Inteligência Artificial versus Inteligência Humana

Foto: Divulgação

Por José Carlos Stabel*

 

Posso falar um pouco sobre Inteligência Humana (IH) em meio a essa gritaria sobre Inteligência Artificial (IA)? A impressão que dá é de que a IH foi posta de lado, em férias, licença remunerada, aposentadoria, o que seja.

Para que IH se a IA está aí para resolver qualquer problema – apresentações, planejamentos, cartas de amor, press releases, currículos, briefings, o que for.

Rapidinho, não importa o mercado, o produto, o que seja. Faz o pedido aqui e – zás-trás – sai a resposta pronta.

Nem de longe cabe questionar a importância desse desenvolvimento tecnológico, sua imensa capacidade de acesso a milhares, milhões de arquivos para gerar textos rápidos coerentes a respeito de qualquer assunto.

Tudo na base do “pergunta que eu respondo”. Maravilha!

Minha sócia na Percepta, Claudia Bouman publicou recentemente (o texto está no blog da Percepta) excelente artigo a respeito de IA. Num determinado trecho ela lembra um dos riscos e suas consequências:

“A simplicidade de carregar algumas informações e receber em alguns minutos uma peça praticamente pronta é o canto da sereia – e aqui mora um dos maiores riscos à reputação: a perda de autenticidade”.

Uri Levine, criador do Waze e do Moovit, consagrados aplicativos de mobilidade urbana, incontestavelmente uma pessoa do ramo, numa entrevista recente publicada nas Páginas Amarelas de Veja lembra que o estardalhaço em torno da IA começou em janeiro de 2023, quando a tecnologia já existia há 8 anos e que seu uso é basicamente na produção de conteúdo.

Uma amiga assistiu outro dia à apresentação de um conhecido e bem-falante publicitário que se vangloriava de ter feito em poucos minutos a apresentação que estava fazendo para a deslumbrada audiência. Como se pouco importassem a inteligência, a pertinência, a originalidade, a autenticidade do que o distinto estava falando. Opinião da máquina, não dele.

Não sei quantos no auditório, além de minha amiga, se sentiram enganados.

Conhecendo como conheço os índios de minha tribo, sei muito bem a alegria com que podem ser recebidos por muitos dos nossos geniais publicitários, textos prontos sem erros de digitação, capazes de impressionar pessoas incautas.

Chega uma hora, no entanto, em que vem a cobrança. Uma hora em que um planejamento feito ligeirinho, com pouco suor, muita IA (ou AI, já que a maioria dos enigmáticos termos que usam é em inglês) vai deixar clara a falta que faz o encostar a barriga no balcão, uma coisa que poucos dos meninos vestidos de preto jamais fizeram.

Isso por serem incapazes de entender o valor de tirar a bunda da cadeira e ir para a rua ver como é a realidade; conversar com balconistas, saber como pensam os eletricistas, como os pintores decidem, de verdade, a marca de tinta que vão empregar, sem saber a importância que dão ou deixam de dar para tintas mais e menos sustentáveis, sendo que a maioria nem desconfie o que seja isso, sustentabilidade.

Muitas vezes, em minha atividade profissional, foi muito útil sair, como saí, com vendedores de clientes da agência para ver ao vivo e em cores quais as objeções que recebiam e como se saiam nessas terríveis batalhas.

Muitas vezes isso foi mais complicado, pois tive clientes cujo mercado estava, por exemplo, lá longe, no interior do Mato Grosso e foi de rara importância acompanhar o trabalho de campo desenvolvido, por exemplo, por agrônomos de um fabricante de defensivos agrícolas prestando serviço para agricultores. Nada disso é ligeirinho.

Mas que aprendizado! Quantas oportunidades descobertas! Quanta compreensão de uma realidade que não seria descoberta, compreendida, assimilada com respostas ligeirinhas geradas por uma máquina no gostoso de uma sala com ar-condicionado.

Nada, absolutamente, nada contra a Inteligência Artificial. Pelo contrário.

Mas a verdade é que está havendo exagero, com muita gente deslumbrada.

Claudia, em seu artigo, fala em curadoria das informações. Não sei se compreendi por inteiro o significado da expressão, mas acredito que posso ir um pouco adiante nesse conceito.

A Inteligência Artificial com incrível velocidade, traz à luz textos prontos, que economizaram talvez horas ou dias de pesquisas, mas que, apesar de prontos, têm que receber tratamento de IH para só depois disso serem textos realmente prontos.

Como sempre acontece, daqui a pouco a poeira baixa. Vão aparecer outras novidades para encher o tempo dos fazedores de gritarias.

Ficarão para os sobreviventes da histérica gritaria atual, todos os incontáveis benefícios do uso corrente, normal, equilibrado da Inteligência Artificial. Sem essa gritaria dos descobridores de novidades loucos para deixar a sua marca na história, mas nesta altura já perto da rouquidão de tanto berrarem “eu que descobri!”, “eu que vi primeiro!”

*José Carlos Stabel é especialista em reputação de marca e sócio da Percepta Reputação Empresarial. Jornalista e Publicitário, atuou em grandes agências de propaganda.

Foi também sócio da Lage, Stabel & Guerreiro BBDO, vice-presidente da Norton Publicidade, sócio fundador da Grey Direct no Brasil e sócio-diretor da B-to-B Marketing Communication.

https://www.linkedin.com/in/jose-carlos-stabel-7b278515/

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