitária do quilombo Morro de Santo Antônio.
A matriarca do quilombo foi também homenageada na quarta edição do Festival Literário Internacional de Itabira (4º Flitabira), realizado na Semana Drummondiana, entre os dias 31 de outubro e 3 de novembro.
Na ocasião, foi exibido o documentário Tita – 100 anos de luta e fé, destacando o seu papel de liderança na luta contra o racismo estrutural e a importância da sua contribuição para a preservação das tradições quilombolas.
Outra ação importante da Prefeitura foi no apoio das três edições do projeto Fala Quilombo, com inúmeras atividades reunindo comunidades negras e quilombolas da bacia do Rio Doce.
Foram realizadas oficinas, mesas redondas, exposição e troca de experiências entre essas comunidades, inclusive com detalhamento de pautas de reivindicações que foram apresentadas a instituições governamentais e não governamentais.
Neste ano, durante o festival, foi aberta a exposição de longa duração: Fala Quilombo: Uma palavra que tem história, com acesso gratuito no Museu de Itabira.
A exposição apresenta o pensamento de importantes pesquisadores e ativistas negros. Conta com objetos variados vindos de diversas comunidades, reportando hábitos e costumes históricos desses territórios ancestrais.
A mostra pode ser visitada no horário de 9h às 17h em dias úteis, e de 10h às 16h nos sábados, domingos e feriados.