Incêndios florestais voltam a ameaçar Itabira
O que era para ficar restrito a um pequeno foco de incêndio iniciado na segunda-feira (28), na serra do Esmeril, acima das Minas do Meio, da Vale, por pouco se transforma em um grande incêndio florestal. O fogo só foi debelado no dia seguinte à tarde, pelos brigadistas da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), contratada pela mineradora para combater incêndios florestais em suas áreas protegidas no Quadrilátero Ferrífero.
Enquanto o fogo não era combatido, as cinzas em suspensão encobriram a cidade, principalmente o bairro Pará, distante a poucos metros do foco do incêndio.
Com o ar rarefeito e a baixa umidade, a população sentiu o efeito do incêndio, com o agravo também em decorrência das partículas de poeira em suspensão, contribuindo ainda mais para a poluição do ar. As consequências são a afetação das vias áreas superiores, provocando rinite, sinusite, além de agravar o quadro de quem sofre com a asma.
Para debelar o incêndio, brigadistas contratados pela Vale, e também agentes da Central de Bombeiros, combateram as chamas com equipamentos como abafadores e caminhões auto-bomba. Mas demoraram para chegar e agir no foco do incêndio. Com isso, o fogo queimou por várias horas, causando estragos florestais e da vegetação atingida nos taludes da encosta.
A participação dos brigadistas da Amda no combate e controle de incêndios florestais em áreas protegidas pela Vale, segundo a assessoria de imprensa da empresa, é parte de um convênio com o Sindicato da Indústria Mineral (Sindiextra). “O convênio prevê a atuação dos brigadistas não só em áreas de reserva como as da empresa, mas em incêndios que ameaçam unidades de conservação do Estado ou áreas preservadas pelos municípios da região.”
A assessoria, porém, não explicou o motivo de os brigadistas demorarem a dar início ao combate do incêndio na encosta da Serra do Esmeril. Se tivesse ocorrido assim que o fogo teve início, não teria tido a proporção que ganhou, minimizando o impacto na qualidade do ar – e na área revegetada.
Causas
Esse tipo de incêndio invariavelmente é criminoso, seja ele doloso ou culposo. Tanto pode ter sido provocado por algum piromaníaco, personagem que prolifera nesta época de estiagem, como também pode ter sido ocasionado por um desavisado que lança um toco de cigarro no mato seco.
Ou ainda, pode advir de uma queimada sem controle em uma área de pastagem ou para o preparo do plantio, o que não foi o caso desse incêndio, mas é também comum de ocorrer.
Não importa a causa, ou interessa pouco. O fato é que essas ocorrências são recorrentes nesta época do ano. Torna-se, portanto, imprescindível manter permanentemente brigadistas treinados nas proximidades dessas áreas protegidas, prontos para agir de imediato, ainda no início do incêndio. Isso para que o fogo não ganhe proporções maiores. Infelizmente, novos focos de incêndios irão ocorrer ainda neste ano.
O Corpo de Bombeiros Militar precisa também agir rápido, no caso de o foco ter início em áreas protegidas pelo município. É o caso do Parque Natural Municipal do Intelecto, que sofre todos anos com incêndios florestais.
A Prefeitura já fez aceiros em seu entorno para evitar que o fogo venha da vizinhança. Mas é preciso manter a vigilância e planos de contingência, para que o combate de focos seja feito de imediato – e não depois de o fogo ganhar grandes proporções.
Unidades de conservação são patrimônios coletivos
A Vale dispõe em Itabira de cerca de 14 mil hectares de terra, entre áreas de minas e florestas protegidas. Daí que é imprescindível manter brigadistas permanentemente mobilizados no próprio município para proteger as suas unidades de conservação.
As unidades de conservação surgiram com a lei federal que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc). São 12 categorias, entre elas as Reservas Particular do Patrimônio Natural (RPPNs), que devem ter uso sustentável. São reservas particulares criadas com o objetivo de conservar e proteger a biodiversidade.
Do total de áreas protegidas pela mineradora, 743,6 hectares foram averbados como RPPN, no Itabiruçu e na Mata São José. A criação de uma reserva particular é uma iniciativa do proprietário em atendimento a um interesse público, que é a preservação permanente da área protegida.
Depois de averbadas em cartório, essas reservas não podem ter outra destinação que não seja a preservação ambiental. Passa a ser também obrigação do proprietário conservar a sua integridade física e a biodiversidade nela existente.
A mata de São José, por exemplo, antes de ser adquirida pela mineradora, teve a sua vegetação suprimida para produção de carvão. Tanto que no passado foi conhecida também como a mata do Julião Serrador.
São 522,4 hectares protegidos entre mata nativa e uma parte menor coberta por pínus e eucalipto, e que devem ser no futuro suprimidos, substituídos por espécies nativas.
Na reserva, a floresta nativa remanescente se encontra em fase adiantada de regeneração. A RPPN está localizada na margem direita da rodovia que liga Itabira aos distritos de Ipoema e Senhora do Carmo e ao município de Itambé. A região foi também conhecida no passado como vale do Onça.
Entre as espécies nativas , encontram-se madeiras de lei como o vinhático, peroba-rosa, jacarandá-da-bahia, braúna. Da avifauna se destacam espécies que só existem em locais com vegetação característica da Mata Atlântica, como a cigarra-bambu, o tié-preto, azulão, tico-tico rei, gavião-pombo.
Já no Itabiruçu, a empresa averbou 221,36 hectares como RPPN. O seu limite superior coincide com o divisor de águas entre as bacias dos rios Tanque e do Peixe, o que aumenta ainda mais a importância de sua preservação. Abaixo está a barragem homônima, que contém o rejeito da usina Conceição. Também no Itabiruçu, a Vale averbou 290,3 hectares como reserva legal.
“A sua vegetação é formada por floresta e matas ciliares em estágio avançado de regeneração, com cerca de 30 anos de preservação”, explica a bióloga Tudy Câmara, no livro Quadrilátero Ferrífero – Biodiversidade Protegida, publicado pela Vale, em 2014, com fotos do médico Roberto Murta.
Reserva legal
Além das duas RPPNs, a Vale possui em Itabira 3.031,69 hectares de florestas averbadas como reservas legais no Instituto Estadual de Florestas (IEF). Diferentemente das RPPNs, as reservas legais não são consideradas unidades de conservação.
Trata-se de uma imposição legal que determina a preservação mínima de 20% de remanescentes florestais de toda propriedade rural. Ou seja, a empresa mantém um pouco mais do que determina a lei, uma vez que dispõe de cerca de 14 mil hectares de terra em Itabira.
A reserva legal de Borrachudo é a maior em Itabira, com 1.053,17 hectares. Depois vem a reserva do Jirau com 946,44 hectares, seguida de Santana com 329,44 e mais a reserva de São José com 344,93 hectares, além da RPPN homônima. Na mata do Itabiruçu, uma faixa de 357,71 hectares é também reserva legal.
As duas RPPNs e mais as reservas legais formam um cinturão verde à noroeste da cidade com 3.775,45 hectares de áreas protegidas. São refúgios naturais para a fauna e a avifauna. Constituem bancos genéticos expressivos da flora regional. Daí a importância de sua proteção, uma preocupação que deve ser da Vale, mas também da sociedade itabirana.
Afinal, trata-se de um patrimônio natural de grande importância para o meio ambiente. Isso porque, com as mudanças climáticas e o aquecimento global, a preservação de florestas é uma das medidas que ganham dimensão especial. Ao realizar a fotossíntese, as plantas “seqüestram” o gás carbônico da atmosfera, o que contribui para reduzir o efeito estufa.