Fórum de Viena sem consolo

Veladimir Romano*

Economizaram nos dias, podiam ter economizado mais ainda no tempo e no investimento. O Fórum de Viena [19/24 de junho] versou sobre armamento nuclear, com a guerra decorrendo a menos de dois mil quilómetros, aumentando de nível com avanços e recuos, enquanto a comunidade internacional, preocupada com tamanha escalada, se apressou nesta cúpula da capital austríaca em recapitular acontecimentos do Japão já no final da Segunda Guerra. Hiroshima e Nagasaki são exemplos que este mundo não deve jamais esquecer.

Tratado sobre Proibição das Armas Nucleares [TPNW, da sigla inglesa], levou 80 países ao centro das Nações Unidas no país de Mozart. No entanto, a Agência Internacional da Energia Atômica [AIEA], que reúne as nações mais responsáveis com arsenais pesados de armas nucleares, não compareceu.

E dos 80 participantes do fórum, apenas 64 assinaram renovado compromisso contra fabricação, utilização, compra ou construção de armamento letal, inclusive os de baixo teor ou menos corrosivas fabricados pelos maiores industriais do mercado [9 países em 3 continentes].

Tendo um conflito complicado perto da porta, não sabendo o dia futuro, a ONU [entretanto, ficou agendado outro fórum sobre ciência nuclear para setembro], ao aproveitar de várias comemorações internacionais em memória dos acontecidos eventos de muito má recordação mundial, convidou testemunhas e ex-vítimas das localidades japonesas mais sofredoras e conhecedoras do assunto, expondo suas cicatrizes, experiência e traumas dessa orgia bélica, quando a Segunda Guerra Mundial se arrastou também pela Ásia.

Da urgência com qual a cúpula foi organizada, se entende que a guerra, acontecendo na Ucrânia, o confronto do Irã piorando a situação, depois que o ex-presidente Donald Trump impôs bloqueios e abandono aos acordos anteriores assumidos pelos EUA e a União Europeia, temos os conflitos no Caxemira entre duas nações nucleares como a Índia e o Paquistão discutindo velhos territórios. Tudo isso fica assustador a um mundo já bastante perturbado, incerto e desequilibrado.

O anúncio do deslocamento de ogivas nucleares da Rússia para a fronteira bielorrussa com Ucrânia levantou igualmente grande incómodo no centro decisivo desta Aliança Atlântica (OTAN), ameaçando a soberania russa.

Não deixa de acrescentar mais combustível em toda uma ocasião envenenada com interferência do fornecimento de armas agressivas de médio e longo alcance que pouco ou mesmo nada ajudam ao término do conflito ucraniano…

E, sendo assim, de muito menos serviu o fórum numa Viena nada consolada com evento de alto gabarito, onde apenas se gastou dinheiro que fica faltando nos sistemas de saúde, bloqueados e desgastados pela pandemia.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.

 

 

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