Fossas sépticas já não são suficientes em Serra dos Alves, que demanda sistema coletivo de tratamento de esgoto para proteger nascentes do rio Tanque

Fotos: Humberto Martins/
Divulgação

“Descrever os piores cenários ajuda educar as pessoas, reduzindo as probabilidades de alguns desses cenários se tornarem realidade”, recomenda José Eustáquio Diniz Alves, doutor em Demografia

Por Carlos Cruz

Para o engenheiro sanitarista Paulo Therezo, o emprego intensivo de fossas sépticas e sumidouros, individuais, muitas vezes subdimensionadas, sem limpeza periódica, ou construídas em terrenos com baixa capacidade de infiltração, já não atendem às necessidades de tratamento e disposição final de efluentes domésticos no povoado da Serra dos Alves, distrito de Senhora do Carmo, no município de Itabira.

De acordo com ele, os sistemas individuais de tratamento e disposição no solo, popularmente chamados de fossas sépticas, instalados há cerca de 15 anos pela Prefeitura, proporcionaram na época uma solução adequada de tratamento parcial e disposição no solo.

Paulo Therezo (à direita, camisa escura) há anos vem debatendo com os moradores os problemas preementes em Serra nos Alves. No registro, o debate aconteceu com a primeira edição do Cine Serra, em 24 e 25 de novembro de 2018, após exibições dos filmes Abuela Grillo, que trata da questão da água, e Saneamento Básico, do diretor Jorge Furtado (Foto: Divulgação)

Isso se deveu também ao fato de a maioria das casas, originalmente, situarem-se na parte mais alta da vila, em terrenos com boa capacidade de infiltração. E que se encontravam afastadas de cursos d’água.

Nessa época, o povoado ainda não ressentia da ocupação do solo desordenada, ainda sem o fluxo de turistas e de novos moradores, aqueles que o embaixador Antônio Camillo de Oliveira chamava de adventícios.

O senhor embaixador referia-se aos estrangeiros que chegavam a Itabira com o início da exploração do minério de ferro, sem se preocupar com o que ocorria na comunidade. É o que explica, nos tempos atuais, a falta do sentimento de pertencimento de muitos que ainda residem na cidade ainda de ferro.

Não que esse seja o caso dos novos moradores de Serra dos Alves, uma vez que a maioria está preocupada com o que acontece na bucólica vila, e assim a querem preservar.

Mas é preocupante o aumento do fluxo de turistas e de novas construções, tendência que deve aumentar. Daí que tudo isso precisa ser disciplinado e ordenado, tanto as visitas como também as ocupações e o fracionamento do frágil solo da localidade.

Diálogo necessário

Desejos e sonhos da comunidade foram apresentados nos debates da primeira mostra do CineSerra, que precisa ter continuidade

“Com a intensificação das visitas à vila e o consequente aumento do volume de esgoto parcialmente tratado e disposto no solo por meio dos sumidouros, chega-se a um ponto em que esse efluente infiltrado atinge a camada rochosa, escoando em direção dos cursos d’água que estão abaixo”, descreve Paulo Therezo, um dos primeiros adventícios a chegar e se instalar no povoado.

Juntamente com antigos e novos moradores que por lá estão fincando raízes, há tempo eles vêm propondo debate e diálogo entre comunidade e poderes públicos sobre essas prementes questões de saneamento básico e aumento do fluxo de turistas, que devem ser bem-recebidos e orientados para usufruírem em segurança das atrações naturais.

Até aqui ainda os moradores não foram ouvidos devidamente pelos poderes públicos, como já deveria ter acontecido desde muito tempo. A ETA, por exemplo, construída pela administração passada, e que está sem funcionalidade, não foi debatida e aprovada pela comunidade local.

Isso quando a prioridade deveria ser a construção de um moderno e eficiente sistema coletivo de tratamento dos efluentes gerados em toda a vila.

“Estamos vivendo uma situação extremamente grave e preocupante com essa ocupação desordenada em áreas de terrenos rochosos e próximos a cursos d’água”, alerta o engenheiro sanitarista..

A solução, segundo ele, e que precisa virar prioridade dos poderes públicos, é ter uma maior fiscalização dessa expansão urbana agressiva e sem controle, com normas que definam claramente as áreas com restrições de ocupação. E que o seu cumprimento seja fiscalizado e respeitado.

E junto a tudo isso, que seja estudada, concebida e construída, ainda nesta gestão, uma adequada solução de coleta, tratamento e disposição dos efluentes sanitários, por meio de processos naturais e sustentáveis – e que efetivamente garanta a preservação da qualidade dos cursos d’água, é o que reivindica Paulo Therezo, em nome da comunidade que tão bem o acolheu e com a qual tem convivido já há um bom tempo.

Localização da ETE

Para isso, outra preocupação é com a localização futura desse sistema de tratamento de esgoto. “Não pode ser instalada em área de preservação permanente (APP). Precisa ter um adequado afastamento dos cursos d’água, em terreno plano, não rochoso, em fundo de vale não inundável”, ele defende.

“Esse sistema de tratamento precisa ser centralizado, gerenciado e de responsabilidade do poder público”, acrescenta. Sem isso, Therezo vê com tristeza o risco de Serra dos Alves repetir o que aconteceu em Itambé do Mato Dentro, com a água do rio abaixo da cidade se tornando imprópria para o banho pela ineficiência do antigo sistema de tratamento de esgoto.

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